Topo

De Disney a Chaplin, clássicos são exibidos com legendas na web

Charles Chaplin em cena do filme clássico ""Tempos Modernos"" - AP
Charles Chaplin em cena do filme clássico ''Tempos Modernos'' Imagem: AP

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

27/06/2014 11h35

Foi-se o tempo em que clássicos da era de ouro do cinema mofavam escondidos em rolos e latas. Com 70 anos ou mais, filmes mudos, em preto e branco e exemplos pioneiros da animação ou da ficção científica podem estar na terceira idade, mas agora estão em cartaz por tempo indeterminado na internet, muitas vezes com boa qualidade e até legendas em português.

Do clássico vencedor do Oscar “E o Vento Levou” a projetos mais experimentais, como as primeiras filmagens dos irmãos Lumière ou o surrealismo de Luís Buñuel, passando pelos filmes obrigatórios para entender a história do cinema, como “O Encouraçado Potemkin”, de Sergei Eisenstein; “A General”, de Buster Keaton, e “Luzes da cidade”, de Charles Chaplin, a terceira idade do cinema está sob domínio público e pode ser assistida online por meio de plataformas de vídeos e blogs dedicados à causa.

Com apenas 25 anos, Lucas Bombonatti é um desses benfeitores do cinema de domínio público, os filmes que, por lei, perderam os direitos autorais. Ele deixou de lado a engenharia e até mesmo os longas do diretor Quentin Tarantino --dos quais era fã-- quando assistiu, pela primeira vez, às produções de Charlie Chaplin.

“O cinema de antigamente era feito com mais amor, com mais paixão. É muito pensamento, não é uma simples piada. Você percebe que é algo muito trabalhado”, observa.
 

Após assistir aos filmes de Charlie Chaplin, Lucas Bombonatti criou o "Cinema Libre" - Reprodução - Reprodução
Após assistir aos filmes de Charlie Chaplin, Lucas Bombonatti criou o "Cinema Libre"
Imagem: Reprodução

Além de ter planos de cursar cinema, ele dedica o seu tempo ao site “Cinema Libre”, que criou no início do ano e onde reúne filmes que já estão espalhados pela web. “A pirataria hoje em dia é muito difundida. Acho que faltava um lugar para encontrar esses filmes de maneira organizada e sob a legislação”.

Lucas passa os dias pesquisando se os filmes se enquadram na lei brasileira de domínio público --quando os direitos autorais expiram após 70 anos do lançamento. “A parte da legenda toma a maior parte do tempo, mas garantir que esse filme esteja realmente sob domínio público leva um tempo também. Se o filme é uma restauração, dá para identificar o órgão responsável pela versão. Entro em contato para saber se realmente não tem direitos autorais, mesmo com a nova versão”, explica.

Com a peneira, o francês “A Nós a Liberdade”, de 1931, filme que inspirou Chaplin a fazer “Tempos Modernos” (1936), ficou de fora do blog, por sua versão restaurada impedir que a produção entre em domínio público.



Em compensação, as primeiras animações da Disney, lançadas entre 1937 e 1942 --como “Branca de Neve e os Sete Anões”, “Pinóquio”, “Fantasia”, “Dumbo” e “Bambi”--, podem ser vistas gratuitamente, algo que nem os americanos têm permissão para fazer.

Atualmente, o prazo de proteção do "copyright" nos Estados Unidos é de 95 anos, graças ao lobby dos estúdios Disney em cima da lei do domínio público, conhecida por lá como “Lei Mickey Mouse”. “Nunca tive problemas de precisar tirar um filme do ar. Eu sigo a lei brasileira”, explica Lucas.

Com mais de 300 filmes listados no site, o cinéfilo agora quer aumentar a coleção virtual para 1.001 pérolas de um cinema clássico, mas um tanto esquecido. Para tal, ele se inscreveu o site no Catarse, uma das principais plataformas de crowndfunding, para financiar o projeto. “Será uma expansão, com player próprio e uma espécie de rede social. Dedico meu dia a isso. Gosto de ver o antigo”, diz.