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Keaton diz que "Birdman" não marca sua volta, pois nunca sumiu do cinema

Pedro Caiado

Do UOL, em Londres

01/02/2015 07h01

Um dos favoritos ao Oscar, "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", de Alejandro Gonzales Iñarritu ("Babel", "Biutiful"), tem sido citado desde o Festival de Veneza do ano passado não só por sua qualidade, mas principalmente como uma espécie de volta por cima de seu protagonista, o ator Michael Keaton, que alcançou o sucesso no fim dos anos 1980 com filmes como "Os Fantasmas se Divertem" (1988) e "Batman" (1989), ambos de Tim Burton.

No entanto, o ator rejeita essa ideia e afirma que, na verdade, nunca sumiu. “Eu entendo porque as pessoas pensam isso, pois eu não faço muitos filmes grandes como esse. Não havia nada que me interessava suficientemente também”, explica ele. “Às vezes não é a minha escolha, e sim matemática, se meus filmes anteriores não fizeram bilheteria”, explica. “Nos últimos anos eu comecei a mudar a minha consciência e comecei a me focar em outros tipos de papéis”, afirma, em entrevista ao UOL.

Depois do sucesso entre os anos 1980 e 1990, Keaton fez principalmente papéis coadjuvantes em filmes que não chamaram muita atenção. Recentemente, ele fez personagens secundários em filmes como "Robocop" (2014) e "Need for Speed: O Filme" (2014), antes de voltar como protagonista em "Birdman". E não poderia ser mais apropriado para o ator. Filmado nos bastidores de um teatro da Broadway, o longa mostra a crise existencial de um ator cujo grande sucesso, um super-herói (Birdman), ficou no passado. Sua nova peça na Broadway é a esperança de retomar a carreira.

Mas o ator de 63 anos explica que não tentou compreender a sátira de "Birdman", e focou em realizar o filme. “Atuação é mais intuição. Quando você faz, você começa a entender. E nesse filme foi mais difícil, pois você é um pouco engraçado, e depois muito engraçado ou um pouco maluco, e depois se torna exagerado. Não dá para programar tudo aquilo que você vai fazer; você simplesmente faz”, diz ele.

Talvez esse fosse realmente a melhor estratégia para um filme em que Keaton teve que caminhar nu em plena Times Square, um dos marcos mais movimentados de Nova York. “Eu me senti exposto, obviamente”, revela. “É uma daquelas cenas em que você pensa 'não acredito que vou fazer isso'. Mas, quando você faz, toda a preocupação vai embora e aquilo se torna trabalho na sua mente”, diz ele. “Você só está fazendo o seu trabalho”.

Batman

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    Tim [Burton] mudou tudo. E eu sou orgulhoso daquele filme. Hoje você pode realizar um desses com mais facilidade. Tecnicamente você só precisar aparecer e não fazer feio que tudo dá certo. 'Batman' foi um risco na época, ninguém havia feito nada parecido até aquele momento. Na verdade, começamos a entender o personagem enquanto filmávamos.

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Heróis

Apesar de "Birdman" não ser exatamente um filme de super-herói, Keaton acredita que, nos 25 anos que separam "Batman" do longa de Iñarritu, a maneira de se realizar um filme de herói ficou muito mais simples. “Tim [Burton] mudou tudo. E eu sou orgulhoso daquele filme. Nunca vi um filme de super herói do inicio ao fim, mas hoje você pode realizar um desses com mais facilidade. Tecnicamente você só precisar aparecer e não fazer feio que tudo dá certo”, explica, ponderando. “'Batman' foi um risco na época, ninguém havia feito nada parecido até aquele momento. Na verdade, começamos a entender o personagem enquanto filmávamos”.

Dessa experiência, o ator trouxe para "Birdman" uma voz parecida com a que usou em seu Batman. “Eu lembro de conversar com o Tim Burton na época e dizer que poderia fazer a voz do Batman. E eu mudei minha voz. Ninguém acreditaria nele se soasse como Bruce Wayne. Não houve nenhuma mudança técnica”, disse. “Eu tive que fazer para tornar o personagem mais forte, e o foi o mesmo com Birdman”.

Além do retorno à pele de um herói, outro personagem de sucesso deve voltar à vida de Keaton em breve. Depois de inúmeros rumores, o ator deu a entender nos bastidores da premiação do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos (SAG Awards, em inglês), no último dia 25, que a sequência de "Os Fantasmas se Divertem" deve mesmo acontecer. “Eu disse isso por anos. Não sei por que ninguém pensou em fazer uma sequência dois anos após filmarmos o primeiro. É uma questão de disponibilidade do Tim e minha agora”, afirmou.

Se em "Birdman" existe o suspense sobre volta por cima do personagem, na vida real, a fórmula parece ter funcionado: além de jogar os holofotes novamente em Keaton, o longa é uma grande aposta para a premiação do Oscar, no dia 22. O filme foi indicado em nove categorias, sendo a primeira indicação do ator em toda sua carreira. Ainda assim, no SAG Awards, considerado uma prévia do prêmio da Academia, "Birdman" levou o prêmio de melhor elenco, mas nada para Keaton, que já havia vencido o Globo de Ouro por sua performance. E com isso, o drama pré-Oscar foi iniciado.

Trailer de "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)"