Topo

Para diretor, é impossível transformar "O Pequeno Príncipe" em filme

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

19/08/2015 13h09

Mark Osborne (“Kung Fu Panda”), diretor de "O Pequeno Príncipe",  acredita que todos que já leram a obra de Antoine de Saint-Exupéry (1900 -1944) têm uma história muito particular com o livro. A dele, aconteceu quando tinha 19 anos e ganhou um exemplar de sua então namorada.

“Ela me deu a cópia que tinha desde a infância. Na época, estávamos tendo um relacionamento à distância e era muito difícil. O livro ajudou a nos manter conectados e a me mostrar o caminho que queria seguir na animação”, contou Osborne, ao UOL.

Por essa ligação afetiva que todos têm com o livro, quando foi convidado para dirigir a nova adaptação da obra, que chega aos cinemas nesta quinta (20), ele não pensou duas vezes. Disse não.

“Acho que o primeiro convite foi feito de maneira errada. Queriam saber se eu topava fazer uma grande animação do livro. Eu achava que era muita pretensão. Você não pode simplesmente fazer um filme desse livro, porque a magia dele está justamente na experiência da leitura”, acredita. 

Mark Osborne

  • Divulgação

    Você não pode simplesmente fazer um filme desse livro porque a magia está justamente na experiência da leitura

    Mark Osborne

“Melhor que adaptar o livro seria tentar contar a experiência que tivemos”, diz. Com isso claro para o estúdio Paramount, o diretor topou tocar o projeto e colocou em cena uma garotinha de oito anos, que vive sob os cuidados de uma mãe rígida. Obrigada a estudar nas férias para passar em um concorrido colégio, a garota, dublada no Brasil por Larissa Manoela ("Carrossel"), descobre o livro graças à ajuda de um vizinho excêntrico, um aviador.

“[Hayao] Miyazaki (‘A Viagem de Chihiro’) tem razão ao dizer que esse livro é um diamante. Ao invés de tocá-lo, decidimos preservá-lo e prestar uma homenagem à obra. Isso permitiu que a história da personagem decolasse”. Ao “decolar”, a garotinha, através do livro, aprende lições de amizade, perda, conexão, amadurecimento e preservação da infância.

Exibido no Festival de Cannes deste ano, o filme foi elogiado por trazer uma mulher no papel principal em um ano em que se discutiu muito a ausência de personagens femininos fortes, algo que que Osborne diz ter sido proposital. “O único personagem feminino do livro é a rosa. Decidi que a protagonista seria uma menina para balancear a história. ‘Frozen’, ‘Divertida Mente’ e o próprio Myiazaki trazem meninas para o centro da trama. Tudo isso é inspirador”.

O diretor, no entanto, diz que não se considera ousado pela inovação no roteiro, mas ingênuo. “Fui suficientemente ingênuo para acreditar que poderia honrar o livro adequadamente. Quando você não tem a dimensão de quão louco é um projeto, você consegue mais do que se tivesse consciência disso”, afirma.

Para a nova versão, Osborne diz que teve a bênção da família do autor francês. Desde 1º de janeiro de 2015, quando a morte de Saint-Exupéry completou sete décadas, a obra caiu em domínio público. No entanto, o diretor diz que não faria sem a aprovação da família. “Era importante para mim fazer algo que eles gostassem. A família conhece a essência da obra melhor do que ninguém. Era importante que eu continuasse conectado com eles”.

Novas gerações

Dubladora da garotinha na versão brasileira de "O Pequeno Príncipe", a atriz Larissa Manoela lamenta que as crianças de hoje não leiam mais a obra de Antoine de Saint-Exupéry.

"Eu sei que é meio complicado ver um adolescente ou uma criança que hoje esteja lendo um livro, porque realmente está bastante complicado. As crianças só querem saber da tecnologia, dos celulares. Eu acho que tudo isso faz parte, são fases. Mas o livro é muito lindo, encanta todo mundo", disse ela, em entrevista ao UOL.

Ela própria já conhecia a história, publicada originalmente em 1943. "Sempre me emocionei muito".