Com Santoro e Banderas, "Os 33" mostra abertura de Hollywood para latinos
Antonio Banderas gosta de dizer que o set de “Os 33” era algo assim como a ONU dos atores. Não há exagero na imagem cunhada pelo ator espanhol de 55 anos, protagonista do filme que estreia no Brasil quinta-feira (29), na pele do mineiro Mario Sepúlveda, líder informal dos 33 trabalhadores retirados com vida das profundezas da mina de carvão e ouro de San José, em 2010.
"A ideia era se ter uma ONU de atores, com várias nacionalidades, mas, obviamente, o espaço para atores latino-americanos era ainda maior aqui. Trata-se de uma história globalizada, seguida por milhares de pessoas mundo afora, e a busca da autenticidade era fundamental", conta Banderas. "O mercado melhorou muito. Um dos atores principais do filme, Mario Casas, eu o dirigi em 2006 em 'El Camino de los Ingleses' e pude indicar para Patricia [Riggen, diretora de "Os 33"] quando ela estava procurando fechar o elenco", diz.
A versão para o cinema do drama que comoveu milhares de espectadores em tempo real há cinco anos é dirigida por uma mexicana, Patricia Riggen, de “Garota em Progresso” (2012). E um dos primeiros pedidos da diretora foi o de convocar atores com passaportes dos mais diversos países, notadamente América Latina e Espanha, para as filmagens na Colômbia e no deserto do Atacama, no Chile.
"Queria enfatizar o caráter internacional de uma história que é, ao mesmo tempo, importantíssima para o Chile contemporâneo, trata da solidariedade entre trabalhadores latino-americanos em uma situação-limite e foi acompanhada com atenção pelos quatro cantos do mundo. Disse aos produtores que estaria seguindo a coerência deles, de escalarem uma diretora hispânica para comandar as filmagens. O momento em Hollywood para atores de origem latina é, de fato, singularíssimo", diz Riggen.
A diretora já é uma escolha que mostra o aumento da força dos latinos em Hollywood, um espelho do aumento dos hispânicos --população norte-americana de origem latina-- no mercado consumidor americano.
Ela diz: "Banderas, neste sentido, foi fundamental para mim como exemplo e guia. A trajetória dele, que teve de lutar muito para conseguir seu espaço em Hollywood, foi um espelho para os atores, tanto para suas próprias carreiras quanto para viver com garra os personagens do filme. Ele manteve o grupo unido, incluindo os extras, muitos mineiros locais ou amigos e familiares próximos dos mineiros da vida real. A língua, o contato direto, nesta hora pesou".
Além de Banderas, um dos primeiros atores de origem ibérica a explodir em Hollywood, ainda nos anos 1990, a diretora convocou para atuar ao lado do americano Lou Diamond Phillips, do irlandês Gabriel Byrne e da francesa Juliette Binoche uma seleção de profissionais cuja língua-mãe é ou o castelhano ou o português.
Rodrigo Santoro vive um político do gabinete conservador do então presidente Sebastián Piñera. A chilena Cote de Pablo e a mexicana Kate del Castillo são duas das mulheres dos mineiros, ao lado de Binoche no comando da pressão para o resgate de seus amados. O colombiano Juan Pablo Raba e o galã espanhol Mario Casas são dois dos 33 mineiros do título. E, aspecto não menos importante, o filme, distribuído nos EUA e na América Latina pela Fox, é falado em inglês.
"Posso citar dois aspectos fascinantes do set para mim. Um foi o de Juliette Binoche e Gabriel Byrne estudando o sotaque que deveriam ter no filme, já que todos usávamos um inglês específico, a nossa língua-franca naqueles dias", diz Del Castillo. "O outro é o fato de estarmos todos juntos, no mesmo hotelzinho pequenino no deserto e de não haver, jamais, qualquer diferença entre nós. Éramos todos colegas e era apenas uma informação a mais o fato de eu ser uma fã declarada da Juliette", conta a atriz, rindo.
Santoro lembra dos jantares em conjunto e de como o fato de os sets serem todos isolados possibilitaram uma experiência inédita em sua carreira, a de passar noites a fio falando sobre arte com Byrne, apreciando a culinária de Phillips e conversando em espanhol e inglês com os colegas.
"Nenhum de nós sabe de fato o que vai ocorrer com nossas carreiras a partir de agora, mas uma produção como 'Os 33' é uma porta escancarada de Hollywood para atores que não têm no inglês, e sim nas línguas ibéricas, suas vozes nativas", acredita Mario Casas, espanhol que vive Alex, o mais jovem dos mineiros.
"Havia uma solidariedade latina no set da qual jamais esquecerei e que foi importante para darmos o tom final do filme. Foi uma decisão, acho, humildemente, correta, dos diretores em apostar em um grupo de atores oriundo, em sua maioria, da América Latina e da Espanha", completa.
"Veja bem, o filme é em inglês por conta das particularidades do mercado e da indústria do cinema, mas nosso objetivo era a autenticidade", explica o produtor Mike Medavoy (“Cisne Negro”, “A Grande Ilusão”), que viveu no Chile e queria contar a história pela ótica dos mineiros e suas famílias.
"Por isso a decisão de filmar em minas de verdade na Colômbia e no deserto do Atacama, nas proximidades de onde a tragédia ocorreu. E, se foi tão complicado encontrar minas que permitiriam uma equipe de filmagem de porte permanecer debaixo da terra por semanas a fio, o outro lado da moeda, ou seja, escolher o elenco, buscar atores talentosos na região, foi bem mais tranquilo, com muitos inclusive com larga experiência em Hollywood", diz.
É o caso de Banderas, mas também do brasileiro Rodrigo Santoro, que já conta 12 anos desde seu primeiro papel em um grande filme norte-americano, uma ponta sem falas em "As Panteras: Detonando" (2003), e em 2016 não só será Jesus Cristo na refilmagem de "Ben-Hur" como também vai estrelar uma das séries mais aguardadas da HBO, “Westworld”.
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