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Homenageada do Cine PE, Laura Cardoso detona jovens atores

30.abr.2014-A atriz Laura Cardoso, durante homenagem que recebeu no festival Cine PE - Carlos Minuano/UOL
30.abr.2014-A atriz Laura Cardoso, durante homenagem que recebeu no festival Cine PE Imagem: Carlos Minuano/UOL

Carlos Minuano

Do UOL, em Olinda

30/04/2014 12h48

A maior parte de seus 86 anos, a atriz Laura Cardoso passou encenando. No total já são 72 anos de uma carreira marcada por sucessos na TV, no teatro e no cinema. A receita de tanta vitalidade, afirma em entrevista ao UOL, "é o amor".

A atriz, que já passou também pelo rádio e pelo circo, é umas das homenageadas da 18° edição do Cine PE, que acontece até sexta, 2 de maio, no Teatro Guararapes, em Olinda (PE). “O segredo é amar o que você faz, com seriedade e dedicação. Aí não tem fim, vai até Deus querer.”

Laura Cardoso, que é considerada uma das maiores atrizes do país, também é famosa no meio artístico por seu jeito carinhoso e alegre. Entretanto, recentemente, ela ganhou destaque na mídia ao dar alfinetadas na nova geração de atores, dizendo que eles não querem saber de estudar.

“Se preocupam mais com a imagem do que com o intelecto, não sabem nem ler direito”, dispara a atriz. “Para eles, é mais importante você ser bonito, ser magro, ter olho azul, e o ator não precisa de nada disso. O verdadeiro ator é um escultor, que esculpe, faz seus personagens", dispara a atriz veterana. "Em meus papéis, seja para um personagem mais velho ou mais jovem, nunca precisei ser bonita”. 

Ela se diz irritada com a turma emergente que não lê. Questionada se conhece muitos atores como Caio Castro, que afirmou recentemente não gostar de livros nem de teatro, ela ri, diz que há alguns e arremata: “Sinto, ao mesmo tempo, raiva e pena”. Para ela, atores que não estudam duram pouco.

Aos principiantes da nobre arte da interpretação ela dá a dica: “Se dediquem mais, não ao quesito físico, à beleza, mas à cabeça, ao íntimo, não importa se é gordo ou magro, alto ou baixo, o ator é tudo”.

“A TV perdeu muito de sua qualidade”

O estilo doce e meigo não impede Laura Cardoso de mandar bordoadas também na TV, segmento onde ela trabalha desde 1950. “A TV perdeu muito de sua qualidade, em todos os sentidos, se preocupa muito com o comercial, com a imagem e o dinheiro.”

Para ela, televisão precisa ter um critério maior de qualidade. “Tem muita coisa ruim que só ocupa espaço, o que se salva em geral são os telejornais e alguns documentários.”

Em relação ao teatro, Laura destaca que não é algo simples, para qualquer ator. “No palco, o ator tem que ser firme, tem que saber representar. Se não souber, não fica. E, se ficar, vai sair logo.” E o cinema, na opinião da atriz --que participou de filmes como "Corisco, o Diabo Loiro" (1969), "Quincas Borba" (1987) e, recentemente, das comédias "Casa da Mãe Joana" (2008) e "Muita Calma Nessa Hora" (2010)-- “é uma arte dificílima, para pessoas inteligentes”.

Ela ainda aproveita o gancho para lamentar a falta de atenção com outras artes, como o circo. “É uma arte milenar que deveria ser mais observada, mais ajudada.”

Depois da participação na novela das seis, “Flor do Caribe” (TV Globo), Laura Cardoso dedica-se ao teatro. Ela está em cartaz em São Paulo desde janeiro com a peça “A Última Sessão”, com Etty Fraser, Nivea Maria, Sonia Guedes e outros, no teatro Frei Caneca.

Segundo Laura, a peça trata do amor e da sexualidade entre setentões. “Temos o conceito errado de que, quando a pessoa faz 70 anos, tem que parar com tudo. A peça passa essa mensagem. Enquanto você tiver vida, vá viver. Pode amar, pode fazer sexo e o que mais quiser”, afirma.

Homenagem no Cine PE

A homenagem à atriz Laura Cardoso aconteceu na noite desta terça, 29, no teatro Guararapes, em Olinda (PE), após a premiação de curtas e documentários da edição deste ano do Cine PE. Apesar do público reduzido na cerimônia –cerca de 300 pessoas– os aplausos foram calorosos. A atriz dedicou o troféu ao colega José Wilker (morto no início de abril) e ao cineasta Glauber Rocha (1939-1981). Ambos serão homenageados no encerramento do festival, nesta sexta-fera, dia 2.

Emocionada, ela agradeceu ao público. “Meu coração está trasbordando de agradecimento e de alegria, apesar de estar faltando muita gente”. Laura aproveitou para lembrar o documentarista Eduardo Coutinho (também morto em fevereiro deste ano). E disse se arrepender por não ter participado do documentário “Jogo de Cena” (2007), em que atrizes interpretam histórias de mulheres entrevistadas pelo cineasta. “Ele me convidou, mas por vários motivos não fiz o filme”, lamentou.