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Futebol, show, ópera: "não filmes" viram tendência nas salas de cinema

Torcida assiste a jogo do Brasil na Copa 2014 em cinema de Ribeirão Preto (SP) - Fabio Melo/Folhapress
Torcida assiste a jogo do Brasil na Copa 2014 em cinema de Ribeirão Preto (SP) Imagem: Fabio Melo/Folhapress

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

22/06/2015 16h54

Foi-se o tempo em que o combo pipoca e sala de cinema era sinônimo de filme nas tela. Na contramão da crise econômica, os exibidores brasileiros vêm apostando em um formato cada vez mais frequente e lucrativo: os chamados conteúdos alternativos. Geralmente exibidos ao vivo, eventos esportivos, shows, óperas, balés, musicais e até episódios de seriados hoje dividem espaço na programação com blockbusters.

Fruto da digitalização dos cinemas, o conceito nasceu nos Estados Unidos e existe no Brasil há cinco anos. A ideia é estender a experiência única da sétima arte a outras formas de entretenimento, atraindo às salas um público não necessariamente interessado em filmes.

“Nossa ideia é diversificar o produto e preencher lacunas dentro do calendário. A gente não quer concorrer com os filmes, mas complementá-los”, diz Laudson Diniz, gerente-executivo da Cinelive, pioneira na transmissão digital via satélite para cinemas no país.

Imagem da ópera do Metropolitan ?A Viúva Alegre?, exibida ao vivo nos cinemas brasileiros em janeiro - Divulgação - Divulgação
Imagem da ópera do Metropolitan "A Viúva Alegre", exibida ao vivo nos cinemas brasileiros em janeiro
Imagem: Divulgação

No currículo estão transmissões de espetáculos de balé e ópera do The Royal Opera House, de Londres, e do The Metropolitan, de Nova York. Mas a “menina dos olhos” são os eventos esportivos.

“Brinco dizendo que o único lugar que se assemelha a uma extensão da arquibancada é o cinema. E tem outras vantagens. Na ópera, por exemplo, a visão de quem está no cinema é mais privilegiada do que a de quem está no teatro, com 10, 12 câmeras servindo de olhos. E, dependendo do lugar em que você está, o som não é tão bom. Quando você sai da imersão da sala de cinema, dá para perceber a grande diferença.”

O discurso de Diniz encontra argumento nos números. O público e o número de salas desse tipo de evento vem crescendo exponencialmente no Brasil.

Apenas a final da última edição da Uefa Champions League, entre Barcelona e Juventus, foi vista por mais de 25 mil espectadores, contra 14 mil no ano passado. A plateia do Super Bowl, a final do ainda pouco popular futebol americano, triplicou no mesmo período, de 3.000 para 9.000 ingressos vendidos. Ambos entraram para o top 10 de atrações mais vistas nos cinemas brasileiros na semana em que foi transmitido.

A experiência, claro, é diferente de assistir a um evento in loco. Além de não poder ver seu ídolo em carne e osso, o preço é outra das desvantagens. Devido aos custos operacionais da transmissão via satélite e a exibição geralmente em sessão única, o valor costuma ser mais salgado, passando dos R$ 60. Mas, segundo espectadores ouvidos pelo UOL, há atrativos que compensam.

“É uma alternativa mais próxima de estar lá. Quando você vai a uma arena ou teatro, muitas vezes você vê longe ou também olha no telão. E o áudio pode ser comprometido, dependendo da infraestrutura. Não é melhor, mas bem válido”, diz o professor Elton Queiroz, um dos espectadores em São Paulo da transmissão do show da boy band Take That, direto de Londres, realizada na última sexta (19).

“É uma forma de atender quem é fã e não pode viajar ou  ir para lá.  Eles nunca vieram para o Brasil. E é bem melhor do que esperar o DVD”, conta a farmacêutica Mayna Fukushima, que também foi assistir à apresentação do grupo no cinema do shopping Eldorado, um dos 15 do país que receberam a exibição.

Anúncio da exibição de show ao vivo do Take That, transmitido em 15 salas no Brasil - Divulgação - Divulgação
Anúncio da exibição de show ao vivo do Take That, transmitido em 15 salas no Brasil
Imagem: Divulgação

Retorno financeiro

Incipiente, o mercado de conteúdo alternativo ainda está em fase de consolidação no Brasil. Segundo os cinemas, os “não filmes” ainda dependem de um calendário regular para gerarem grandes cifras. Ainda assim, são vistos como tendência. O próximo passo é abrir ainda mais o leque de atrações, abrangendo também o universo dos games.

“Claro que não dá para alcançar a bilheteria dos filmes. Em evento esportivo a gente alcança 10 mil, contra 100 mil em um dia de blockbuster. Mas são proporções diferentes. Para nós, sempre vale a pena”, diz Bettina Boklis, diretora de marketing da rede Cinemark.

“Não diria que o retorno financeiro é garantido, mas existe uma probabilidade maior. No caso da Champions League, a audiência nas nossas salas cresceu 117,14% desde 2012. Na última edição, no dia 6 de junho deste ano, a Champions League teve uma participação de 24% na bilheteria total do dia nas salas da rede”, afirma Patricia Cotta, gerente de marketing da Kinoplex.