"As Tartarugas Ninja" voltam em aventura juvenil sem o menor sentido
Na melhor cena do novo "As Tartarugas Ninja", os quatro heróis estão em um elevador. Não estão lutando com ninguém, espadas e adagas não estão em choque. Leonardo, Donatello, Michelangelo e Raphael improvisam um beatbox, um rap bem malaco, que mostra a natureza adolescente e festeira por trás da fachada de guerreiros ninja.
É quando o filme de Jonathan Liebesman melhor equilibra humor com o absurdo do conceito dos personagens criados há três décadas por Kevin Eastman e Peter Laird. Pena que o resto da brincadeira seja genérico e sem personalidade, uma rasteira em quem apostava na nostalgia de reencontrar seus heróis de infância/adolescência executados com a tecnologia do cinemão moderno.
É claro que US$ 65 milhões registrados em apenas três dias de exibição nos Estados Unidos provam que, nostalgia à parte, ainda existe uma imensa fatia do público --velho e novo-- disposta a encarar os heróis cascudos no cinema. É um fenômeno que espelha o primeiro filme dos personagens, que em 1990 faturou US$ 200 milhões (em um orçamento de US$ 14 milhões) e provou a força do conceito.
Trailer dublado de "As Tartarugas Ninja"
Ajuda o fato de "As Tartarugas Ninja" estar na TV toda semana em uma animação de sucesso. Apesar de ser uma bagunça, a aventura também é movimentada o bastante para não se entregar ao tédio. É filme fast food para a geração plugada, é pizza em fatia que sacia a larica mas nunca aguça o paladar. Não ofende e não é memorável. A molecada, claro, adora.
A trama não desvia tanto das histórias originais dos quadrinhos, que deram origem à animação dos anos 80 e à primeira geração dos filmes para cinema. As quatro tartarugas são resultado de manipulação genética, crescimento acelerado quando expostas a uma substância misteriosa. Eles são treinados na arte do ninjitso pela ratazana Splinter, outro bicho mutante, e vivem nos esgotos de Nova York, protegendo a cidade nas sombras.
Quem primeiro os descobre é a repórter April O'Neil (Megan Fox), que investiga as atividades criminosas do Clã do Pé. Por uma incrível coincidência que só o roteiro do novo filme poderia gerar, todos estão conectados: April, as Tartarugas e o grande vilão do filme, o empresário Eric Sacks (William Fichtner).
A essa altura, claro, nada mais faz sentido. A trama do filme foi reescrita durante a produção: primeiro, Sacks seria o vilão Destruidor; depois ele trabalharia com o Destruidor, que seria seu sensei no Japão. A essa altura qualquer fiapo de lógica já foi pelo espaço, deixando que a pirotecnia compense a falta (ou o excesso) de ideias.
Mas Liebesman, responsável pelo desastroso "Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles", e pela continuação de "Fúria de Titãs", não consegue orquestrar uma cena de ação decente. A mais longa, uma fuga pela neve no topo de caminhões desgovernados, ignora qualquer conceito de geografia e é uma maçaroca visual. O final tem torres despencando e tomadas vertiginosas --exatamente como vimos em "O Espetacular Homem-Aranha" ou no recente "Planeta dos Macacos: O Confronto". Imaginação, zero.
O que realmente diverte e não deixa a peteca cair em "As Tartarugas Ninja" são justamente os personagens-título. Visualmente, eles impressionam. Ao contrário dos filmes anteriores, em que atores vestiam roupas com máscaras animatrônicas completando o truque, agora eles são criações 100% digitais, realizadas com trajes de captura de performance.
Existe o cuidado em conferir a cada um visual tão distinto quanto sua personalidade: Leo é o ninja "tradicional"; Raphael, o rebelde bombadão; Don é o nerd cheio de gadgets; Michelangelo o surfista/skatista/brother, destinado a ser o favorito de qualquer pré-adolescentes com menos de 12 anos de idade. Funcionou, e em 2016 as Tartarugas Ninja voltam ao cinema com a promessa de encarar vilões tradicionais de suas aventuras mais populares, como o alien Krang, os mutantes Bebop e Rocksteady e o vigilante Casey Jones. Nostalgia? Não, é para as crianças.
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