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Campanha online quer US$ 2 mi para concluir filme inacabado de Orson Welles

O último filme inacabado de Orson Welles poderá ganhar em breve uma versão final - Reprodução
O último filme inacabado de Orson Welles poderá ganhar em breve uma versão final Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

07/05/2015 09h12

Uma campanha online de financiamento coletivo será lançada, nesta quinta-feira (7), no Indiegogo para arrecadar US$ 2 milhões e concluir o filme inacabado de Orson Welles “The Other Side of the Wind” (O outro lado do vento, em tradução livre).  

A informação foi publicada no site “The Hollywood Reporter”. Nesta quarta-feira (6) se comemorou o centenário de nascimento de Welles (“Cidadão Kane”, 1941). O último longa inconcluso do cineasta, que marcou a história do cinema mundial, poderá enfim ganhar em breve uma versão final.

Welles se dedicou a este filme entre 1970 e 1976, mas teve que abandoná-lo. A ideia de recuperar o longa através de um financiamento coletivo foi do diretor e sócio da Royal Road Entertainment, Filip Jan Rymsza. Ele se uniu a outros dois produtores, Jens Koethner Kaul e Frank Marshall, no esforço conjunto para dar continuidade ao projeto.

Rymsza tem se debruçado efetivamente sobre os detalhes do filme desde outubro de 2014. Durante anos tentou obter os direitos do longa. No fim de 2014, recebeu permissão para ter acesso ao negativo do filme, gravações de áudio e uma montanha de material que pesa mais de uma tonelada.

Segundo o diretor e os produtores, são necessários  US$ 2 milhões para finalizar o projeto. A campanha online ocorrerá até 14 de junho e, como contrapartida, oferecerá aos investidores um número de limitado de cópias do filme em 35 mm e ingressos para a estreia.

Primeiros rascunhos

Os primeiros rascunhos de “The Other Side of the Wind” foram escritos no final dos anos 50, admitiu Josh Karp, um estudioso da obra de Welles quem também pesquisou sobre o processo de produção de seu longa inacabado.

O diretor americano deixou Hollywood no final da década de 1950 e seguiu rumo à Europa após a disputa que protagonizou com a Universal sobre a montagem de “A Marca da Maldade” (1958) de  gênero policial. Ele só retornaria aos Estados Unidos nos anos 70 quando começou a trabalhar no que seria o filme do seu retorno, “de “The Other Side of the Wind”.

“O filme conta a história de um lendário diretor distante de Hollywood e que estava justamente preparando seu filme de retorno. Ele foi gravado num estilo documentário e é  um filme por trás do filme. A história em si é bizarra, Welles acabava de retornar de uma década na Europa e decidiu fazer um filme inovador, seu filme de retorno, sobre um homem que está justamente realizando um filme para marcar a sua volta após dez anos na Europa”, explicou Karp.

Ao longo dos anos, Welles escreveu inúmeros roteiros mas modificava constantemente seus escritos durante as filmagens. “Ele já vinha trabalhando no roteiro deste filme desde 1958, possivelmente antes mesmo. Era como se fosse uma novela vitoriana, ele conhecia profundamente cada um dos personagens que poderia ter escrito três volumes”, comentou.

Em agosto de 1970, Welles desembolsou US$ 740 mil de suas próprias economias e começou a rodar em uma casa alugada em Beverly Hills. “Ele trabalhava no roteiro dia e noite sem dormir. A narrativa sempre mudava ao longo das filmagens”, disse Karp.

Abandono e resgate

Em algum momento e por razões ainda misteriosas, Welles voltou para a Europa para grande surpresa do elenco que depois perdeu o contato com o diretor. As filmagens só foram retomadas no Arizona em 1971. Foram inúmeras idas e vindas, com filmagens paralisadas e depois retomadas ao longos dos anos 70.

“Ele nunca chegou a concluir. Depois disso, uma disputa legal acabou deixando todo o material trancafiado em um laboratório em Paris. Desde então, uma confusão de liminares e manobras legais tornaram as coisas ainda mais complicadas”, comentou Karp.

Welles morreu em 1985. Ao longo dos anos, amigos e colegas de trabalho tentaram muitas vezes conseguir os direitos, como é o caso do produtor Frank Marshall que tem se dedicado ao projeto de resgate do filme de Welles há cerca de vinte anos. O nó apenas foi desfeito em novembro do ano passado, quando os produtores se encontraram com a filha de Welles, Beatrice, para obter seu aval.

“Conseguimos reunir o conteúdo que Orson havia levado para Paris, uma versão bruta de 42 minutos. Estamos usando este material como referência, uma parte está em processo de montagem”, disse Rymsza.

O diretor ainda tem em suas mãos cópias dos roteiros, anotações do próprio Welles e um amontoado de pilhas de papéis. “Temos uma montanha de informação”, admitiu.

A esperança dos produtores é que a campanha na internet seja exitosa e que o filme consiga ser finalizado até o fim do ano.