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Cinebiografia do N.W.A ganha "consultoria" de rappers para sair no Brasil

KL Jay - Enio / Divulgação - Enio / Divulgação
KL Jay, do Racionais MC's
Imagem: Enio / Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

19/10/2015 15h49

Um time de rappers brasileiros deu uma força para a chegada de “Straight Outta Compton – A História de N.W.A” ao Brasil. Com estreia prevista para 29 de outubro, a cinebiografia do seminal grupo de rap americano virou fenômeno nos cinemas dos Estados Unidos, desbancando "Missão: Impossível - Nação Secreta", mas sua estreia por aqui era até então incerta. Haveria interesse do público brasileiro na história de Eazy-E, Dr. Dre, Ice Cube, MC Ren e DJ Yella?

Responsável pela distribuição do longa, a Universal já estava de olho na movimentação nas redes sociais, mas o jogo só virou quando um grupo de notáveis na cena assistiu ao filme em uma sessão exclusiva em agosto. Estiveram lá os integrantes do Racionais MC’s (Mano Brown foi representado pela sua mulher, a empresária Eliane Dias, e o filho Jorge), Thaíde, Rodrigo Ogi, Rael, e o produtor Daniel Ganjaman.

Foi a segunda experiência da Universal com especialistas. A assessoria da produtora conta que a primeira aconteceu com “A Teoria de Tudo”, cinebiografia de Stephen Hawkins. Físicos serviram como guias para que as teorias explicadas pelo personagem Eddie Redmayne tivessem a tradução mais fiel – e clara -- possível.

No caso de “Straight Outta Compton”, a metafisica se deu na tradução de uma série de informações sobre a indústria fonográfica da época e, principalmente, as gírias.
Na primeira versão da legenda, por exemplo, uma garota é chamada de “popozuda”. Segundo a assessoria da Universal, a denominação não estará na versão para os cinemas a pedido dos “consultores”: soava antiquado.

Mano x truta

Um “gambé” [gíria paulista para polícia] no meio de um diálogo agradou, mas foi debatido após a sessão. Seria identificável em outros estados? “Quando rola gíria de São Paulo, é nossa gíria, é legal, vamos nos identificar. Mas e no Rio? E na Bahia?", questionou Thaíde.

A questão ficou ainda mais complexa com “mano” e “truta”, restritos a São Paulo. A solução da Universal foi usar “irmão”.

Em outra cena, um diálogo criou mais uma celeuma. Um personagem comenta a roupa dos N.W.A: “Não é porque vocês vão estão com o visual LL Cool J que vão conseguir o que querem”. Com receio de que LL Cool J não tivesse lastro entre os brasileiros, a tradução resumia o comentário a ‘”visual de mauricinho”.
 Nós crescemos junto com o N.W.A. Nos identificamos em vários momentos do filme por que a gente passou por tudo aquilo também
“Acho legal colocar realmente na íntegra. O LL Cool J é uma peça importante na história da formação do grupo e de outros. É bom que as pessoas podem saber quem ele foi”, comentou Thaíde. Mais uma sugestão acatada.

Thaíde aprovou a sessão especial para “especialistas”. Logo ele que sofria ao ver traduções malfeitas de seus filmes de cabeceira. “’Os Panteras Negras’ e ‘Malcolm X’, quando passavam na TV, surgiam com uma tradução sem cabimento. A gente ficava sem informação, porque eles não se importavam com isso”.

A consultoria também teve razão afetiva. Precursor do gangsta rap, o N.W.A ajudou a moldar o rap brasileiro que, a exemplo dos americanos, fizeram de letras uma crônica cruel e fidedigna da descriminação racial e a violência policial nos subúrbios. Pela grandeza e importância, o Racionais é o equivalente ao grupo no Brasil. “Nós crescemos junto com eles. Nos identificamos em vários momentos do filme por que a gente passou por tudo aquilo também”, observa KL Jay.

“O Brasil sempre esteve atrasado em relação aos Estados Unidos, aqui a realidade era ainda mais pesada. Na época a música não tinha tanta divulgação e alcance como lá. O Racionais, na época, não era conhecido nem em toda a São Paulo. Foi emocionante assistir. Os caras realmente foram um divisor de águas no rap”.