Com cenas quentes em "O Garoto...", J-Lo diz que hoje é mais sexy e madura
Quem assistiu à cerimônia de entrega do Oscar em fevereiro se lembra das duas reações mais animadas ao celebrado discurso de Patricia Arquette –vencedora do prêmio de melhor atriz pela mãe que viveu em “Boyhood; da Infância à Juventude”- em prol da igualdade de oportunidades profissionais e salários para as mulheres americanas.
Ao lado de Meryl Streep, a mais aclamada atriz americana, que se levantou da cadeira e apontou o indicador para Arquette em sinal de apoio incondicional, estava Jennifer Lopez, batendo palmas com vontade e concentrando todo o seu poder vocal de estrela pop em um longo “siiiiiiiim”. Streep e J-Lo estavam luxuosamente instaladas na primeira fila do Teatro Dolby.
Aos 65 anos, dona Meryl é considerada a atriz mais talentosa de Hollywood. Vinte anos mais moça, a nova-iorquina do Bronx de origem porto-riquenha, por sua vez, produziu e estrelou um dos filmes mais odiados pela crítica americana neste ano, “O Garoto da Casa ao Lado”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (26). Fora isso, J-Lo teve seu último sucesso de bilheteria como protagonista há exatos dez anos (“A Sogra”) e viu seu mais recente disco, “A.K.A”, vender pouco mais de 70 mil minguadas cópias nos EUA.
“Crise, mas que crise?”, parece dizer a ex-mulher de Mark Anthony (seu terceiro marido), mãe dos gêmeos de seis anos Max e Emme, que aparece nua em pelo na tela grande, fazendo par com o galã texano de origem mexicana Ryan Guzman, 27 anos, em “O Garoto...”, um thriller psicológico vendido pela produtora como uma espécie de “Atração Fatal” do século 21.
“Vi ‘Atração Fatal’ quando era muito nova e jamais me esqueci de Glenn Close cortando a própria perna com aquela faca enorme. Meu desejo em ‘O Garoto da Casa ao Lado’ era o de ir, exatamente como no filme do Adrian Lyne, além do convencional, seja nas cenas de sexo ou nas de violência. Queria um diretor que topasse ir até o limite do bizarro. Há momentos neste filme que o público também, espero, não esquecerá por muito tempo, exatamente como aconteceu comigo ao ver a Glenn Close”, diz a atriz, em entrevista em um hotel de luxo em Beverly Hills, com o sorriso mais branco do que nunca e o corpo torneado, fazendo jus ao que se vê na tela.
J-Lo
O que mais me interessou em "O Garoto da Casa ao Lado" foi a protagonista, a Claire. Li o roteiro e vi que ela era um personagem de carne e osso: uma mulher que se depara com o fim de um longo casamento, que se vê em um momento de extremo baixo-astral, se sentindo muito menos sexy do que já foi um dia. Ora, eu passei por situações similares
Lopez não usou dublês para fazer as cenas quentes de sexo entre a “cougar” Claire, uma professora de literatura que mora em um típico subúrbio americano e está às voltas com o fim de um longo casamento, um ex-marido infiel e um filho adolescente inseguro, e o tal garoto da casa ao lado, o novo vizinho Noah, aparentemente prestativo e atencioso, mas na verdade é um psicopata típico de novela televisiva. A direção, a cargo de Rob Cohen, o primeiro diretor de “Velozes e Furiosos” (2001), garante ao menos uma cena, sem muita razão de ser, envolvendo um carro em situação perigosa e uma ultrapassagem pela esquerda do tal ‘limite do bizarro’ citado por J-Lo.
Há, em um mesmo filme, cenas de incêndio, mutilação, sexo quente, terror e até uma sequência pseudo-cômica de tiradas infelizes dos dois protagonistas com palavras de possível conotação sexual. Orçada em US$ 4 milhões, uma bagatela em Hollywood, a filmagem do primeiro roteiro escrito pela advogada Barbara Curry teve uma bilheteria de US$ 35 milhões nos EUA e foi considerada, pelos críticos, ou um mico na linha da abertura da Copa do Mundo de 2014 (em que, depois de muita negociação, a cantora e atriz dividiu o palco com Claudia Leitte e Pitbull para entoar “We Are One (Olê Olá)” ou algo traduzido como “é tão ruim, mas tão ruim, que é bom”.
No jornal “Washington Post”, o crítico Michael O’Sullivan destacou que a produção se apresenta como um thriller erótico, mas que o resultado é muito mais próximo de um besteirol. Na mesma linha, Lou Lumenick, do “New York Post”, chegou mais perto da reação da plateia --na sessão em que o UOL encarou a uma hora e 31 minutos do longa— ao publicar: “Este filme quer desesperadamente ser uma versão mais modesta de ‘Atração Fatal’, mas acaba gerando mais gargalhadas do que boa parte das comédias em cartaz no momento”. E na revista “Time”, Daniel D’Addario diz que o filme desperdiça o talento de Lopez, questionando as escolhas da primeira atriz de origem latino-americana a receber um salário de mais de US$ 1 milhão por uma produção de Hollywood --“Irresistível Paixão”, de Steven Soderbergh, adaptação do livro de Elmore Leonard.
"Personagem de carne e osso"
“O que mais me interessou em ‘O Garoto da Casa ao Lado’ foi a protagonista, a Claire. Li o roteiro e vi que ela era um personagem de carne e osso: uma mulher que se depara com o fim de um longo casamento, que se vê em um momento de extremo baixo-astral, se sentindo muito menos sexy do que já foi um dia. Ora, eu passei por situações similares. Tive de enfrentar a questão da infidelidade. Pensei de verdade que eu, Jennifer, não era o suficiente para meu parceiro, que eu não bastava para fazê-lo feliz. Esta vulnerabilidade, que, no filme, oferece a janela para Claire dar o maior passo em falso da vida dela, foi o ímã para que eu produzisse e estrelasse o filme”, diz Lopez.
J-Lo2
Queria fazer algo que tivesse ressonância com as mulheres da minha geração. Não acho que seja mais tão chocante assim para as pessoas o fato de mulheres mais velhas serem objeto de desejo de homens mais novos. E hoje em dia sabemos que nós, mulheres, ficamos ainda melhores quando mais maduras.
Ela repete mais de uma vez, na conversa de 20 minutos, que considera “O Garoto da Casa ao Lado” um filme realista. Levanta as sobrancelhas para falar das mulheres na faixa dos 40 anos que, em testes feitos pela produção, reagiam em voz alta no momento em que Claire finalmente se entrega aos avanços de Noah, ao ver o filme pela primeira vez.
“Queria fazer algo que tivesse ressonância com as mulheres da minha geração. Não acho que seja mais tão chocante assim para as pessoas o fato de mulheres mais velhas serem objeto de desejo de homens mais novos. E hoje em dia sabemos que nós, mulheres, ficamos ainda melhores quando mais maduras. É fato. Não tem mais esse negócio de que é só ladeira abaixo depois dos 20 anos. Mas não mesmo! Você fica aos 30, aos 40, e espero, aos 50, cada vez mais confiante, mais interessante, mais senhora de si. E isso a torna mais sexy, mais desejável para homens de todas as idades, inclusive os jovens adultos. Não vejo nenhum problema com isso”, diz.
Mais madura e sexy
Cohen conta que toda a empolgação de J-Lo não diminuiu a falta de conexão entre diretor e protagonista na hora de se filmar o encontro sexual entre vizinhos que funciona como o gatilho da história. Ao conferir as imagens com o filme já pré-editado, ele confessou à atriz e produtora que precisava de algo mais, digamos, despojado. Ela concordou, e o que se vê na tela é uma exposição dos atributos físicos de Jennifer Lopez para fã algum botar defeito.
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Se me sinto ainda mais sexy agora? Huummm. Olha, funciona assim: eu me conheço muito melhor agora. E isso me faz, sim, creio, mais sexy. Passei por muita coisa nos últimos anos e amadureci. Estou mais cuidadosa comigo mesma. A vida tem maus momentos, mas, acredite, você vai voltar a dançar um dia
“Já fiz cenas de sexo anteriormente em filmes, não era algo exatamente novo para mim, mas fiquei, sim, nervosa. E tive minhas reservas. O estúdio também as teve. Mas Cohen queria algo bem específico. O importante foi a gente ter encontrado um equilíbrio entre os desejos todos e ter certeza de que a cena serviu ao roteiro, ajudou a contar melhor nossa história, não foi apenas sexo e ponto final. Foi importante mostrar aquela cena daquele jeito, pois ela justifica a insanidade que virá a seguir”, conta.
A atriz diz que jamais cogitou usar um dublê na cena em questão e que, independentemente da quantidade de exposição de seu corpo nos mais diversos projetos, como atriz, cantora ou no uso comercial de sua imagem, busca estar sempre em forma: “Se me sinto ainda mais sexy agora? Huummm. Olha, funciona assim: eu me conheço muito melhor agora. E isso me faz, sim, creio, mais sexy. Passei por muita coisa nos últimos anos e amadureci. Estou mais cuidadosa comigo mesma. A vida tem maus momentos, mas, acredite, você vai voltar a dançar um dia. É possível enfrentar a depressão, o negativismo, e sair da experiência mais feliz, e não mais amarga. Descobri, por exemplo, que saber dizer não tem mais importância, é mais significativo, muitas vezes, do que um sim leviano”, diz ela, que completa: “É cada vez mais importante para mim saber que estou de fato feliz com o que eu estou fazendo profissionalmente, já que meu estado de espírito vai afetar, de um modo ou de outro, os meus filhos. E, hoje, o que mais importa para mim é que eles estejam felizes. Quero ser um bom exemplo para eles, é o norte que me guia”.
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