Pernambucano leva experiência real em canavial para a tela de cinema
O pernambucano Edilson Silva teve infância e adolescência bem parecida com a de muitos brasileiros. Aos 10, já fazia bicos em feiras livres para ajudar no orçamento da família, aos 15 já trabalhava diariamente como empacotador de supermercado. No período mais difícil, cortou cana, experiência que jurou nunca mais repetir. "Foram dias que pareceram anos. Fiquei com calos nas mãos, me cortei com o facão. Quando eu era criança, tirava onda dos cortadores. Dizia: 'tá indo pra praia?' Quando eu fui àquela 'praia', nunca mais disse isso", contou ao UOL.
A experiência, no entanto, se repetiu, mas na ficção. Edilson vive um cortador de cana no longa pernambucano "Brasil S/A", de Marcelo Pedroso, que teve sua estreia nesta quinta-feira (18), no Festival de Brasília. Natural de Condado, a 58 km de Recife, Edilson diz que nunca imaginou ser ator, queria ser jogador de futebol, mas a paixão pelo maracatu rural, com seus típicos caboclos de lança, fez com que ele se aproximasse das artes.
Antes de começar a brincar, como dizem os maracatuzeiros, ele já bordava os grandes figurinos. Com o grupo Estrela de Ouro viajou pelo Brasil e foi tema do curta "Kaosnavial", dirigido por Pedroso e Afonso Oliveira e com participação de Jorge Mautner. No curta, Edilson aparece bordando um dos figurinos, o que foi suficiente para chamar a atenção de Pedroso.
Quando foi convidado para protagonizar "Brasil S/A", Edilson procurava emprego fixo em fábricas de automóveis e nas usinas de cana-de-açúcar da região, mas as tentativas não deram certo. "Quando Deus tem um propósito para você, você não consegue mudar". Hoje ele acredita que o convite foi obra do destino, mas quando o recebeu ficou com receio de não se sair bem. Aceitou o trabalho quando o diretor lhe contou que o personagem levaria seu nome e ganharia a vida cortando cana. "Eu me identifiquei com ele, claro. É um homem que cortou cana a vida toda e que, de repente, se vê ameaçado pela chegada nas máquinas no canavial".
Terceiro longa de Pedroso, "Brasil S/A" não tem falas, mas se utiliza bastante das expressões do protagonista. Foram duas semanas de preparação pesada, com exercícios físicos para que o tímido estreante pudesse se soltar em cena. Em uma das delas, Edilson faz uma espécie de balé com um facão nas mãos no meio do canavial. Para ele, essa foi a cena mais difícil. "Uma coisa é cortar cana com brutalidade, com o sangue quente. Outra é fazer esse movimento de corte delicado".
Primeira vez numa sala de cinema
Nesta semana, além de estrear em um longa-metragem, Edilson também ficou frente a frente a uma tela de cinema pela primeira vez, nesta quarta (17), quando chegou ao Festival de Brasília. Aos 29 anos, o primeiro filme que viu foi o curta "Loja de Répteis", do também pernambucano Pedro Severien.
No dia seguinte, pôde conferir sua performance. "Quando meu filme começou, não sei explicar o que senti, um frio na barriga". Quando a projeção acabou, ele continuou sentado, meio anestesiado, contou. "Gostei muito, mas no começo foi meio estranho, não me reconheci. Até porque eu sou muito mais sorridente que o personagem".
Edilson ainda contou que pretende levar o plano de exibir "Brasil S/A" na praça de Condado para que sua mulher, mãe e filha de oito anos também possam conferir o resultado do trabalho. "A maioria das pessoas na minha cidade nunca nem viu cinema. O mais próximo fica em Recife, a umas duas horas e meia de carro".
Pouco antes da exibição de sua estreia em Brasília, Edilson tinha decidido que, caso não gostasse do resultado, daria um jeito de não seguir em frente na profissão. "Mas eu gostei do que vi, sim. Quero continuar sendo ator". Sorte de Tiago Melo, diretor que no momento filma "Azougue", seu primeiro longa, que já tem Edilson Silva no elenco. "Voltarei para Pernambuco hoje (20) para retomar as filmagens". Nesse filme, ele viver um músico de maracatu que também trabalhar como taxista. Seu novo personagens tem falas e ele diz que está se saindo bem com a novidade.
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