Loucura de Lady Macbeth atraiu Arósio para "A Floresta que se Move"
Foi com uma apresentação da versão francesa de "Macbeth" que o diretor Vinícius Coimbra convenceu Ana Paula Arósio a voltar à atuação depois de seis anos de hiato. Em um dos pôsteres das antigas adaptações do clássico de William Shakespeare, a rainha veste o poder pela primeira vez ao colocar a coroa do reino da Escócia. Já no filme "A Floresta que Se Move", lançado no Brasil na última semana, Arósio incita o marido Elias (Gabriel Braga Nunes) a cometer um crime para se tornar presidente de um banco.
Longe dos holofotes desde 2010, quando interpretou a promotora Ana Beatriz na série global "Na Forma da Lei", Arósio atribui sua vontade de atuar ao caráter passional da rainha regicida, após a leitura do roteiro. "Quando me apaixono por uma mulher, por uma personagem, não tem jeito. Vou ter que fazer a fofa. Acontece, mas não acontece sempre. Graças a Deus, sabe?", gargalha, durante uma conversa com jornalistas em São Paulo. "O que me atraiu [no filme] foi a densidade, a dificuldade de fazer, a loucura dela e a loucura que ela tem por esse homem. Eles são malvados, mas as pessoas más também se amam. É louco dizer isso, mas o que me atraiu na Lady Macbeth foi o amor."
Arósio diz que ainda está se dando um tempo para entender o que lhe dá vontade de fazer na atuação e tentando passar uma mensagem para as pessoas que recebem seu trabalho. "Quando pego uma personagem que comete atos 'incometíveis', que sofre, acabo sofrendo um pouquinho também. Então isso me leva a um lugar escuro, um confronto comigo mesma. Se você aprende a fazer de forma prazerosa, sai muito mais forte como pessoa. Existem grandes aprendizados nesses textos do Shakespeare, eles eram escritos para o povo", argumenta a atriz.
Para Gabriel Braga Nunes, os textos clássicos "sublinham o quanto somos medíocres, o quanto somos comuns". Para ele, Elias é um personagem de atitudes díspares. "Ele tem essas atitudes que você não espera. E a relação do casal aponta para várias direções ao mesmo tempo. Em um momento, um está forte e o outro, fragilizado. Em outro, existe uma grande cumplicidade. São personagens que atiram para diversas direções e questionam suas próprias atitudes".
Oportunidade de levar texto clássico ao público
Mais do que apenas uma inspiração, o texto de Shakespeare aparece com seus diálogos originais ao longo do filme. "Eu penso em frases da peça durante os meus dias. Shakespeare faz reflexões interessantes", diz o diretor Vinícius Coimbra. "Eu realmente queria que o filme tivesse uma relação com a peça, mas de uma forma não muito realista. Achei que essa ideia enriqueceria. Cinema é sonho, tem que tirar um pouco a pessoa do lugar, do dia a dia."
O diretor também aproveitou a licença poética para criar cenas surrealistas. Entre elas, a de formigas que invadem o escritório da presidência do banco, um disparo de tiro em câmera lenta ou uma chuva de sangue direto do teto sobre a cama do casal. "Uma coisa que enriquece essa temática é a discussão do destino e do livre arbítrio. O que está escrito, o que não está escrito, as respostas que a gente busca de manhã quando lê o horóscopo no jornal. A bala era algo assim: 'Onde ela vai chegar?' É como no filme 'Match Point' (de Woody Allen), quando o personagem joga a moeda. Nesta cena, o que determina se o personagem vai acertar a cabeça ou não?".
O roteiro de "A Floresta que Se Move" foi adaptado em parceria com Manuela Dias, que também assina o texto de outro filme recém-lançado pelo diretor, "A Hora e a Vez de Augusto Matraga". Coimbra e Arósio compartilham da mesma intenção de dividir um texto clássico com o cinema nacional. "Quantas vezes a gente pode fazer um Shakespeare no cinema no Brasil? Passar esse ensinamento? Tentar colocar um texto dramático e bonito num mercado que não acredita que a gente sabe fazer drama", questiona a atriz.
"O Vinícius é metido", brinca o ator Fernando Alves Pinto, que interpreta Pedro, herdeiro de Heitor (Nelson Xavier), presidente do banco. "Não sei se sou metido, mas se a gente não faz [um filme assim], não chega no público", rebate o cineasta. "A gente faz cinema no Brasil com dinheiro do público, dos amigos. Tem que fazer filme para o público."
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