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Terror rodado em cidade do MS mescla Jason e "Massacre da Serra Elétrica"

Luna D'Alama

Do UOL, em São Paulo

01/08/2015 07h00

Misturando elementos de filmes clássicos de terror como “O Massacre da Serra Elétrica” (1974) e “Sexta-feira 13” (1980), além do trash “Motel Diabólico” (1980), o longa nacional “Condado Macabro” mostra a história de cinco amigos que resolvem alugar uma casa no interior para se divertir durante um feriado, mas logo se tornam vítimas de um verdadeiro banho de sangue.

Estrelado por Leonardo Miggiorin, o filme tem entre os seus vilões uma dupla de palhaços e um brutamontes chamado Jonas (anagrama de Jason), além de sua irmã sádica. Ao lado de Miggiorin, atuam Francisco Gaspar e Fernando de Paula (palhaços), Beto Brito (Jonas), Marcela Moura (irmã), Paulo Vespúcio (que faz um investigador de polícia), Bia Gallo, Rafael Raposo, entre outros.

O longa, que tem direção dos estreantes Marcos DeBrito e André de Campos Mello, terá duas sessões gratuitas: neste sábado (1º), às 21h, no Memorial da América Latina, e na quinta-feira (6), às 16h, no Cinusp da Cidade Universitária, como parte da programação do 10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, que teve início na última quinta (30) e vai até o dia 7 de agosto na capital paulista. É preciso retirar o ingresso com uma hora de antecedência.

Leonardo Miggiorin

  • Divulgação

    Foi meu primeiro longa num esquema independente, com poucos recursos. Mas eu já tinha feito um curta do Marcos [DeBrito] em 2006, então viajei entre amigos. A galera é ponta firme. E gostei muito do resultado, ficou bem profissional, de primeira qualidade

    Leonardo Miggiorin

Apesar de estar pronto desde 2013, “Condado Macabro” ainda não foi lançado em salas comerciais, o que pode acontecer neste segundo semestre. Mesmo antes da estreia oficial, o filme já ganhou o prêmio de melhor longa-metragem do 11º Fantaspoa (Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre), em maio.

“Mesclamos o estereótipo americano de adolescentes em perigo com elementos bem brasileiros, como palhaços e música brega. A história começa leve, mas de uma hora para a outra dá uma virada e se transforma em algo extremamente violento. As cenas fortes servem para deixar o público esperto, mas também há uma identificação com os personagens, sentimos pena deles”, adianta o diretor Marcos DeBrito, que faz um tributo aos filmes dos subgêneros gore e slasher, ou seja, com muito sangue e psicopatas assassinos –como o Freddy Krueger de “A Hora do Pesadelo” (1984).

Nascido como um curta-metragem em 1999, quando DeBrito e Campos Mello ainda estavam na faculdade de cinema, a “versão estendida” de “Condado Macabro” foi rodada no início de 2012, com apenas R$ 20 mil –apesar disso, o projeto prevê uma verba total de R$ 510 mil (R$ 290 mil já foram liberados pelo Programa de Ação Cultural/ProAC para finalização e outros R$ 200 mil devem sair do Fundo Setorial do Audiovisual/FSA). Para conter os custos, na época, as filmagens ocorreram na casa da família de DeBrito, em Paranaíba (MS).

Marcos DeBrito

  • Ficávamos 72 horas sem dormir direito, só umas duas ou três horas por noite. Desmaiei de sono uma vez. Um integrante da equipe pegou insolação, foi desumano. E isso, felizmente nesse caso, passou para o resultado final

    Marcos DeBrito, diretor

O elenco também precisou deixar o glamour de lado e pôr a mão na massa: Miggiorin, segundo o diretor, até bateu claquete. “Foi meu primeiro longa num esquema independente, com poucos recursos. Mas eu já tinha feito um curta do Marcos [DeBrito] em 2006, então viajei entre amigos. A galera é ponta firme. E gostei muito do resultado, ficou bem profissional, de primeira qualidade”, elogia o ator, que é mais fã de comédias e produções de Quentin Taratino, como “Kill Bill”, mas gosta de filmes de terror e suspense como “O Sexto Sentido”, “Os Outros”, “Paranormal” e “Os Inocentes”.

Segundo Miggiorin, “Condado Macabro” tem entre os seus trunfos ser uma história bem contada, ter boa dinâmica e momentos de humor. “As imagens são impactantes, deixam o espectador envolvido. É algo meio kitsch”, avalia o artista, que atualmente estrela em São Paulo o musical “Memórias de um Gigolô”, de Miguel Falabella, e também atuou neste ano, ao lado de Matheus Nachtergaele, na série biográfica “Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins”, sobre o criador do personagem Zé do Caixão, que deve estrear em setembro, no canal pago Space. “Faço um policial que tenta interromper as filmagens, mas depois acaba fazendo parte do elenco”, antecipa Miggiorin.

Em “Condado Macabro”, toda a tensão vista na tela também foi vivida na pele pelo restante da equipe, revela o diretor DeBrito. “Ficávamos 72 horas sem dormir direito, só umas duas ou três horas por noite. Desmaiei de sono uma vez. Um integrante da equipe pegou insolação, foi desumano. E isso, felizmente nesse caso, passou para o resultado final”, diz.

Na opinião do jornalista e pesquisador do cinema de horror Carlos Primatti, “Condado Macabro” é um filme “bonito e bem acabado”. “A finalização e o tratamento de cor e som foram feitos em estúdio profissional. Aposto nesse filme para conquistar o público, que muitas vezes não imagina que uma produção desse tipo possa ser feita aqui. E o melhor é que, apesar da inspiração estrangeira, ele tem a cara do Brasil”, destaca Primatti.

Censura 18 anos
Embora a equipe torcesse para que o filme tivesse classificação indicativa de 16 anos, ele recebeu censura para 18, por “mau gosto, linguajar chulo, violência e nudez frontal”. DeBrito e Miggiorin consideram que a medida foi excessiva. “A história realmente tem partes pesadas, mas também tem muito humor para equilibrar. Algo que ‘Jogos Mortais’, que é censura 16, por exemplo, não tem. Mas aí entram os lobbies das grandes distribuidoras por trás”, aponta o diretor. “Até a palavra ‘cagão’ foi considerada como linguagem inapropriada”, ri, incrédulo.

“O mundo está precisando de mais interpretação. Até um filme de ficção, que é puro entretenimento, de repente vira apologia à violência e à crueldade. Há determinados tabus e questões sobre os quais ainda deveríamos poder falar, de forma bem-humorada ou irônica”, desabafa o diretor. Miggiorin completa: “A classificação indicativa é importante, é um cuidado necessário, mas não pode ser tão radical, isso beira a hipocrisia.”

DeBrito sabe que essa classificação restrita pode se refletir em uma queda brusca de bilheteria, pois exclui a faixa dos adolescentes entre 16 e 18 anos, normalmente fãs de filmes de terror. “Uma das condições para baixar a censura seria remontar o longa. Mas eu não faria algo do tipo em 2015”, analisa. A mesma censura, e consequente queda nas bilheterias, ocorreu em 2008 com “Encarnação do Demônio”, de José Mojica Marins.

Apesar de se inspirar em “Zé do Caixão”, porém, DeBrito não se espelha na carreira do diretor “maldito”. “Ele é muito reconhecido lá fora, cultuado por quem faz cinema, mas o público não gosta. Não quero ter a sombra dele, quero que meus filmes sejam vistos”, ressalta o diretor de “Condado Macabro”.

Além desse filme, a mostra “Contemporâneos” do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo traz outras produções de terror, como o nacional “As Fábulas Negras”, que reúne quatro diretores (entre eles, Mojica), e o argentino “Natureza Morta”, de Gabriel Grieco.