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Ator de "Game of Thrones" redescobre a infância em "O Menino no Espelho"

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

07/08/2014 09h37

Quem vê Lino Facioli no papel do herdeiro nobre Robin Arryn na série “Game of Thrones”, nem imagina que esse ator de 14 anos seja brasileiro -- não apenas na nacionalidade. Com desenvoltura e muito carisma, o ator embarca na aventura infantil escrita por Fernando Sabino, “O Menino no Espelho”, adaptação para o cinema que estreia nesta quinta-feira (7). Sem afetação, sem sotaque. Do outro lado do telefone, ele parece ficar feliz com o comentário: “Não dá para perceber que sou gringo?”

Embora possa faltar repertório – Lino mora em Londres desde seus quatro anos --, ele entrega, com nuances, uma típica criança brasileira, Fernando, que vive todas as fantasias de sua infância a partir do duplo, que encontra no espelho, na Belo Horizonte de 1930.

Além de se aproximar da própria cultura brasileira, Lino conta que reencontrou uma parte da infância que lhe faltava. Algo mais valioso que o duplo no espelho. “Quando eu li o livro, depois de filmar, me identifiquei muito com o Fernando. Durante as filmagens, eu brincava muito, essa coisa de poder brincar na rua, sendo uma cidade menor, como Cataguases (MG). Tinha um trem que passava no meio da cidade, essa coisa mais bucólica. Era uma oportunidade de brincar na rua, que naquela idade, em Londres, eu não podia fazer muito”, revela, ao UOL.

Na época com 12 anos, Lino havia acabado de participar da primeira temporada de "Game of Thrones", onde seu personagem, que reaparece nas temporadas mais recentes, é uma criança cercada por adultos, sem espaço para viver sua infância. "O Lino me agradou muito", relembra o diretor Guilherme Fiúza Zenha. "Foram 4,3 mil crianças entrevistadas e ele foi muito carismático. Ele é magrelo, bonito, como eu imaginava para o personagem. Ele é instigado, toda hora estava brincando".

A obra do escritor Fernando Sabino também abriu as portas da literatura brasileira para o garoto. "Eu já tinha ouvido falar do Fernando Sabino, estava curioso para ler o livro antes das filmagens, mas foi uma recomendação da equipe e do Gui para não ler e não me deixar influenciar. De brasileiro, na verdade, eu acabo não tendo muito contato na Inglaterra. É mais fácil ler livros em inglês. Mas o meu livro favorito brasileiro agora é 'O Menino no Espelho'", conta.

Na fila de livros para ler, incluiu 'A Inglesa Deslumbrada', sobre as aventuras de Sabino na Inglaterra. Está esperando apenas terminar a trilogia "Fundação", de Isaac Asimov. "Seria bem bacana fazer o filme desse livro", ele imagina. "Naves especiais, é uma trama complexa". 

Em busca do cinema infantil

“O Menino no Espelho” chega às telas em 11 salas no Rio de Janeiro, São Paulo e Ribeirão Preto – cidade natal de Lino. Em Belo Horizonte, o longa já estreou e fez média semanal de 1,5 mil por sala. Embora falte emoção no clímax final, a produção é um respiro no meio de tantos lançamentos de animação, produções tridimensionais e franquias.

“Não temos essa cultura de fazer filmes infantis. Acho que existe medo dos distribuidores em encarar um mercado complicado. Afinal, você tem que enfrentar a Disney, a Dreamworks, e não existem políticas concretas para isso”, observa o cineasta Zenha.

A vontade de falar com esse público surgiu após o coletivo “5 Frações de uma quase história”, com curtas histórias violentas. “Senti falta de um cinema que dialoga com a gente. Veio na cabeça a obra do Sabino, Pensei que dava para fazer. Lembro que quando li eu estava mais para o comunismo do que para o lado infantil”, ri.

As pinceladas políticas, sutis, aparecem no filme. No papel do vilão, o ator Ricardo Blat é o líder do ‘Camisas Verdes’, grupo de rebeldes contra o governo. “Era importante dar uma tinta mais pesada no vilão. Tentei fazer um filme que eu gostasse e que a criança gostasse também. Senão parece que criança não pode estar inserida no contexto histórico”. Os cinéfilos de plantão também serão brindados com a atriz Laura Neiva, em uma cena em que imita Marlene Dietrich em “A Dama Azul”. “É a descoberta de um amor. É um filme sobre o fim da infância”, explica Zenha.

Entre os sets brasileiros e internacionais, Lino afirma que quer trabalhar onde o convidarem. Na comparação, faz uma espécie de análise do mercado. “Eu acho que aqui tem pouca gente para uma coisa muito grande, quanto lá é muito mais gente para algo tão grande quanto ou menor. Acho que aqui as pessoas tem que se virar muito mais. A indústria da TV e do Cinema não está tão estabelecida quanto lá, você tem que ser um pouco mais versátil”.