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Documentário mostra última luta de líder indígena antes de ser assassinado

Do UOL, em São Paulo

24/06/2015 15h57

Pouco depois de concluir seu mais recente documentário, “A nação que não esperou por Deus”, filmado entre os índios kadiwéu, a cineasta Lucia Murat recebeu a notícia de que seu protagonista havia sido assassinado. O Cacique Ademir Matchua foi morto a tiros no dia 11 de dezembro de 2014 dentro de sua própria reserva, em um crime cometido por outro kadiwéu.

No vídeo acima, a equipe comenta sobre o ocorrido e sobre como o assassinato reforça a tese do filme, de que é preciso observar com atenção as disputas políticas entre índios e pecuaristas. "A notícia do assassinato do Cacique Ademir foi um choque muito grande”, diz a diretora. “Para mim significa perder alguém que tinha se tornado um amigo, um jovem que eu tinha conhecido durante as filmagens de ‘Brava Gente Brasileira’ e que nos surpreendeu 15 anos depois pela coragem, tranqüilidade e sabedoria com que lidava com os pecuaristas num conflito extremamente difícil e delicado”.

“Mais do que tudo, a perda de Ademir é uma grande perda para a luta dos indígenas no Brasil”, completou Lucia Murat. “Se você tem dúvidas sobre o que é ser índio no Brasil hoje você devia ter conhecido Ademir. Você ia ter vontade de ser índio como ele", concluiu.

O documentário

Em 1999, durante as filmagens de "Brava Gente Brasileira", Lucia Murat conheceu os índios Kadiwéu. Desde então, a luz elétrica chegou à aldeia e, com ela, a televisão. Cinco diferentes igrejas evangélicas se estabeleceram na reserva. O documentário “A nação que não esperou por Deus” conta como as terras indígenas estão ameaçadas pela exploração pecuarista e mostra, 15 anos depois, o reencontro da diretora com a comunidade.

A produtora, diretora e roteirista, Lucia Murat conta que as reuniões filmadas entre os Kadiwéu e os pecuaristas sobre a questão das terras e que estão apresentadas no documentário são “reveladoras”. “Não somente da situação atual, mas dos preconceitos que se acumularam na história da conquista”, diz”.

“A singularidade do projeto está no fato de termos o material filmado em três momentos diferentes, ao longo de 17 anos”, continua a diretora. “Com isso, podemos acompanhar a história da tribo durante um período de grande transformação, quando o contato com a sociedade branca se intensifica”, explica.