Omar Sharif morre no Cairo aos 83 anos após sofrer ataque cardíaco
Omar Sharif, o ator egípcio conhecido por seus papéis em filmes clássicos como "Doutor Jivago" (1965), "Lawrence da Arábia" (1962) e "Funny Girl - A Garota Genial", morreu nesta sexta-feira em um hospital no Cairo, após sofrer um ataque cardíaco. A informação foi dada por seu agente, Steve Kenis.
Em maio deste ano já havia sido anunciado que Shariff sofria de mal de Alzheimer. "Ele morreu esta tarde de um ataque cardíaco no Cairo. Ele estava em um hospital especializado para pacientes com Alzheimer", declarou o agente do ator à agência de notícias AFP, em Londres.
O ex-ministro egípcio das Antiguidades e egiptólogo renomado, Zahi Hawwas, que era um amigo próximo de Sharif, confirmou a morte do ator em uma clínica do Cairo, onde foi internado há um mês, afirmando que o velório pode acontecer no domingo. "Seu estado psicológico se deteriorou muito, ele não comia nem bebia mais", afirmou Hawwas também à AFP.
Com o sucesso mundial de "Lawrence da Arábia", dirigido por David Lean e também estrelado por Peter O'Toole, o ator egípcio ganhou fama mundial, graças ao seu carisma e o seu trabalho no filme, que lhe rendeu uma nomeação ao Oscar de ator coadjuvante. O mesmo papel lhe rendeu o Globo de Ouro de ator revelação. Em 1966, o ator recebeu outro Globo de Ouro, por seu papel como protagonista em "Doutor Jivago".
Com o sucesso alcançado por "Lawrence da Arábia", Sharif se tornou o primeiro ator de origem árabe a ter fama mundial e logo se tornou um artista requisitado em Hollywood. Só em 1964 ele fez três filmes, incluindo "A Voz do Sangue" e "O Rolls-Royce Amarelo", e em 1965 foi escalado por outros três, sendo um deles "Doutor Jivago", seu primeiro papel de protagonista em um filme falado em inglês, que lhe rendeu o Globo de Ouro.
Graças ao seu sotaque continental, o ator podia interpretar papéis de diferentes nacionalidades. Em "A Voz do Sangue", ele vivia um espanhol; em "Jivago", um russo; em "Gengis Khan (1965), um mongol; em "Funny Girl", um jogador judeu de Nova York, e em "A Noite dos Generais", um major alemão durante a Segunda Guerra Mundial.
No entanto, segundo o site da revista "Variety", houve uma pequena controvérsia a respeito de seu papel em "Funny Girl". Quando ocorreu a Guerra de Seis Dias, entre Israel e países árabes --incluindo o Egito-- em 1967, os executivos da Columbia Pictures consideraram substituir Sharif. Mais tarde, quando foi publicada a descrição de uma cena romântica feita pelo ator com Barbra Streisand, a imprensa egípcia deu início a um movimento para revogar a cidadania de Sharif.
Outros filmes significativos estrelados por Sharif nos anos 1960 foram o faroeste "O Ouro de MacKenna", com Gregory Peck e Telly Savalas, e a trágica história de amor política "Mayerling", na qual Sharif fazia par romântico com Catherine Deneuve.
Nos anos 1970, Sharif continuou trabalhando bastante, mas seus filmes já não eram tão marcantes. Um deles foi o suspense "Sementes de Tamarindo", de Blake Edwards, com Julie Andrew, além de outro suspense: "Juggernaut: Inferno em Alto-Mar".
Desde a metade dos anos 1980, Sharif retornou esporadicamente ao cinema egípcio, onde começou sua carreira. Naquela década, ele também atuou na comédia "Top Secret! Super Confidencial", de Jim Abrahams e David e Jerry Zucker (mesmos diretores de "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu".
Em 2003, Sharif foi aclamado por seu papel em "Uma Amizade sem Fronteiras", de François Dupeyron, no qual ele vivia um comerciante turco muçulmano que se torna uma figura paterna para um garoto judeu em Paris. Apesar de este ter sido considerado um "ressurgimento" da carreira do ator, ele na verdade nunca havia parado de trabalhar regularmente nas décadas anteriores, tanto no cinema quanto na TV. E continuou trabalhando depois. No mesmo ano de "Uma Amizade...", Sharif atuou na série de 23 episódios "Petits Mythes Urbains", da TV francesa, na qual ele interpretava um misterioso taxista --ele ainda trabalhou como roteirista da série.
Sharif ainda teve uma atuação elogiada no faroeste "Mar de Fogo", de 2004, no qual contracenou com Viggo Mortensen. Também trabalhou nas minisséries "Ten Commandments" e "The Last Templar", respectivamente das emissoras americanas ABC e NBC. No mesmo ano, trabalhou como narrador no documentário sobre a Pré-História "10.000 A.C".
Em 2013, o ator apareceu como ele mesmo em "Um Castelo na Itália", de Valeria Bruni Tedeschi, e no filme franco-marroquino "Rock the Casbah".
Vida pessoal e início da carreira
Sharif, cujo nome de batismo era Michel Dimitri Shalhoub, nasceu na Alexandria, em uma família libanesa adepta do rito grego-católico melkite. Mais tarde, se converteu ao islamismo para se casar com a atriz egípcia Faten Hamama --posteriormente, o ator confessou ser agnóstico. Ele e Faten tiveram um filho, Tarek El-Sharif, que atuou em "Doutor Jivago" vivendo o mesmo personagem do pai na infância. O casal se separou em 1966 --um ano após o ator se mudar para a Europa.
Segundo o próprio Sharif, ele decidiu se divorciar porque "rodeado por belas mulheres, estava convencido de que acabaria me apaixonando por alguém e não queria humilhá-la [Faten], nem impedir que ela refizesse sua vida". Eterno galã, o ator de bigode elegante e voz rouca acabou nunca mais se apaixonando e negou a maioria de suas conhecidas conquistas amorosas.
Sharif se interessou pela atuação durante a juventude, quando estudava no Victoria College, uma escola de prestígio da Alexandria. Seu primeiro papel no cinema foi no filme egípcio "The Blazing Sun" (1954), dirigido por seu amigo Youssef Chahine e exibido no festival de Cannes. Logo em seguida ele se casou com Faten Hamama, que já era considerada uma grande atriz no cinema egípcio. O casal atuou junto em diversos filmes, incluindo o melodrama "Sleepless" (1957) e uma adaptação do romance "Anna Karenina", de Leon Tolstoi, intitulada "The River of Love" (1960). Os papéis do ator nesses filmes, incluindo cinco que ele fez com o diretor Salah Abouseif, mostravam que ele possuía uma sensualidade vibrante, complementada por uma inteligência emocional marcante.
A partir de 1956, Sharif começou a aparecer em produções internacionais, sendo a primeira delas "A Aventureira do Oriente", de Richard Pottier. Mas só em "Lawrence da Arábia" ele passou a fazer parte de projetos de grande porte. Raramente satisfeito com suas performances, ele costumava dizer: "Fico contente com dez segundos de um filme e dez segundos de outro". Também chegou a admitir ter rodado "filmes muito ruins" por necessidade.
O ator também era famoso por ser um jogador profissional de bridge --escreveu um livro sobre o esporte, e jogos de videogame levam o seu nome-- e por gostar de frequentar corridas de cavalo e cassinos, para "enganar sua solidão", segundo dizia. "Todo o dinheiro que eu ganho, eu perco. Quando eu tenho dinheiro, sou obrigado a gastá-lo, mas não me incomodo", assegurou. Para pagar suas dívidas de jogo, chegou a vender o único apartamento que possuía, em Paris.
De humor refinado, Sharif preferia levar uma vida de "nômade". "Eu sou o único ator do mundo que é um estranho em toda parte. Tinha sempre a mala pronta, estava sempre em hotéis de luxo, como um 'convidado'", contou ele, que passou muitos anos vivendo entre a França, a Itália e os Estados Unidos, antes de voltar para seu país natal.
Coroado em 2003 com o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza pelo conjunto de sua carreira, recebeu em 2004 o César francês de melhor ator por "Uma Amizade sem Fronteiras". Em novembro de 2005, Sharif recebeu a medalha Sergei Eisenstein, da Unesco, em reconhecimento de suas contribuições significativas para o cinema e a diversidade cultural.
Ele deixa um filho e dois netos: Karim e Omar Sharif Jr., que também é ator. Sua ex-mulher, Faten Hamama, morreu em 17 de janeiro deste ano, também no Cairo aos 83 anos.
Veja abaixo cenas do clássico "Doutor Jivago" ao som de "O Tema de Lara", vencedora do Oscar de melhor canção original em 1966 (o filme também levou mais quatro Oscars: de roteiro, fotografia, figurino e direção de arte):
*Com informações da AFP
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