Nova adaptação para o cinema acerta em atualizar "O Pequeno Príncipe"
A nova adaptação de “O Pequeno Príncipe”, que acaba de chegar aos cinemas brasileiros, acerta em atualizar a obra mais famosa do francês Antoine de Saint-Exupéry, intercalando a história do principezinho com a de uma pequena garota que pode representar muitas das crianças de hoje.
Na animação dirigida por Mark Osborne ("Kung Fu Panda"), a pequena protagonista –que, como o príncipe da história de Saint-Exupéry, não tem o nome revelado– leva uma vida extremamente regrada. Sua mãe procura transformar seu cotidiano em uma máquina perfeita, com os dias divididos em minutos e atividades cronometradas para que tempo algum seja desperdiçado. O objetivo maior é fazer com que a garota estude o suficiente para entrar na Academia Werth, o lugar que escolhe seus pequenos alunos perguntando “o que você vai ser quando crescer?”, e que poderia fazer dela uma ótima adulta, daquelas que dedicam sua vida ao trabalho e não desperdiçam energia com besteiras como se divertir.
Contudo, quando a mãe e a garota se mudam para uma nova casa, a menininha conhece o estranho velho que mora na residência ao lado, totalmente diferente do padrão das outras moradias do típico bairro de classe média. Logo a mocinha descobre que o senhor, tido por seus vizinhos como maluco, passa seus dias tentando fazer com que seu antigo avião volte a voar.
Enquanto a mãe da garota está no trabalho, a pequena começa, então, a se aproximar do excêntrico vizinho, deixando seus regrados afazeres aos poucos de lado. É aqui que começa a se desenrolar a discussão mais importante do filme: como o mundo, hoje, está adulto demais, com as crianças cada vez mais atarefadas, assoberbadas, cobradas e com menos tempo e espaço para serem simplesmente crianças, enquanto os próprios adultos, por sua vez, nutrem um olhar pragmático e mecânico sobre tudo, sufocando totalmente o lado infantil que poderiam ter dentro de si.
O contato entre a mocinha e o velho aviador se estreita quando ele apresenta a ela as primeiras páginas de “O Pequeno Príncipe”, e logo descobrimos que aquele homem é justamente o narrador do livro de Saint-Exupéry, que encontra o principezinho no deserto do Saara após um acidente com seu avião.
A partir de então, a história clássica da literatura vai pontuando, provocando debates, intercalando e, ao fim, se misturando à narrativa original proposta por Mark Osborne. Os personagens inesquecíveis –a flor, a raposa, a cobra...– estão todos na história, bem como o arsenal das frases de efeito que, de tão gastas, há tempos já se transformaram em clichês (“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”, por exemplo).
Aliás, nesse ponto cabe uma ponderação. A opção por dublar os trechos referentes ao livro com uma tradução para a segunda pessoa apenas acentua ainda mais o desgaste pelo qual frases e ideias como “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” já passaram.
Isso não prejudica o conjunto, no entanto. A adaptação é um bom filme, com potencial para agradar não só aos fãs do livro, e que dá uma oportunidade para que se revisite a obra completa de Saint-Exupéry, inclusive. Como indicou Mônica Cristina Corrêa, estudiosa da vida e da obra do autor, em entrevista ao UOL, o francês fez muito mais em sua carreira do que apenas escrever o livro –e agora filme?– favorito das misses.
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