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"O Pequeno Príncipe" transforma personagem em empregado de corporação

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

22/05/2015 11h46

Para encerrar um festival em que muito se falou da falta de espaço das mulheres no cinema, Cannes reservou dois filmes. Um será exibido no sábado: o novo "Macbeth", em que Marion Cotillard promete brilhar como Lady Macbeth. O outro é "O Pequeno Príncipe", animação em que o diretor de "Kung Fu Panda", Mark Osborne, introduz na famosa história de Saint-Exupéry a personagem de uma garotinha.

A menina, sem nome, conhece um velho aviador (voz de Jeff Bridges na versão em inglês). Ele começa a lhe contar que, há muitos anos, conheceu um pequeno príncipe muito especial que hoje deve morar numa estrela. Em alguns momentos, temos flashbacks do piloto jovem com o príncipe exatamente como conhecemos no livro. Mas a garota pensa que hoje o príncipe pode ser um adulto e viver na Terra, e parte em busca dele.

Sua surpresa: o Príncipe hoje é um mero varredor de telhados numa corporação megacapitalista, chefiada por um homem que comprou até as estrelas. Tudo muito fofo e singelo, e deve agradar mais as crianças mais novas do que os adultos –ao contrário de "Divertida Mente", da Pixar, que diverte qualquer idade.

O grande desafio de Osborne foi pegar os desenhos clássicos do livro e transformar em criaturas tridimensionais de computação gráfica, sem que se perdesse o estilo da história original. "Eu conhecia o livro muito bem, e minha primeira reação foi dizer não. Achava que não se poderia fazer uma adaptação fiel. Mas depois entendi que o material era muito bom para dizer não", disse Osbourne, que desta vez tocou uma produção independente, longe da grande Dreamworks onde fez o sucesso "Kung Fu Panda".

Quase 250 pessoas trabalharam no filme para o qual foram utilizadas duas técnicas de animação: as imagens em 3D produzidas por computação gráfica e "stop motion", onde pequenas figuras de papel são filmadas e animadas quadro a quadro.

"Desenvolvemos a nossa própria estrutura. Por um lado, foi bom, porque não estávamos amarrados a uma estrutura existente. Por outro, foi como construir os trilhos com o trem já andando, o que deu muito medo também", disse.

A obra original de Saint-Exupéry é "difícil de adaptar, ela é íntima e frágil e a inteligência de Mark Osborne foi inserir o livro em uma história mais ampla", explicou Dmitri Rassam, coprodutor francês do filme.

Grandes atores concordaram em emprestar suas vozes aos diferentes personagens nas versões em inglês e francês do filme: além de Bridges, Benicio del Toro, Marion Cotillard (a Rosa em ambos os idiomas), Vincent Cassel (Raposa) e André Dussollier, que interpreta o aviador.

"O Pequeno Príncipe" estreia no dia 20 de agosto no Brasil.