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Owen Wilson fala sobre Robin Williams e Allen e pede: "Seu Jorge, me liga!"

Eduardo Graça

Do UOL, em Nova York (EUA)

31/12/2014 07h00

O estúdio, os distribuidores, os produtores, as equipes criativa e técnica responsáveis por “Uma Noite no Museu 3” admitem, resignados, que o tema é obrigatório. Uma vez mais dirigida por Shawn Levy (‘Gigantes de Aço”; “Os Estagiários”), a mais recente sequência da adaptação para o cinema do livro de Milan Trenc, nos cinemas a partir desta quinta (1º), foi, também, um dos últimos filmes de Robin Williams. O protagonista de “Sociedade dos Poetas Mortos” se matou em agosto, em sua casa, aos 63 anos.

Como se sabe, a franquia de fantasia é centrada na figura do segurança noturno do Museu de História Natural de Nova York, vivido por Ben Stiller, e em sua parceria improvável com personagens da exposição que ganham vida na calada da noite, como o ex-presidente americano Teddy Roosevelt de Williams e o minúsculo caubói Jedediah de Owen Wilson. É do ator de 46 anos a voz arrastada e feliz do outro lado da linha. É quase possível esquecer que há exatos oito anos Hollywood foi pega de surpresa com a notícia da tentativa de suicídio do próprio Wilson, então namorado da atriz Kate Hudson, alegadamente cortando os pulsos em casa.

"As pessoas imaginam que este é um filme, como chamamos no cinema americano, ‘de elenco’. Tinha o Robin e o Mickey Rooney, que morreu em setembro, mais o Ben, o Steve (Coogan), o Ricky (Gervais), sir Ben (Kingsley) e um monte de gente boa. Mas a gente quase nunca filmava juntos. Eu, por exemplo, sequer dividi uma cena com o Robin. Como meu personagem e o do Steve são miniaturas, a gente filmava tudo em separado, só nós dois, como se fosse um ‘buddy movie’. Volta e meia a gente brincava com o Shawn: ‘bora fazer um spin off só com nossos personagens, o Jedediah e o Octavius?", diz o ator, com a resposta na ponta da língua sobre a interação com o colega.

Antes que uma pausa embaraçosa se estenda perigosamente, Wilson volta, de supetão, ao tema. E lembra que, embora não tivessem jamais trabalhado juntos, ele e Williams dividiram os holofotes durante as maratonas de entrevistas dos dois primeiros “Uma Noite no Museu”, lançados, respectivamente, em 2006 e 2009, com uma bilheteria mundial acumulada de impressionantes US$ 987 milhões.

"Sempre nos colocavam juntos nas entrevistas para a televisão. E aí, eu aposto, os shows privê que tive foram muito mais interessantes do que filmar uma ou outra cena com ele. Você não poderia ter parceiro mais ideal do que ele nas conversas com os jornalistas televisivos. No fim do dia, depois de 70 entrevistas, muitas vezes respondendo as mesmas perguntas, você está de fato exaurido e, não vou negar, aciona mesmo o piloto automático. Mas, com o Robin, não havia esta opção. Logo reparei que ele nunca repetia a mesma resposta. Eram performances sensacionais. Cada coisa que ele falava, como se mexia, ele de fato havia nos divertido durante o dia todo. Esta lembrança que tenho é bem doce, eu passava aquelas oito horas por dia admirando o gênio que ele era. Robin Williams é sim um gênio. Opa, sei que estou falando no tempo presente, mas é que ainda é muito estranho falar de Robin no passado", diz o ator.

Allen

  • Reprodução

    Sabe que foi um dos processos mais estranhos de trabalho para mim? Woody é educadíssimo e nos demos muito bem no set, mas não conversamos uma vez sequer sobre o personagem, sobre o que ele queria de mim, até o primeiro dia das filmagens em Paris. Nada. Ainda bem que deu certo, né?

    Owen Wilson, sobre trabalhar com Woddy Allen em "Meia-Noite em Paris"

De volta ao presente, o ator solteiro, pai de dois filhos --Robert, de 3 anos, com a ex-namorada Jade Duell, e Finn, de 1 ano, com a personal trainer  Caroline Lindqvist-- colhe os louros de um ano para lá de intenso do lado de lá da tela. Ele deu uma canja em “O Grande Hotel Budapeste”, dirigido pelo amigo Wes Anderson, um dos filmes mais celebrados do ano, e foi elogiado pela crítica tanto em sua primeira parceria com Paul Thomas Anderson, “Vício Inerente”, quanto por “She’s Funy That Way”, ainda sem título em português, a comédia dramática de Peter Bogdonovich estrelada por Jennifer Aniston, que fez algum barulho no Festival de Veneza.

"Foi tudo incrível. Wes e eu conhecemos o P.T. [Anderson] em Sundance quando éramos dois meninos, jamais imaginei que um dia ele teria um personagem para mim", diz.

No terceiro tomo de “Uma Noite no Museu”, o Larry de Ben Stiller parte para Londres afim de descobrir as razões para o aparente desaparecimento da magia responsável por dar vida aos seus amigos do mundo da fantasia. No Museu Britânico, ao lado de toda a gangue, incluindo o intrépido Jedediah, é ajudado na tarefa pela hilária segurança vivida por Rebel Wilson e outro novo personagem, o Lancelot de Dan Stevens, o galã original da série televisiva inglesa “Downton Abbey”.

"Talvez pelo fato de eu não ter estudado para ser ator, de não ter uma formação dramática clássica, quando finalmente consigo entender um personagem, não quero largá-lo nunca", conta Wilson, sobre repetir seu papel na franquia. "Não sou daqueles atores sempre interessados em interpretar algo diferente, desafiador, aquele papo todo. E o Jedediah, para quem cresceu no Texas, como eu, é um sonho realizado", conta.

"O filme é muito, muito, muito divertido. Shawn está no controle e tudo foi bem relax. Ele é um daqueles diretores ao mesmo tempo inteligente e animados, se é que me faço entender. Ele te dá confiança, parece de fato apreciar o que você está fazendo, você se sente livre para tentar novos caminhos, e é, depois de tantas parcerias, um grande amigo também".

Trailer de "Uma Noite no Museu 3 - O Segredo da Tumba"

Amigos e Woody Allen

Wilson diz ser cada vez mais importante trabalhar com os amigos de fé. Com seu irmão camarada Ben Stiller deverá voltar ao batente este ano na segunda encarnação de “Zoolander”, a comédia em torno do vaidosíssimo modelo Derek Zoolander, encarnado por Stiller.

"Quando fui ao Brasil, perguntaram muito se 'Zoolander' seguiria em frente. Agora posso dizer: tudo indica que sim. É engraçado, porque o filme não foi um sucesso de bilheteria, mas se transformou em algo que vocês da imprensa gostam de chamar de ‘cult’, né? Vai entender...”, diz, rindo.

Trabalhar com alguém fora de seu círculo de amigos --e família de fato, como os irmãos atores Andrew, mais velho, e Luke, mais novo-- é, diz Wilson, algo assim “como aquele primeiro dia na escola de segundo grau, que volta detalhadamente na minha cabeça. O nervosismo, a ansiedade. Com meus amigos é uma tranquilidade só, pois sei que eles acreditam de fato no que faço”.

Adorado em Hollywood, considerado um sujeito doce e afável, o ator de vasta cabeleira loira e nariz inconfundível não vê lá muita diferença entre protagonizar a franquia “Bater ou Correr” com o parceiro Jackie Chan e viver uma das criaturas-espelho de Woody Allen como o Gil de “Meia-Noite em Paris”.

"Sabe que foi um dos processos mais estranhos de trabalho para mim? Woody é educadíssimo e nos demos muito bem no set, mas não conversamos uma vez sequer sobre o personagem, sobre o que ele queria de mim, até o primeiro dia das filmagens em Paris. Nada. Também não houve qualquer ensaio. Zero. Quando cheguei no hotel, ele apenas me perguntou como tinha sido meu voo . Respondi que havia sido tranquilo e ele encerrou a conversa dizendo ‘que ótimo, nos vemos no set’. Ainda bem que deu certo, né? Imagino que ele gostou do modo como eu vi o Gil, porque Woody não me deu muitas sugestões ou críticas não. Ele meio que me deixou fazer o que eu queria".

Quando decidiu convidar Wilson para protagonizar aquele que seria o mais celebrado filme de sua produção recente, o diretor de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” deu a Wilson liberdade para criar.

Seu Jorge

  • Divulgação

    A gente passou semanas filmando no mar e ficamos muito próximos. Eu lembro muito de Seu Jorge tocando aqueles covers todos do David Bowie, de um modo absolutamente delicioso. É verdade que ele virou um pop star? Mesmo? Uau! E ele vive no Rio? Preciso ligar para ele quando for ao Rio.

    Owen Wilson, sobre Seu Jorge

"Uma surpresa para mim foi ele não ter tido jamais uma atitude de defesa apaixonada do roteiro que havia escrito. Logo no início, ele me disse: 'se tiver algum diálogo que o deixe desconfortável, use suas próprias palavras, quero que você seja o mais natural possível'. Esta foi a direção de ator dele, basicamente. Quando eu vejo o filme, se ele está passando em algum lugar, na tevê, no avião, me vêm sempre boas memórias. Tenho o maior orgulho de ter meu nome associado ao filme de Woody".

Wilson conta que na lista de diretores com quem gostaria de trabalhar aparecem, em posição de destaque, Martin Scorsese e Michael Mann, mas o ator diz “considerar pouco provável que eles tenham algum personagem que eu pudesse encarnar”.

Seu Jorge

"Quem sabe o Spike Jonze? É outro com quem eu gostaria de aprender, filosofar", diz, antes de alterar o rumo da conversa com uma pergunta direta: "Como vai o Seu Jorge?"

O ator quer saber da carreira cinematográfica do colega de elenco de “A Vida Marinha com Steve Zissou”, filme que Anderson lançou há dez anos.

"A gente passou semanas filmando no mar e ficamos muito próximos. Eu lembro muito de Seu Jorge tocando aqueles covers todos do David Bowie, de um modo absolutamente delicioso. Até hoje não sei como aquele filme não conquistou o público que merecia. É verdade que ele virou um pop star? Mesmo? Uau! E ele vive no Rio? Preciso ligar para ele quando for ao Rio. Iria para a Copa do Mundo, mas acabei indo no ano passado para São Paulo, para conferir o  GP de Fórmula 1, e me levaram para o Rio de surpresa para um evento, quando conheci Sophia Loren. Mas não me toquei... Deveria ligar para ele. Seu Jorge, me liga!", diz o ator, que faz questão, antes de encerrar a conversa, de elogiar a Cidade Maravilhosa.

Wilson lembra de uma tarde chuvosa em que andou de bicicleta pelo calçadão e bateu bola com peladeiros na areia da orla. Há, arrisca, uma vitalidade no Rio que, “na falta de outra palavra para definir o que sinto”, se traduz em uma atração imediata. Um ímã. Que um dia, garante o ator, o arrastará de volta para as praias cariocas. Palavra de caubói.