De instrutor de axé à Pixar, conheça brasileiro que animou Divertida Mente
Em um dos estúdios de animação da Pixar, na Califórnia, há um ex-instrutor de axé --mas que já foi estoquista, office boy, técnico de telefonia, comissário de voo. "Coisas das nossas grandes diferenças sociais no Brasil", diz Cláudio Oliveira, 36, rindo. Nascido em Canoas (RS) mas criado em São Paulo, ele é também um dos responsáveis por "Divertida Mente", que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas brasileiros.
Apesar de ser funcionário da empresa desde 2013, "Divertida Mente" é seu primeiro projeto na Pixar. O filme tem como personagens principais as emoções da garotinha Riley e suas desventuras, enquanto tentam ajudar a menina a lidar com uma mudança de cidade. No filme, a função do brasileiro foi animar os movimentos de todos os personagens nas cenas que lhe eram designadas, incluindo a que o Medo acorda embaixo da mesa de controle da mente depois de desmaiar com um pesadelo.
Cláudio foi para os Estados Unidos depois de conhecer uma norte-americana, com quem se casou tempos depois. "Nos conhecemos no Rio de Janeiro, quando eu ainda era comissário de voo, e eu acabei mudando para cá para a gente ficar junto. Ela morava em Nova York, mas quando decidimos nos casar, veio para Los Angeles", conta o brasileiro, sentado no grande átrio central do prédio principal da Pixar, em Emeryville, na área metropolitana de San Francisco.
Ainda no Brasil, Cláudio já sentia vontade de se dedicar a algo criativo, mas foi só em Los Angeles, enquanto trabalhava como entregador de uma rede de restaurantes brasileiros, que ele se matriculou no Santa Monica College. "Tinha um amigo que estava estudando em um 'community college', e eu acabei indo para lá. A aula que mais me interessou foi a de animação, e dali eu comecei a fazer projetos pessoais e tentar estágios".
Foram quatro anos entre estudo e três períodos de estágio na Sony Imageworks, que ele consegui com a ajuda de um professor. Foi nessa época que ele fez seus primeiros trabalhos profissionais no filme "Watchmen" (2009). "Depois disso, finalmente me ofereceram uma vaga como animador no filme 'Tá Chovendo Hambúrguer' (2009)", conta.
A "cultura Pixar"
Depois dos primeiros trabalhos, Cláudio passou alguns anos dividindo-se entre a Sony e a Disney Animations, até que alguns colegas foram contratados pela Pixar e ele resolveu tentar a sorte. Deu certo. "Eu fui entrevistado por 16 dos animadores do estúdio naquele dia", lembra.
Para ele, a empresa filtra já na entrevista os profissionais que têm potencial de contribuir para a "cultura Pixar", com criatividade e trabalho em equipe. "Acho que eles dão o mesmo valor para o projeto, a qualidade da animação, e para a personalidade do candidato. Já vi muito animador bom vir para cá, fazer uma entrevista e não receber uma oferta, talvez porque não tenha o tipo de personalidade que eles esperam".
Cláudio diz que é motivado pelo o estúdio a palpitar em outras áreas que vão além da animação. É por isso, por exemplo, que ele participou de conversas com a equipe de marketing de "Divertida Mente", opinando sobre o que poderia ser melhorado na apresentação do filme no Brasil, desde as vozes escolhidas para a dublagem à publicidade. "Eles são muito espertos quanto a te manterem incluso em tudo. Quanto mais diversos for, terão mais ideias e poderão utilizar essas culturas diferentes", diz o brasileiro, contando que hoje há mais sete conterrâneos trabalhando na Pixar.
O brasileiro já engatou um segundo filme, "O Bom Dinossauro", com previsão de estreia para dezembro, e está de olho na sequência de "Os Incríveis", que ele diz estar entre suas animações preferidas, ao lado de "Ratatouille" e "Toy Story". Cláudio também pensa em se aventurar na direção futuramente. "Tenho muita vontade, mas ainda não sei o que seria", despista ele, que pensa em apresentar alguma ideia para o estúdio.
É claro que o sonho também tem seus reveses, e o principal deles é a distância da família, que continua no Brasil. "Para mim, a dificuldade maior foi a de deixar a família e amigos para trás. Infelizmente, esse e um preço que a maioria dos imigrantes têm que pagar", diz ele, acrescentando que, "por outro lado, o enriquecimento cultural e a perspectiva diferente foram muito valiosos para o meu crescimento pessoal".
Enquanto não pode vir ao Brasil nas férias, o filho Sebastian, 4, pode se divertir pelos corredores da Pixar, onde as famílias dos funcionários têm entrada livre, com direito a espiadas na coleção de bonecos de Jonh Lasseter, o chefão criativo do estúdio e da Disney Animations.
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