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Cineastas protestam contra fim de edital de R$ 8 mi; governo culpa crise

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

22/10/2015 18h23

O diretor André Klotzel, membro da diretoria da Apaci (Associação Paulista de Cineastas), explicou ao UOL por que um grupo de cineastas escolheu a abertura da 39ª Mostra de São Paulo, na noite desta quarta (21), para protestar contra o fim do edital estadual de R$ 8 milhões patrocinado anualmente pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

“Foram quase dois meses de tentativa de contato com o governador Geraldo Alckmin antes de vir a público, mas não tivemos retorno”, disse Klotzel. “Ano passado, com a crise hídrica, já tínhamos informações que estava difícil de pagar os vencedores do edital de 2014. O mais grave foi a falta de diálogo com o governador. Não só não teve fomento, como não teve diálogo”, reclamou o diretor e roteirista Rubens Rewald.

A Secretaria de Cultura do Estado, responsável pelo programa de Fomento ao Cinema Paulista, afirma ter havido redução dos recursos disponibilizados pelos patrocinadores devido “à crise de múltiplas dimensões que hoje compromete seriamente o desenvolvimento nacional” e que o audiovisual continua sendo atendido por outros programas. 

Na porta do auditório do Ibirapuera, antes da cerimônia, um grupo de cerca de dez cineastas vestia camisetas e esticava faixas com os dizeres “Fomento. Que Horas Ele Volta, Governador?”, em referência ao filme “Que Horas Ela Volta?”, da diretora Anna Muylaert, longa brasileiro que vai tentar uma vaga para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2016.

Criado em 2004, o edital da Sabesp destinava, segundo a Apaci, cerca de R$ 6 milhões a dez projetos em produção e os outros R$ 2 milhões a cinco ou seis em fase de finalização. O dinheiro vinha a partir de renúncia fiscal da companhia, via Lei do Audiovisual.

Entre as reclamações dos cineastas estão também da morosidade do repasse de verbas do governo de Alckmin à Spcine, agência de fomento a produção, distribuição e exibição de obras audiovisuais na capital paulista, criada em 2013 sob a promessa de um investimento de R$ 25 milhões por ano. 

“Agora estamos só com fundo setorial, um fundo federal. Com o cinema todo dependendo disso. Não tem alternativa. A única é tentar chamar a atenção. O pior foi que o governador fez uma promessa pública de entrar na SPcine, e ele não entrou. Dos R$ 25 milhões prometidos passou só 5 milhões”, afirmou André Klotzel. O UOL também pediu esclarecimentos à Secretaria de Cultura do Estado sobre esse repasse, mas não obteve resposta. 

Em vídeo gravado recentemente para a Apaci, a diretora Anna Muylaert afirma que o edital da Sabesp é uma ferramenta imprescindível para o cinema nacional, sendo decisivo para a produção de cerca 100 mil longas. “O fomento do Estado de São Paulo é sempre o primeiro aporte de um filme. É como moeda número 1 do Tio Patinhas. A partir do fomento, a gente consegue outros. Se não fosse o fomento, talvez os filmes demorasse mais tempo ou nem mesmo acontecessem.”

Outros programas

Ao falar de outros programas, a secretaria cita, "o ProAC Editais, que irá contemplar, em 2015, 41 projetos para longa-metragem, totalizando R$ 4,2 milhões em prêmios, e o prêmio Estímulo ao Curta-Metragem, que tem orçamento direto de R$ 1,12 milhão para 14 projetos".

Também em nota, a SPcine afirma que a Secretaria de Cultura do Estado aprovou a liberação de R$ 5 milhões dos R$ 25 milhões que seriam investidos em seu capital social e que os R$ 20 milhões restantes ainda estão sendo negociados.

Ainda segundo a agência, “a constituição orçamentária da SPcine vem das três esferas do executivo: a federal, que investiu R$ 15 milhões, por meio da Ancine; a estadual, como citado acima; e a municipal, que aportou R$ 25 milhões por meio da Prefeitura de São Paulo.”