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Documentário brasileiro sobre 1ª infância faz trailer em homenagem às mães

Cena do filme "1000 Dias", de Estela Renner, que deve estrear em março de 2016 - Reprodução/YouTube
Cena do filme "1000 Dias", de Estela Renner, que deve estrear em março de 2016 Imagem: Reprodução/YouTube

Luna D'Alama

Do UOL, em São Paulo

07/05/2015 21h12

Às vésperas do Dia das Mães, comemorado neste domingo (10), o documentário “1000 Dias”, da paulistana Estela Renner, lançou um trailer com um recorte especial dedicado à maternidade. Desde que foi publicado, na segunda-feira (4), até a noite de quinta, o vídeo já tinha quase 200 mil visualizações no Facebook e no YouTube. O filme está previsto para estrear em março de 2016.

A produção gira em torno da primeira infância, com foco nos primeiros mil e poucos dias (daí o título), que vão desde os nove meses de gestação até os 3 anos de idade. "A mãe é o primeiro exemplo de humanidade que a criança tem contato", diz no trailer o psiquiatra e escritor tcheco Stanislav Grof. O longa, que terá cerca de 1h30 de duração, também trará depoimentos de mães, pais, médicos e especialistas como a neurocientista Patricia Kuhl, da Universidade de Washington, o prêmio Nobel de Economia no ano 2000, James Heckman, e a assessora para a primeira infância do Unicef, Pia Rebello Britto.

O vídeo em homenagem às mães, que reúne trechos de um dos capítulos do documentário, é falado em várias línguas: português, inglês, espanhol, francês e italiano. Segundo Estela – que ainda assina o roteiro de "1000 Dias" e já dirigiu o documentário “Muito Além do Peso” (2012), sobre a obesidade infantil –, a equipe gravou cenas em países como Brasil, Argentina, Canadá, Itália, China, Índia e Quênia. “Queremos mostrar a universalidade da nossa formação, que vai além do lugar ou da religião. As crianças se moldam através das relações, numa combinação de genética, ambiente, com pais, babás, professores, vizinhos”, enumera a diretora de 41 anos, que é mãe de três filhos (Marcos, 13, Lucas, 11, e Sienna, 8).

Cena do documentário "1000 Dias" - Mari Pedrosa Mitre - Mari Pedrosa Mitre
Cena do documentário "1000 Dias"
Imagem: Mari Pedrosa Mitre
“Ser mãe mudou completamente a minha vida. No primeiro filho, que nasceu menos de um ano depois do casamento, eu estava morando nos Estados Unidos, não tinha babá, ajuda nenhuma, estava longe da família. Foi muito trabalhoso, mas também incrível. Sempre quis muito ser mãe e ter uma família grande”, conta Estela.

“Acho que a maternidade é um papel grande, nobre. Conflitos fazem parte da vida, mas meus filhos sabem que são amados, respeitados, precisam de limites. E sempre terão para onde voltar, mesmo que se aventurem, tenham os próprios conflitos e frustrações”, completa a diretora, que matriculou seus dois primeiros bebês, aos 6 meses de idade, numa creche dentro do campus da universidade onde fazia mestrado.

“Algumas mulheres têm dúvidas [sobre ser mãe], querem fazer carreira antes. Mas, na minha opinião, você não precisa esperar até ter uma carreira incrível. Claro que cada pessoa tem a sua verdade, mas para mim não ia funcionar escolher, o momento era aquele mesmo”, diz. “Não sou dona da verdade, fui mãe do jeito que consegui”, pondera Estela.

Além disso, a cineasta aponta que o capítulo sobre as mães deixa claro que esta é normalmente a fase mais prazerosa, mas também a mais difícil, da vida de muitas mulheres, e que elas não nascem sabendo ser mães, amamentar ou identificar quando uma criança está com cólica. “Não é um mar de rosas, é um aprendizado, um processo de amadurecimento. Com o tempo, a convivência, a mulher adquire esse saber”, avalia. “1000 Dias” ainda revela as dificuldades que as mães enfrentam para conciliar essa função com outras atribuições, e a falta de valorização que muitas delas sofrem.

Cena do documentário "1000 Dias", de Estela Renner - Mari Pedrosa Mitre - Mari Pedrosa Mitre
Filme mostra a fase mais difícil e prazerosa da vida de muitas mulheres
Imagem: Mari Pedrosa Mitre
Sobre os vários tipos de mãe existentes – adolescentes, idosas, solteiras, homossexuais –, Estela afirma que esse é um tema atual, mas acredita que no futuro ele soe “datado”. “Ainda existe tanta gente com preconceito, mas espero que isso nem seja mais pauta daqui a alguns anos, e que as pessoas perguntem: ‘Qual é o problema nisso?’. O que importa é a criança ser amada, querida, ter um ambiente seguro”, ressalta.

“O que queremos mostrar com o filme, afinal, é que as crianças, desde a primeira infância, já são pessoas que merecem ser respeitadas, ouvidas, enxergadas, independentemente de conseguirem se expressar com palavras. Elas precisam de atenção, colo, estímulos, segurança e amor”, enumera a cineasta. “Esse é um período muito importante, que de fato forma o ser humano. Os 3 primeiros anos são fundamentais, é como uma casa: se você não construir direito, não pode destruir tudo e recomeçar do zero. Não se pode implodir uma pessoa”, compara.

Novos trailers e série

O trailer dedicado às mães é o segundo divulgado pela produtora de “1000 Dias”, Maria Farinha Filmes. O primeiro, lançado em dezembro de 2014, traçou um panorama geral sobre o que é o longa e já teve quase 600 mil visualizações no Facebook e no YouTube desde então.

O próximo trailer deve ser sobre a paternidade e está previsto para ficar pronto até agosto, perto do Dia dos Pais. Até o lançamento do filme, em março do ano que vem, outros trailers (sobre a comunidade, avós, aprendizado, comportamento) devem ser publicados na internet.

Cena do documentário "1000 Dias", sobre a primeira infância - Mari Pedrosa Mitre - Mari Pedrosa Mitre
Longa destaca a importância dos cuidados com as crianças na primeira infância
Imagem: Mari Pedrosa Mitre

“Esse não é um produto pronto, mas uma ferramenta que faz parte de um grande movimento. São pílulas para sensibilizar as pessoas sobre o assunto, criar identificação”, diz a diretora, que já produziu outros documentários de “transformação social”, como ela define. Entre os filmes engajados em que trabalhou, estão “Tarja Branca”, que estreou nos cinemas em junho de 2014, e “Território do Brincar”, que tem lançamento previsto para o fim deste mês.

“’Tarja Branca’ fala do espírito lúdico que falta no adulto hoje em dia. Com os avanços da tecnologia, a gente não se diverte mais, trabalha e produz cada vez mais, mas também tem mais depressão pânico, o ser humano não está preenchido. No filme, falamos sobre a convivência com o outro, consigo mesmo, e sobre a cultura popular brasileira como forma de busca de identidade”, explica Estela. “E ‘Território do Brincar’, que vai abrir o festival Ciranda de Filmes, em SP, traz registros de dois anos de viagens pelo Brasil mostrando as brincadeiras das crianças nesses espaços, a autonomia, criatividade e liderança delas”, completa.

A previsão é que o material extra de “1000 Dias” – cuja ideia foi concebida pelo Instituto Alana, pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, de São Paulo, e pela Fundação Bernard van Leer, da Holanda – também vire uma série de seis episódios com 44 minutos cada, divididos por temas (pais, mães, etc). “É muito cruel jogar fora tanta coisa incrível, é injusto com a humanidade. Não temos nada certo ainda, mas esperamos que isso seja veiculado em algum canal aberto”, torce a diretora.