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Fassbender diz que se preocupou em não levar o cruel Macbeth para casa

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes (França)

23/05/2015 08h01

A própria agenda do Festival de Cannes cria expectativas estranhas. Havia um rumor de que "Macbeth", a adaptação de Shakespeare estrelada por Michael Fassbender ("12 Anos de Escravidão") e Marion Cotillard ("Piaf") fosse uma decepção e por isso tivesse sido programada para o último dia do festival, quando boa parte da imprensa já foi embora e não pode destruir o filme.

A boa notícia: o australiano Justin Kurzel fez um belo filme, rodado nas paisagens áridas e montanhosas da Escócia, dando um clima sinistro a história do general que, com o estímulo da mulher, a ambiciosa Lady Macbeth, executa o rei da Escócia para tomar seu trono. As três bruxas da peça, que profetizam o reinado de Macbeth dizendo que ele não será destronado por nenhum homem nascido de uma mulher, são figuras simples em meio a bruma da floresta. As cenas de batalha são potentes, levadas por uma ótima trilha sonora.

Mesmo num dia de ressaca de fim de festival, a entrevista coletiva do filme acabou sendo a mais concorrida do festival. Não é a toa: Fassbender e Cotillard são hoje dois dos atores mais bonitos e carismáticos do cinema, e a curiosidade para vê-los na mesma mesa era total.

Em "Macbeth", Fassbender, o Magneto dos filmes da série "X-Men", consegue oscilar entre a brutalidade dos atos de violência que comete pra chegar ao poder e a loucura e fragilidade que começa a tomar conta quando chega ao trono. Na entrevista, ele fez uma leitura inesperada e contemporânea de Macbeth. "Para mim é claro que ele sofre de stress pós-traumático. Sabemos pelos relatos dos soldados no Iraque e no Afeganistão que eles sofrem de delírios semelhantes aos do personagem".

O importante, para ele, era não levar o papel pra casa depois de um dia de filmagem. "Eu saía com os amigos no fim do dia. Ainda não teria muitos se levasse Macbeth pra encontrá-los", brincou. Quando perguntado qual foi a melhor e a pior coisa de se filmar na Escócia, ele foi direto: "Uísque. E uísque."

Marion Cotillard consegue dar um tom diferente do usual a Lady Macbeth - menos cruel e ameaçadora, mais humana e um pouco frágil. Para ela, o maior orgulho foi o de poder fazer Shakespeare na sua língua original. "É uma peça intimidante. Nuca senti tanta pressão para abordar um personagem. Tinha medo de não conseguir estar a altura de um texto assim", comentou. "Sou muito exigente. Não é medo de decepcionar, é uma relação comigo mesma nesse momento. Mas quando começo a filmar, não penso mais no que esperam de mim."

Para ela, o que marca Lady Macbeth é "a incapacidade de fazer face ao seu medo, o que cria um desequilíbrio que a leva a fazer coisas monstruosas." Fassbender não poupou elogios a colega. "Marion traz para o papel um encanto que está dentro dela. Mas ao mesmo tempo é muito humana, os espectadores vêem nela um espelho no qual podem se identificar."