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"Me preocupa o ódio inter-racial", diz Caco Ciocler em estreia como diretor

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

22/08/2014 08h00

A estreia do ator Caco Ciocler na direção de um filme coincide com um momento delicado para a história com o intenso conflito entre judeus e palestinos na faixa de Gaza. Enquanto uma guerra continua do lado de lá, ele promove aqui seu documentário sobre Aracy de Carvalho Guimarães Rosa. "Esse Viver Ninguém Me Tira" fala da brasileira casada com o escritor Guimarães Rosa, que facilitou a entrada de muitos judeus no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.

Para Ciocler, seu filme não ajuda diretamente na questão, mas pode devolver humanidade em relação ao ódio inter-racial que se estabeleceu inclusive no Brasil. "Eu me sinto incapaz de fazer qualquer julgamento sobre o conflito porque não sei o que é estar lá. O que mais me preocupa é esse ódio inter-racial, e acho que o filme pode ajudar nisso porque tem um legado humanitário que pode contribuir nesse momento de ódio".

Nascida no Paraná, em 1908, Aracy se mudou para a Alemanha, em 1934, com o filho Eduardo, de apenas cinco anos de idade. Por um acaso, ela começou a trabalhar como chefe de passaportes em Hamburgo, onde conheceu o cônsul adjunto Guimarães Rosa. Desobedecendo as ordens do governo nazista e correndo risco de morte, ela concedeu dezenas de vistos de permanência no Brasil a judeus.

Para desvendar o que motivou a brasileira a correr tanto risco, Ciocler entrevista descendentes de judeus salvos por Aracy. No filme, o diretor, que também é judeu, ainda faz descobertas sobre conexões entre Aracy e sua família. Além de contar o período em que Aracy ficou na Alemanha, o filme mostra que ela lutou também contra a ditadura militar no Brasil. De volta ao país de origem durante o regime militar, Aracy e Guimarães Rosa abrigaram o músico Geraldo Vandré, perseguido pela ditadura.  

O longa, que foi exibido no Festival de Gramado 2014, deixa uma mensagem clara de que Aracy ajudaria qualquer povo que estivesse na mesma situação. Mesmo assim, a questão dos judeus salvos é forte no documentário. "Depois da sessão [em Gramado], um amigo me abraçou e disse que eu sou corajoso de me expor como judeu nesse momento. Eu me dei conta disso somente ontem".

O novo cineasta contou ainda que gostou de trabalhar como diretor e não quer parar por aí.  "O que me interessa é o exercício de dirigir. Esse foi meu primeiro trabalho. Agora quero desenvolver um caminho".