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Atriz que viveu Amélie Poulain criança no cinema é brasileira e vive em SP

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

22/05/2015 06h00

Amélie Poulain leva hoje uma vida diferente. Aos 21 anos, a menina antes solitária, que sentia palpitações com a simples aproximação do pai, tem mais de mil amigos. O cabelo negro e chanel de outrora virou loiro e anelado. A idílica Paris dos anos 1970 deu lugar a São Paulo, onde ela estuda design de interiores para, quem sabe, trabalhar em uma revista de decoração. O gosto por framboesas, como as devoradas dedo a dedo na mitada cena do filme, no entanto, ainda persiste (veja no vídeo acima).

Nascida em Paris, filha de um francês com uma brasileira, Flora Guiet viveu a protagonista de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001) durante a infância. Acabou nas telas por um golpe do acaso. Levada aos testes de elenco pela mãe, que vira um anúncio em uma revista, a pequena conquistou rapidamente os produtores e o diretor Jean-Pierre Jeunet.

O jeito doce e espontâneo e a semelhança física com a personagem vivida na fase adulta por Audrey Tautou garantiram à Flora o papel.

Flora como a pequena Amélie Poulain, no filme de Jean-Pierre Jeunet - Reprodução - Reprodução
Flora como a pequena Amélie Poulain, no filme de Jean-Pierre Jeunet
Imagem: Reprodução

“Eu era hiperativa, e minha mãe achou que seria uma boa me colocar no filme. Mas eles queriam que a menina fosse um pouco mais velha, que tivesse uns seis ou sete anos. E eu tinha só cinco. Mas mesmo assim gostaram de mim e acabaram me escolhendo”, diz ao UOL a jovem, que mora há dez anos no Brasil, fala português sem sotaque e tem dupla cidadania. “Na verdade, não sei se tenho muito em comum com ela. Talvez a positividade.”

Uma década e meia depois, Flora recorda pouco das filmagens, que aconteceram principalmente no subúrbio parisiense de Enghien-les-Bains. Também não lembra de suas adoráveis caras e bocas, que até hoje lhe rendem admiradores apaixonados. Era como se entrar em estúdio fosse apenas mais um dia de brincadeira e de fato era.

A memória mais marcante, ela conta, é a de um abnegado Jeunet perguntando várias e várias vezes se estava pronta para entrar em cena. Com apenas uma fala nos sete minutos em que aparece na tela, a estreante se portou praticamente como uma profissional à frente das câmeras.

O único imprevisto aconteceu antes, no momento da caracterização. Nos bastidores, Flora protagonizou uma cena digna daquela em que se esgoela no filme, quando flagra o salto suicida de seu peixinho de estimação.

A atriz Flora Guiet, em cena de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" - Reprodução - Reprodução
Flora Guiet na cena do peixe em cena de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain"
Imagem: Reprodução

“Lembro que não fiquei muito feliz porque cortaram meu cabelo muito curto. Fiz o maior escarcéu para não cortarem. Mas não teve jeito. Minha mãe falava: ‘Calma, ele já cortou o cabelo de um monte de atriz famosa’ (risos)”.

Indicado a cinco Oscars em 2002 e com milhões de fãs espalhados pelo mundo, o longa rendeu a Flora outros convites para trabalhar como atriz no cinema. Um deles feito pela mesma produtora de elenco, às vésperas da mudança para Ilhabela, no litoral paulista. A carreira de atriz acabaria ali, mas sem arrependimentos.

A atriz estreante Flora Guiet tinha apenas cinco anos quando fez os testes para "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" - Reprodução - Reprodução
"Amélie Poulain" marcou a única atuação de Flora como atriz
Imagem: Reprodução

“Minha mãe não queria que eu fizesse mais coisas. Ela dizia que, quando eu fosse mais velha, poderia escolher ou não essa profissão para mim. Falava que eu era muito nova e que não ia me obrigar a fazer isso”, diz a jovem, mais fã dos filmes dos irmãos Coen, como o premiado "Onde os Fracos Não Têm Vez", do que da própria história que estrelou. “Já até pensei em ser atriz e fazer cinema, mas gosto mesmo é de design e jornalismo.”

Se você der a sorte esbarrar com Flora Guiet por aí, é bom ficar de sobreaviso: tirar selfie e dar autógrafo não são os espotes favoritos da jovem.

“Geralmente, eu não falo sobre o filme. Mas, quando estou em algum lugar, minha família e meus amigos acabam contando para todo o mundo. Eu confirmo. Mas não chego por aí dizendo ‘oi, prazer, eu fiz a Amélie Poulain’ (risos)”.

Em tempos de redes sociais, manter a privacidade parece uma tarefa tão exigente quanto ajudar o mundo à volta, marca de Amélie Poulain.

“Há casos muito engraçados. De gente do mundo inteiro que fica mandando mensagem no Facebook, perguntando como eu estou. Alguns falando que deram o nome de Amélie à filha por minha causa. Teve até um cara que fez uma tatuagem com meu rosto. Esse carinho é legal.”