Topo

Curta "O Velho do Restelo" traz Manoel de Oliveira em tom de despedida

Guilherme Solari

Do UOL, em São Paulo

24/10/2014 14h53

A vida de Manoel de Oliveira se confunde com a do próprio cinema. O diretor português começou a fazer filmes em 1927 e continuou trabalhando até os dias de hoje, com sua produção apenas se intensificando nas últimas décadas. Prestes a fazer 106 anos, ele é hoje o cineasta mais velho ainda em atividade e sua mais recente obra chega nesta sexta a São Paulo na Mostra Internacional de Cinema com projeções antes do documentário "Alentejo, Alentejo".

O curta "O Velho do Restelo" se baseia no famoso episódio de "Os Lusíadas" de Camões, quando um ancião critica a ambição e busca de aventura dos portugueses, mostrando um curioso encontro em um jardim de Quixote, Camões e os escritores Teixeira de Pascoaes e Camilo Castelo Branco. Nos diálogos, a produção de 19 minutos aborda a "vã cobiça" do povo lusitano e questiona suas vitórias. O curta também reúne imagens de filmes anteriores do diretor, como "Amor de Perdição" (1979), "Non, ou A Vã Glória de Mandar" (1990), "O Dia do Desespero" (1992) e "O Quinto Império: Ontem Como Hoje" (2004), assim como trechos do "Dom Quixote" inacabado de Orson Welles.

O cineasta Manoel de Oliveira - Divulgação - Divulgação
O diretor Manoel de Oliveira: aos 105 anos ainda filmando atrás de sua casa devido à dificuldade de chegar no estúdio
Imagem: Divulgação

"Essas questões que o Manoel coloca no filme como 'destino', 'o que são vitórias?', 'o que a gente leva desta vida'; são temas que ele já explorou antes e que talvez agora explore com mais atenção", contou ao UOL o produtor do curta Luís Urbano em conversa em São Paulo. Urbano falou dos dificuldades das gravações devido à idade do cineasta, que chegou a ser hospitalizado duas vezes durante as filmagens.

"Manoel tem a vantagem da experiência e de trabalhar com uma equipe fixa de muitos anos. Eles já sabem como ele é e entendem muito bem os sinais do Manoel e isso ajudou a minimizar o fato do Manoel não poder ser um diretor tão físico quanto era", conta Urbano. "Antes ninguém imaginava que o Manoel fizesse outro filme, portanto essa gravação foi muito intensa. Esse filme foi pensado para ser feito em um estúdio, mas para minimizar o esforço físico do Manoel ele mesmo teve a ideia de filmar atrás da casa dele."

O produtor descreveu as filmagens como um "retorno às origens" nesse final da carreira de Manoel de Oliveira. "Teve uma coisa que o ator Luis Miguel Cintra falou que achamos muito bonito: 'foi um encontro de amigos no jardim'. Parecíamos um bando de meninos fazendo um primeiro filme num espacinho ao lado da casa do diretor. Foi esse lado bonito que caracterizou um pouco esta produção".

"O VELHO DO RESTELO"
Quando: Dia 24 às 19h, dia 27 às 14h e dia 28 às 21h30 - projeção junto do documentário "Alentejo, Alentejo"
Onde: Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca 1 (dia 24), Espaço Itaú de Cinema Augusta Anexo 4 (dia 27) e Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca 4 (dia 28)
Quanto: R$ 20 para a projeção de "Alentejo, Alentejo"
Mais informações: http://38.mostra.org/

O VELHO DO RESTELO [THE OLD MAN OF BELEM] from O SOM E A FÚRIA on Vimeo.