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"Muso" de John Green, Nat Wolff diz que prefere os clássicos da literatura

Eduardo Graça

Do UOL, em Los Angeles

09/07/2015 07h41

Alçado à categoria de ‘muso’ do escritor John Green, o ator Nat Wolff está presente nas adaptações para o cinema tanto do romance “A Culpa É das Estrelas” quanto de “Cidades de Papel”, que entra em cartaz no Brasil nesta quinta-feira (9).

Em entrevista ao UOL, o ator conta que, apesar de considerar Green um de seus melhores amigos, prefere ler os clássicos da literatura americana. Também diz que foi menos complicado dar vida a Quentin, protagonista de “Cidades”, do que a Isaac, que em “A Culpa” era o melhor amigo do protagonista Gus (vivido por Ansel Engort).

Wolff também acaba de ser dirigido por James Franco na adaptação do clássico “Batalha Incerta”, de John Steinbeck, para o cinema. Ao UOL ele falou sobre sua nova parceria com Green:

UOL - A diferença é grande entre seus papéis em “A Culpa É das Estrelas” e em “Cidades de Papel”. Agora você é o protagonista. A responsabilidade aumentou muito?
Nat Wolff - Não senti o peso de fazer um protagonista agora. Nada. Zero, honestamente. John (Green) é meu amigo pessoal, um dos meus melhores amigos, na verdade, e em geral a preocupação central dele é sobre como os fãs, os leitores, vão encarar o filme. E eu penso de modo parecido. Ou seja, fui leve como uma pluma viver o Quentin.

Traduza esse ‘melhores amigos’? John tem 37 anos, você ainda não fez 21...
Ah, a tal da diferença de gerações (risos). Eu sei que parece uma piada, mas ficamos mesmo unha e carne. Acho que nós dois temos o mesmo tipo de senso de humor estranho, e eu adoro fazer graça com ele. Eu faço uma imitação dele bem fiel, eu acho.

Pode dar uma palinha?
Ai, meu Deus...(a voz fica bem mais anasalada, típica do meio-oeste americano, pois Green mora em Indiana): “Oi, querido, eu sou o John Green, como você está hoje? Obrigado pelo seu tempo, viu?”. (risos). Eu amo o John, de verdade. Não é só o fato de ele ser um cara legal, ele participa dos filmes de uma forma muito mais integral do que ele precisaria.

Por exemplo?
Ele vai ao set o tempo todo. Durante as filmagens, ele está lá para tirar dúvidas, para apoiar. O tempo todo.

Nat Wolff

  • Marcello Sá Barretto / AgNews

    'A Culpa É das Estrelas' tem um fim interessante, triste, mas mais simples. Com a gente [em 'Cidades de Papel'], várias questões são deixadas no ar. Exatamente, insisto, como na vida real: qual a real natureza, intensidade e relevância da ligação dos personagens? O que acontecerá depois? Tivemos de imprimir todas as questões no filme, que é um meio muito mais estreito do que a literatura, e acho que fizemos muito bem.

    Nat Wolff
Como é que foi dividir a cena com a Cara (Delevingne)?
Por um destes mistérios da vida, eu era a única pessoa em Hollywood que jamais havia ouvido falar nela. Aí ela veio ao set e eu pensei: gente, mas quem é aquela pessoa? (risos). Olha, ela se tornou a Margo [personagem vivida pela atriz no filme]. Não tem como mais imaginar o personagem sem pensar nela, com aquela insana energia dela. Ela é a companheira de set mais espontânea que eu tive.

E você foi eleito para viver o Quentin antes mesmo de o roteiro ficar pronto...
Pois é, isso também foi inédito para mim. Os roteiristas acabaram me deixando participar do processo desde o começo. Foi bem especial, e fomos construindo o personagem juntos. Acabou que, voltando à primeira pergunta, “A Culpa É das Estrelas” foi bem mais complicado para mim, porque tive de criar uma linha narrativa para o Isaac. Filmava um dia e esperava outros montes em Pittsburgh, ruminando sobre como fazê-lo ainda mais interessante. Já o Quentin foi pensado desde o começo por toda a equipe criativa, e havia um caminho mais claro a ser percorrido.

Seu norte foi o de fazer com que jovens mundo afora pudessem de fato se reconhecer no personagem?
Para mim foi uma espécie de máquina do tempo. Voltar ao colégio e lembrar de como era minha vida na escola em Nova York. Há uma certa inocência nele. Neles todos, aliás. Foi difícil sair daquele mundo quando terminamos as filmagens. Mas o modelo fui eu mesmo mais jovem, com 13, 14, 15 anos.

E quem é o seu Quentin, afinal?
Um cara legal, que se protege pacas. Foi o jeito que encontrou para sobreviver na selva da escola, da vida real. E que encontra em Margo o gatilho para que ele possa descobrir, e aí vou repetir sua pergunta em minha resposta, quem de fato ele é. Ele me fez ter ainda mais vontade de ser melhor como ator, como pessoa, como artista.

Imagino que você a esta altura tenha lido todos os livros do John (Green). Quais outros livros voltados para jovens adultos estão na sua cabeceira?
Honestamente? Eu gosto é dos clássicos (risos) da literatura americana. Fitzgerald, Hemingway, Salinger, livros que meu pai me indicou. Tenho esta mania de ler toda a obra de um autor que gosto, do primeiro ao último livro, e aí passar para o próximo. Acabei de reler, no entanto, “Franny e Zoey”, do [J.D.] Salinger, e recomendo a todos os meninos e meninas que estão lendo esta entrevista. Compre e leia!

O John (Green) diz que a parte mais complicada na hora de Hollywood topar a adaptação de “Cidades de Papel” para o cinema do jeito que ele queria foi convencê-los a não alterar o fim...
Eles achavam que do jeito que estava não era um ‘final feliz’...

Mas é, não?
Sim, claro! É um fim complexo, como a vida. “A Culpa É das Estrelas” tem um fim interessante, triste, mas mais simples. Com a gente [em "Cidades de Papel"], várias questões são deixadas no ar. Exatamente, insisto, como na vida real: qual a real natureza, intensidade e relevância da ligação dos personagens? O que acontecerá depois? Tivemos de imprimir todas as questões no filme, que é um meio muito mais estreito do que a literatura, e acho que fizemos muito bem. Inclusive com nosso, sim senhor, final feliz. Ao nosso modo.