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James Franco "ferve" no Festival de Berlim e rejeita "rótulos" sexuais

Estéfani Medeiros

Do UOL, em Berlim (Alemanha)

10/02/2015 10h15

Se existe alguém aproveitando muito a Berlinale, com certeza é o ator americano James Franco. Com quatro filmes em exibição na capital alemã, Franco desembarcou na cidade no fim de tarde da última quinta-feira (5), quando fãs e imprensa o aguardavam no aeroporto. Por causa da quantidade de grandes lançamentos, veículos locais já dizem que 2015 é o ano do ator.

Antes mesmo de aterrissar, seu nome era destaque do festival. “A Entrevista”, longa que protagonizou ao lado de Seth Rogen, criou desconforto com a organização do evento, que recebeu ameaças do governo da Coreia do Norte erroneamente, já que o filme está em cartaz no circuito comercial e não dentro de sua programação. Com a agenda apertada, antes de chegar à Berlim, Franco estava gravando a adaptação do livro "In Dubious Battle" para o cinema ao lado de Bryan Cranston (da série "Breaking Bad").

Na sexta, Franco participou de eventos para divulgar “Queen of The Desert”, novo longa do aclamado diretor alemão Werner Herzog, e circulou pela pré-estreia de mãos dadas com Nicole Kidman. “Ela é uma princesa”, escreveu em sua página no Instagram. Na chegada, arrancou gritos das fãs no tapete vermelho, onde tirou selfies, e distribuiu autógrafos e sorrisos. Na entrada da sessão, posou com drag queens e deu entrevistas para TVs locais.

Na mesma noite, o ator participou de uma festa de lançamento do longa na Soho House, clube de luxo no badalado centro da cidade. Durante a festa, teve a companhia de Courtney Love, na cidade para lançar o documentário “Cobain: Montage of Heck”, e do ex-R.E.M. Michael Stipe, também no evento para prestigiar o filme sobre a vida de Kurt Cobain.

No sábado, Franco visitou a galeria de arte de Ester Schipper ao lado do diretor alemão Klaus Biesenbach para a exposição do artista plástico canadense AA Bronson. E no domingo, jantou ao lado de Herzog e Wim Wenders, diretor alemão que receberá um Urso de Ouro honorário no próximo domingo. Wenders lançará nesta quinta “Everything Will Be Fine”, longa em 3D com Charlotte Gainsbourg e… mais James Franco.

Nesta segunda (9), a agenda de Franco continua disputada, com a exibição de “I Am Michael” na Mostra Panorama. Aqui ele interpreta o ex-ativista LGBT Michael Glatze. Após sofrer um acidente, o personagem se encontra em uma busca espiritual que o leva a reprimir sua identidade sexual para atender o "chamado divino". Antes da festa de lançamento do filme no lounge Glashutte Original, no topo do hotel Hyatt da Potsdamer Platz, uma das mais belas vistas da cidade, Franco conversou sobre o filme.

Visivelmente cansado, o ator chegou à entrevista de óculos escuros e com vinte minutos de atraso, mas disposto e simpático. Sobre um ano com tantos filmes na competição, ele diz que não foi planejado. “As pessoas gostam de dizer que são muitas coisas, mas eu vejo que tudo que faço está conectado de uma forma ou de outra. E atrás de tudo isso está meu interesse em coisas diferentes, perseguir novas formas de criatividade e jeitos diferentes de reinventar e encontrar novas abordagens, seja na produção, na escrita ou na direção, elas são apenas saídas alternativas. Gosto de ter controle sobre a estrutura do filme, como é filmado, quando me dirijo faço isso, mas é sempre bom só atuar e mudar um pouco de posição.” 

Durante a entrevista, ele comentou que, diferente do personagem de Michael, a sua busca espiritual foi relacionada a profissão. “Tive momentos em que estava buscando diferentes formas de viver, mas foi profissionalmente. Estava infeliz com a forma como estava me conduzindo como profissional de cinema. Estava me fazendo infeliz, por isso defini novos jeitos de trabalhar. Não tive crise de fé como ele, mas tive muitos questionamentos na minha vida aos 27, 28 anos. Então voltei a estudar.”

Rótulos sexuais

Questionado se assim como o personagem, já se viu em uma crise de identidade sexual, Franco, que é bissexual, diz que “rótulos podem ser restritivos, uma ferramenta para segregar e discriminar as pessoas, então às vezes pensamos em rótulos como algo ruim. De outra forma, se você leva ao extremo, as pessoas podem se esconder.”

Mencionando uma conversa com o diretor de programação do festival, que valoriza conteúdos considerados tabu, ele reflete que “uma das vantagens é que hoje temos uma comunidade, uma identidade como comunidade. Dessa forma, os rótulos podem ser algo realmente positivo. Uma comunidade pode lutar e não mais se esconder nas sombras. Acho esse tema realmente complicado de tratar“. A discussão sobre rótulos é um dos pontos principais de "I Am Michael".

Se o ator tem opiniões tão liberais sobre identidade sexual, nem sempre seus filmes refletem isso. Em "A Entrevista", por exemplo, o roteiro faz piada com uma fictícia entrevista em que Eminem sai do armário e se declara gay. "É estranho, não escrevi aquelas cenas. Não faço piadas gays. Pensando em um âmbito geral, ainda existe um pouco de homofobia, eu acho. Os filmes que faço com Seth são mais focados no público masculino e nessa ansiedade relacionada a relações entre pessoas do mesmo sexo. Para mim, é apenas é um comentário sobre essa grande ansiedade e não um comentário depreciativo relacionado à comunidade gay. É mais tocar em um assunto no humor que é cômico. É um desconforto maior da comunidade hetero do que da comunidade gay.”

Sobre a programação dos próximos dias, o ator diz que “é uma grande honra estrear com Wim Wenders. É um momento incrível, ele está de volta ao festival depois de tanto tempo. É interessante ver esses dois gigantes do cinema alemão comigo. Mas para ser honesto, fiquei mais animado quando descobri que 'Michael' viria. É um filme que estou junto desde o começo, ajudei a produzir e Justin [Kelly, diretor] e eu estamos trabalhando juntos há tempos. É legal vê-lo em um momento importante.”