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Autor de Perdido em Marte deixa engenharia e vira consultor de Ridley Scott

Andy Weir, autor de "Perdido em Marte", no Centro de Missões da Nasa, em Houston - James Blair/Nasa/Divulgação
Andy Weir, autor de "Perdido em Marte", no Centro de Missões da Nasa, em Houston Imagem: James Blair/Nasa/Divulgação

Ramon Vitral

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/09/2015 07h00

Por trás de um dos mais aguardados blockbusters do cinema norte-americano em 2015, está o escritor Andy Weir. "Perdido em Marte", que chega no Brasil no dia 1º de outubro, é uma adaptação do primeiro romance do autor, lançado em 2014 no país pela Editora Arqueiro. A versão para o cinema, encabeçada por Matt Damon, tem direção de Ridley Scott, que busca a credibilidade perdida nos últimos cinco anos com fracassos entre público e crítica como "Robin Hood" (2010), "Prometheus" (2012) e "Êxodo: Deuses e Reis" (2014).

Ambientado em um futuro não muito distante no qual um astronauta da Nasa é esquecido em outro planeta pela tripulação de sua missão, "Perdido em Marte" também é o ponto alto de um enredo hollywoodiano protagonizado por seu próprio escritor, de 43 anos. Em setembro de 2012, Weir publicou de forma independente na Amazon um e-book batizado de "The Martian" (O Marciano, em tradução livre). Por US$ 0,99, o leitor adquiria a versão integral de uma história publicada previamente pelo autor em seu site pessoal.

Matt Damon com Andy Weir - Reprodução - Reprodução
Matt Damon com Andy Weir durante evento de divulgação do filme
Imagem: Reprodução

Em três meses saíram mais de 35 mil cópias e veio a entrada no ranking de ficções científicas mais vendidas da Amazon naquele período. Em seguida, Weir assinou com um agente literário, que vendeu os direitos do livro para a Crown Publishing. Na mesma semana, os direitos de adaptação da obra para o cinema foram comprados pelos estúdios Fox. A edição de "The Martian" pela Crown foi lançada em fevereiro de 2014, já com a produção do longa em andamento.

"Tem sido uma jornada maluca. Eu larguei em definitivo meu trabalho como engenheiro de software, e hoje estou trabalhando exclusivamente como escritor. No final das contas acabou dando bastante certo essa história de livro, né?", reflete Weir em entrevista por Skype para o UOL, falando de sua casa em Mountain View, na Califórnia.

O ânimo de Weir hoje é completamente diferente de sua postura quando o livro foi relançado pela Crown. Até o começo do ano passado, ele ainda trabalhava em tempo integral como engenheiro de software. Hoje, está com seu segundo livro previsto para sair no final de 2016. "Vai se chamar 'Zhek'. É uma ficção científica mais tradicional. Não é tão preciso cientificamente como o 'Perdido em Marte'. Tem aliens e viagens espaciais, além de velocidade da luz e coisas do tipo. Já completei três quartos do primeiro rascunho, e estou atrasado".

Segundo Weir, parte de seus atrasos são consequência de seu envolvimento nas filmagens do longa de Scott e na divulgação de sua obra. "Na verdade, eles não precisavam me incluir na produção. O meu único trabalho era sacar o cheque, uma ótima obrigação", conta aos risos. "Mas optaram pela minha participação, queriam a minha presença no set. Eles conversaram bastante comigo enquanto escreviam o roteiro e me enviavam cada nova versão para que eu desse um retorno. Fizeram algumas mudanças a partir das minhas sugestões e ignoraram outras, mas o roteiro é deles. Eles me ligavam para tirar dúvidas de informações científicas, então acabaram me utilizando como um consultor técnico", explica.

Fila de autógrafos na Nasa

Dentre os compromissos ao longo do último ano, o preferido de Weir foi uma visita à Nasa que terminou com uma fila de funcionários da agência espacial em busca de autógrafos. "A Nasa ama o livro, principalmente por ser preciso em relação à forma como narra a viagem espacial. Eles acreditam que ele pode chamar a atenção de mais gente para o programa espacial, talvez por retratar a Nasa como os mocinhos da história".

Fila de funcionários da Nasa - Lauren Harnett/Divulgação - Lauren Harnett/Divulgação
Fila de funcionários da Nasa à espera de Andy Weir para autografar o livro "O Marciano"
Imagem: Lauren Harnett/Divulgação

O herói protagonizado por Matt Damon é o botânico e engenheiro mecânico da missão Ares 3 Mark Watney. Tido como morto após um acidente em Marte, ele acorda com seus companheiros de tripulação já a caminho da Terra. Com suprimentos limitados, ele precisa pensar uma estratégia de sobrevivência em Marte enquanto a Nasa elabora um plano de resgate. "A razão de você estar vendo mais filmes como esses sendo lançados está relacionada a um maior nível de educação do público", justifica o autor quando questionado em relação à leva recente de ficções mais bem fundamentadas cientificamente, como "Gravidade" (2013) e "Interestelar" (2014).

Na avaliação de Weir, feitos humanos recentes no espaço também inspiram ainda mais a existência de ficções com o mesmo embasamento científico de sua obra. O pouso da sonda espacial Rosetta no cometa 67P/C-G em agosto de 2014 e a chegada da espaçonave New Horizons em Plutão no último mês de julho são dois exemplos utilizados pelo autor. "As pessoas gostam quando desvendamos esses mistérios".

Hollywood: a fronteira final

"Perdido em Marte" estava originalmente previsto para estrear no final de novembro de 2015. O adiantamento em mais de um mês levantou suspeitas que a Fox preferiu evitar qualquer proximidade com o blockbuster mais esperado do ano, "Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força", com estreia marcada para o dia 17 de dezembro no Brasil. Nerd assumido e fã dos personagens de George Lucas, Weir é mais um na espera pelo filme de J.J. Abrams. Especialista no espaço, no funcionamento de naves e foguetes e na dinâmica de astros, o autor diz que Hollywood ainda é um mistério a ser desvendado.

"Nos filmes, Hollywood é mostrado como esse lugar competitivo, cheio de trapaças, com vários babacas e pessoas sendo más umas com as outras, mas não é isso, é todo mundo solidário. Muitas vezes as pessoas dizem: 'Nossa, isso é ótimo, é um roteiro sensacional, um tremendo trabalho'. E, na verdade, eles acham que é uma porcaria. É que ninguém nunca diz algo negativo para você. Não é o lugar competitivo cheio de gente querendo te passar a perna. É um ambiente extremamente encorajador. A questão é essa: é encorajador além da conta".