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É difícil pro homem descer do palco, diz Muyalert sobre machismo no cinema

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

13/09/2015 07h00

A diretora Anna Muylaert participou do Bate-Papo UOL com o blogueiro Leonardo Sakamoto para falar do filme "Que Horas Ela Volta?", selecionado pelo Brasil para tentar uma vaga no Oscar.

Comentando um episódio em que os cineastas Cláudio Assis e Lírio Ferreira atrapalharam um debate sobre o filme no Recife, Muylaert diz que "é uma atitude natural do homem ver a mulher no centro do palco, protagonizando e ir lá e tomar o protagonismo pra ele e deixá-la novamente na lateral".

Pra ela, o episódio está superado, mas foi bom porque abriu o debate. "Pra nós mulheres, é muito mais difícil subir no palco, e pro homem é difícil descer. A gente está precisando aprender --a mulher a subir, e o homem a descer".

Questionada por Sakamoto sobre se o cinema é machista, a cineasta foi categórica: "Eu acho que o mundo é machista. É esse sistema de regras machista, coronelista, capitalista, pode botar tudo em um lado só. É uma mente que valoriza a vitória, que valoriza a hierarquia vertical. Enquanto a mente feminina valoriza não só poder, vitória e dinheiro. Eu acho que o filme é sobre educação. Educar um filho não vai te dar dinheiro, nem prêmio, nem nada. Mas se você tiver um filho bem educado, talvez seja o maior prêmio que alguém pode ter nessa vida. Mas isso não é valorizado", acredita.

"Já aconteceu de pessoas falarem com o fotógrafo para tomar decisões sem falar comigo, como se eu fosse a bobinha, isso bem no começo", conta. "Mas esse filme alcançou um nível de sucesso que me colocou num lugar dos coronéis do cinema brasileiro, em que até hoje só homem pisou, mas eu não sou coronel. E aí fica incômodo, às vezes, pras outras pessoas do meio".

Em "Que Horas Ela Volta?", Regina Casé interpreta a empregada doméstica Val, que deixou a filha em Pernambuco para trabalhar em São Paulo. Mas a chegada da jovem bagunça as relações aparentemente cordiais entre empregada e patrões. O filme, que está em cartaz, recebeu prêmios nos festivais de Sundance e Berlim e foi selecionado pelo Brasil para tentar uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro.