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"Filme mostra o fim da era da empregada que dorme em casa", diz Regina Casé

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

02/02/2015 19h58

Na Bahia para as comemorações do Dia de Iemanjá, celebrado nesta segunda-feira (2), a atriz e apresentadora Regina Casé falou por telefone à reportagem do UOL sobre o prêmio que recebeu no festival de Sundance pelo papel da doméstica Val, no filme "Que Horas Ela Volta?".

Em sua opinião, o longa, que conquistou a audiência americana, é oportuno por mostrar o fim da era das empregadas que dormem no emprego. "Foi a percepção de um momento de mudança. Hoje em dia quase não tem mais a figura da empregada que dorme no emprego e que tem a casa dos patrões como sua. Eu inclusive achava que os gringos não iam entender essa dinâmica."

A identificação, no entanto, se deve a um filme americano recente, "Histórias Cruzadas", que mostra a história das empregadas domésticas negras dos EUA nos anos 1960, que ajudavam a criar os filhos dos patrões brancos, mas nem sequer podiam usar o banheiro da casa.

Dirigido por Anna Muylaert, "Que Horas Ela Volta?" conta história semelhante. Val (Casé) deixa uma filha pequena no Nordeste e parte em direção a São Paulo, onde se emprega na casa de uma família e acaba sendo uma "segunda mãe" do filho do casal. Treze anos depois, a sua filha Jessica (Camila Márdila, também premiada no festival por sua performance), vai ao encontro da mãe para prestar vestibular.

Com uma visão crítica da realidade da mãe, que segundo ela é tratada pelos patrões como cidadã de segunda classe, a presença de Jessica na casa vai abalar a aparente harmonia daquele ambiente social tão comum nas famílias brasileiras.

Regina Casé disse que é neste choque de realidades que está a força do filme e, também, o que fez com que ela e Camila fossem premiadas por sua interpretações. "Eu só tinha visto a Camila uma vez antes do começo das filmagens, depois foi só gravação. Então, eu praticamente a conheci em cena. E já a conheci como se fosse a minha filha Jessica que eu não via havia mais de dez anos. Até facilitou na composição."

A atriz, que também apresenta o popularíssimo "Esquenta" na Globo, disse ter dúvidas se seu público do programa de auditório vai assistir ao filme, que retrata a realidade de muitos de seus telespectadores.

"Eu vou falar muito do filme no programa. E gostaria que todas as empregadas o assistissem, mas talvez a forma como ele foi filmado, que inclusive o levou a esses festivais de cinema 'de arte', pode afastar esse público. Espero que não, porque é importante que essas pessoas vejam como a nossa sociedade reproduziu com normalidade certos comportamentos e essa segregação social que faz com que gente tenha transformado em jargão a história de que hoje os aeroportos parecem rodoviárias, como se esses espaços não fossem destinados aos mais pobres."