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"Não há mais espaço para as estrelas de cinema", diz Catherine Deneuve

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

13/05/2015 09h03

O Festival de Cannes fez uma aposta alta este ano: em vez de abrir com uma produção internacional aguardada pela mídia, como "O Grande Gatsby" e "Grace de Mônaco", escolheu um filme da casa, um francês nada comercial. "La Tête Haute"(De Cabeça Erguida) segue dos 6 aos 16 anos Malony, um pequeno delinquente ultraviolento que vive brigando com a mãe e sobrevive de golpes como roubos de carro. Uma mistura eficiente de "Boyhood - Da Infância a Juventude" com os filmes dos irmãos Dardenne (de "Dois Dias, Uma Noite"), mas que teve uma recepção gelada na sessão de imprensa, sem vaias nem aplausos.

Com a escolha, Cannes tenta reparar outra injustiça: "La Tête Haute" é o primeiro filme em 28 anos dirigido por uma mulher a abrir o festival. Emmanuelle Bercot manda muito bem nas cenas de violência de Malony com seus colegas e tutores --o menino, vivido pelo estreante Rod Paradot, tem uma presença impressionante, com o rosto sempre duro e um olhar amargo. A juíza que cuida do seu caso é vivida pela estrela Catherine Deneuve ("A Bela da Tarde"). Mas ter Deneuve em Cannes é um pouco como ver Susana Vieira na Sapucaí --não chega a ser nenhuma novidade, e não empolgou a imprensa.

Cannes - Deneuve

  • Divulgação

    Poderíamos ter estrelas, mas esse mundo ultramidiático e as redes sociais hoje nos impedem. A sua vida pessoal está exposta o tempo todo. Ser estrela requer glamour e também um pouco de segredo. Mas sim, ainda podemos ter algumas por aí.

    Catherine Deneuve

Talvez isso não seja uma grande surpresa, considerando que a atriz francesa não é lá muito fã do atual "mundo das celebridades". Estrela de grandes clássicos, de Buñuel a Polanski, Deneuve crê que não há mais espaço para as grandes estrelas de cinema hoje em dia. "Poderíamos ter estrelas, mas esse mundo ultramidiático e as redes sociais hoje nos impedem. A sua vida pessoal está exposta o tempo todo. Ser estrela requer glamour e também um pouco de segredo. Mas sim, ainda podemos ter algumas por aí", declarou.

"Para mim, esta é uma resposta do festival a um ano difícil que tivemos na Europa. É interessante que um festival internacional como esse dê espaço na abertura para um filme de autor como esse, que não visa o grande público", defendeu a atriz. Ela frequentou sessões dos processos de menores delinquentes nos tribunais de Paris para se preparar para o personagem.

"É inesperado que um filme desses esteja na abertura. Se a gente tivesse recusado, jamais saberemos se ele estaria em competição", explicou Bercot, diretora de "Ela Vai", também com Deneuve, que estreou no Brasil. Ela também rebateu o comentário de que o festival teria buscado uma diretora mulher para inovar. "Temos duas francesas em competição e muitas mulheres que emergem na nova geração. Como em todas as áreas, vamos ganhando espaço aos poucos. Leva tempo, temos pelo menos 50 anos de atraso em relação aos homens".