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Suposta nova mensagem de hackers da Sony chama agentes do FBI de idiotas

Do UOL, em São Paulo

20/12/2014 17h20

Uma suposta nova mensagem do grupo Guardiões de Paz, responsável pelo ataque aos dados da Sony, zombou dos investigadores do FBI e os chamou de “idiotas”. A mensagem, deste sábado (20), faz referência ao fato de a agência norte-americana ter apontado o envolvimento da Coreia do Norte no ataque virtual na última sexta-feira.

De acordo com a revista “Hollywood Reporter”, o email foi enviado a jornalistas com o assunto “Os dados nos quais vocês estão interessados”. Nele, havia um link para uma página com uma mensagem direcionada ao FBI, que dizia: “O resultado da investigação do FBI é tão excelente que talvez vocês tenham visto com seus próprios olhos o que estamos fazendo. Nós os parabenizamos pelo seu sucesso. O FBI é o melhor do mundo”. Havia então um link para um vídeo do Youtube, no qual os investigadores do FBI são chamados de idiotas.  

A publicação ressalta que não é possível saber se o email realmente foi enviado pelos Guardiões da Paz porque não continha documentos vazados, diferentemente das anteriores. O formato da mensagem, porém, é semelhante a outras já divulgadas pelo grupo. Desde o dia 24 de novembro, o Guardians of Peace vem divulgando centenas de dados sigilosos do estúdio, como documentos de folhas de pagamentos, endereços e e-mails constrangedores trocados entre executivos.

Neste sábado, a Coreia do Norte negou o envolvimento nos ataques virtuais e propôs uma investigação conjunta sobre o caso. "Sem recorrer a tais torturas como foram utilizados pela CIA, temos meios para provar que este incidente não tem nada a ver com a gente".

A declaração disse que haveria "graves consequências" caso os americanos rejeitassem a oferta de investigação.

Obama e CEO da Sony se pronunciam sobre caso

O presidente norte-americano Barack Obama disse durante um pronunciamento na Casa Branca que a Sony errou ao cancelar o lançamento do filme "A Entrevista", que retrata em tom de comédia o assassinato do ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Um.

"A Sony é uma corporação que sofreu significantes perdas, sou simpático a suas preocupações. Mas acho que eles cometeram um erro. Eu gostaria que eles tivessem falado comigo antes. Eu teria dito que eles não fossem por esse caminho e que não se intimidassem por esses ataques criminosos."

"Não podemos viver em uma sociedade em que um ditador de algum lugar imponha censura aos Estados Unidos. Se eles estão fazendo isso com um filme satírico, imagine o que eles não farão quando tiver um documentário ou um noticiário que eles não gostem?", disse Obama.

Pouco depois, o presidente da Sony se pronunciou. "Neste caso, o presidente, a imprensa e o público estão enganados sobre o que realmente aconteceu", disse o CEO Michael Lynton à CNN. "Nós não possuímos salas de cinema, não podemos determinar se um filme será ou não reproduzido nas salas de cinema."

Lynton explicou que a Sony estava mantendo a sua decisão de lançar o filme no Natal, mas, segundo ele, os distribuidores, que são donos dos cinemas, começaram a dizer ao estúdio que não iriam lançá-lo, deixando-os sem escolha.

"Nós não cedemos, temos perseverado e não recuado. Sempre tivemos todo o desejo de ter o público americano vendo este filme."

O caso

Com o anúncio do envolvimento da Coreia do Norte no ataque, fica claro que a principal motivação foi a comédia "A Entrevista", em que James Franco e Seth Rogen interpretam dois jornalistas recrutados pela CIA para exterminar o líder norte-coreano Kim Jong Un.

O filme gerou críticas do governo norte-coreano desde seu anúncio, e sua estreia foi cancelada na última quarta-feira, após ameaças de ataques terroristas aos cinemas que exibissem o longa. “A Sony Pictures não tem planos futuros de lançamento para o filme”, disse o porta-voz do estúdio.

A estreia da comédia também está cancelada “até segunda ordem” no Brasil, de acordo com a assessoria de imprensa da Sony no país. O filme estava programado para estrear em circuito nacional no dia 29 de janeiro.

Anteriormente, a Sony estudava lançar “A Entrevista” online, sob demanda. No entanto, de acordo com a “Variety”, o filme não deve ser lançado nem em DVD, em uma decisão sem precedentes na história de Hollywood. Segundo o site especializado “The Wrap”, o prejuízo do estúdio pode chegar a US$ 90 milhões (cerca de R$ 230 milhões).

Nova ameaça

Nesta sexta, depois do anúncio do cancelamento da estreia, os hackers fizeram novas ameaças, exigindo que o filme jamais seja "lançado, distribuído ou vazado em qualquer formato como, por exemplo, DVD ou pirataria".

Por conta do caso, a Fox divulgou também que não irá lançar em março, como previsto, o longa "Pyongyang", do diretor Gore Verbinski, estrelado por Steve Carell. Baseado na graphic novel de Guy Delisle, o suspense retrata experiências de um ocidental que trabalha na Coreia do Norte por um ano.

"É muito sábio da parte de vocês que tenham tomado a decisão de cancelar o lançamento de 'A Entrevista'", disse a mensagem, segundo a CNN. "Nós garantimos a segurança dos seus dados, a menos que vocês criem problemas adicionais."

"E queremos que tudo relacionado ao filme, incluindo seus trailers, bem como a sua versão completa em qualquer site de hospedagem seja deletado imediatamente”.

Vaza cena de 'A Entrevista' em que ditador da Coreia do Norte morre - Reprodução - Reprodução
Vaza cena de 'A Entrevista' em que ditador da Coreia do Norte morre
Imagem: Reprodução
Em entrevista coletiva nesta quinta, o secretário de imprensa da presidência americana Josh Earnest disse que o ataque à Sony é considerado "uma séria questão de segurança nacional" e que o governo está considerando uma série de respostas possíveis para quando as investigações do FBI e do Departamento de Justiça forem concluídas. Earnest também teve o cuidado de não afirmar que a Casa Branca acredita no envolvimento da Coreia do Norte.

Críticas de Hollywood

O cancelamento sem precedentes fez com que chovesse reações negativas em Hollywood. O empresário Donald Trump, o ator Steve Carrell e até o roteirista e diretor de comédias Judd Apatow, amigo de Seth Rogen e James Franco, se posicionaram contra o cancelamento.

Um dos mais enfáticos a entrar na discussão foi o ator George Clooney, que deu declarações duras sobre o assunto. "A Sony não lançou o filme porque eles estavam com medo. Eles seguraram o lançamento porque todas as redes de cinema disseram que não vão exibi-lo. Elas falaram com seus advogados, que disseram que se alguém morresse, eles seriam os responsáveis", disse o ator em entrevista exclusiva ao site Deadline.

O ator ainda contou que nenhum executivo de Hollywood quis assinar a petição que ele e seu agente Bryan Lourd lançaram solicitando que a indústria "ficasse unida" para não ceder às ameaças dos hackers. "Eu não vou dar nomes aqui, mas ninguém quis assinar a carta".

Já o roteirista Aaron Sorkin, vencedor do Oscar por “A Rede Social”, disse que “os desejos dos terroristas foram cumpridos”, parte pela imprensa americana que escolheu publicar “fofocas movidas pela desgraça alheia”.

Até o escritor brasileiro Paulo Coelho se manifestou, oferecendo US$ 100 mil à Sony para distribuir o filme gratuitamente em seu blog.