Com a volta de festival, Paulínia quer ter novos filmes rodados na cidade
Orçado em R$ 3,5 milhões de dinheiro público --fora recursos da iniciativa privada--, o Festival de Cinema de Paulínia poderia ser recebido com receio e desconfiança, após ter passado dois anos suspenso. Sua retomada, no entanto, provou o contrário. O festival ganhou clima internacional, e o tapete vermelho do Theatro Municipal da cidade recebeu estrelas de outros países e bons filmes, todos de olho nos prêmios --os maiores entre os de todos os eventos cinematográficos do calendário nacional, com R$ 800 mil no total.
Produtores sentiram falta dessa janela durante o hiato, que teve início em 2011, quando o então prefeito José Pavan Junior anunciou o cancelamento do festival de cinema realizado na cidade, que iria para sua quinta edição, alegando que direcionaria a verba para programas sociais.
O projeto de transformar Paulínia na Hollywood brasileira, usando os royalties do petróleo, foi criado pelo ex-prefeito, Edson Moura (PMDB), que governou a cidade em dois mandatos, de 2001 a 2008. Nas eleições de 2012, Moura teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa --ele disputava a eleição por força de uma liminar a seu favor, mas já havia sido condenado duas vezes pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por improbidade administrativa.
Seu filho, Edson Moura Júnior (PMDB), no entanto, o substituiu na candidatura horas antes da votação e foi eleito prefeito da cidade. No posto, Júnior regulamentou a lei de fomento e incentivo por um decreto e criou o Fundo Municipal de Cultura (FMC), fomentado pelo Imposto Sobre Serviço (ISS), para garantir que o polo cinematográfico e o festival voltassem para valer.
Leis, no entanto, podem ser mudadas, mas a secretária de Cultura da cidade, Mônica Trigo, confia: "Quem garante o polo é a sociedade, e havendo um conselho municipal, com controle social, a cidade mantém por si só [o polo e o festival]. Ela se reconhece no processo e se posiciona", explicou à reportagem do UOL.
TV paga
A Secretaria de Cultura da cidade também está de olho na Lei da TV Paga, que exige exibição de conteúdo brasileiro em canais por assinatura. Quando o tapete vermelho for enrolado, nesta segunda-feira (28), o pólo vai receber as gravações de um novo seriado do canal Fox.
Dois estúdios já estão com cenários montados. "No caso do Fox, é a cessão de uso desses estúdios com valor de 10% do preço de marcado. Em contrapartida, eles precisam contratar mão de obra local, empresas e serviços para aquecer a economia."
A cidade, que ajudou a gravar filmes como "Salve Geral", "Chico Xavier", "Bruna Surfistinha" e "O Menino da Porteira", quer ver novas produções rodados na cidade ainda no fim do ano.
"O Festival tem que acontecer, é um espaço de exibição, de troca, mas temos que fomentar todas as questões para que ele exista como política permanente nas outras atividades. Um polo cinematográfico tem que ter filmes e conteúdo audiovisual acontecendo."
Formação e pouca divulgação
A escola de animações com a técnica stop-motion, bastante elogiada, voltou a funcionar em Paulínia em julho passado e recebe crianças 5 a 16 anos, para aulas lúdicas. Eles saem do curso após terem feito filmes de um minuto. Uma curadoria especial selecionou os melhores trabalhos para serem exibidos no Festivalzinho, programa matutino para crianças da rede educacional da região. Com salas lotadas, como não acontece em outras sessões. Com entrada gratuita, apenas a programação do fim de semana lotou a sala do Theatro Municipal, com exceção do filme "Boa Sorte", impulsionado pela presença de Deborah Secco.
Os moradores de Paulínia ouvidos pela reportagem divergem nas opiniões. Tem quem reclame do investimento para o projeto e até quem não sabia que o festival estava acontecendo. "Eu acho interessante a parte cultural, o divertimento. Mas tem algumas pessoas que não se interessam", contou a técnica em enfermagem Maria Edna, 46 anos, que levou o filho e a neta para assistir a "As Férias do Pequeno Nicolau", filme infantil francês que fez parte da mostra "Imovision, 25 anos", em homenagem à distribuidora, na tarde chuvosa da última quinta-feira (24).
Ela conta que ficou sabendo da programação em um jornalzinho que circula nos estabelecimentos comerciais da cidade."Eu frequento quase todo ano e senti falta quando o festival parou", disse. Trigo afirma que houve uma divulgação "diferenciada" nesta edição. "Nós fizemos um pente fino, uma série flyers em um bairro muito populoso, São José, que tem uma feira muito popular", rebate.
Para o ano que vem, além de ampliar a divulgação, ela promete um festival cada vez mais amplo. "Vamos ajustar esse festival. Talvez para mais dias, retomando a competitiva dos curtas regionais", explica.
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