McAvoy sobre sua versão de "Frankenstein": "Meu Victor é para lá de insano"
James McAvoy nunca foi exatamente um fã de Frankenstein. Nem do livro, nem do monstro. É ele, no entanto, quem encarna o personagem título do filme dirigido por seu compatriota, o escocês Paul McGuigan, e que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (26).
Mas não se engane: o filme não é sobre o monstro, e sim sobre o personagem que lhe dá título, Victor Frankenstein. “É que o filme é sobre o jovem estudante de medicina que criou o monstro. Este só aparece no fim”, conta McAvoy, em entrevista exclusiva ao UOL.
Com um quê do “Sherlock Holmes” de Guy Ritchie, o longa também se distingue das muitas outras adaptações do clássico da inglesa Mary Shelley (1797-1851) ao contar a história do ponto de vista do ajudante corcunda do jovem Victor, Igor, vivido por Daniel Radcliffe (o eterno Harry Potter).
Celebrado tanto por papeis dramáticos, como em “O Último Rei da Escócia” e “Desejo e Reparação” (para o qual foi indicado ao Globo de Ouro), quanto por filmes de ação (“O Procurado”) e pelo papel do Professor Charles Xavier na franquia de super-heróis “X-Men”, McAvoy, 36, acaba de receber uma das maiores premiações do teatro inglês: foi aclamado no domingo melhor ator no London Theater Awards pelo revival de “A Classe Dominante”, comédia de Peter Barnes.
Na entrevista a seguir, ele também adianta que o próximo filme dos X-Men será "o mais grandioso título da franquia", compara os personagens Victor Frankenstein e Professor X e comenta sua rápida passagem pelo Brasil em 2014.
UOL - Por que se fazer um novo “Frankenstein” a esta altura do campeonato?
James McAvoy - Antes de mais nada, porque há tempos não temos um bom “Frankenstein” nos cinemas. Mas também foi outro dia que a discussão em torno dos tratamentos com células-tronco, por exemplo, estava no centro de uma enorme polêmica. A mídia, se não condenou explicitamente, jogou bastante luz nos aspectos possivelmente negativos do avanço tecnológico. Em vários países, se tornou algo comum e largamente aceito pela sociedade. E no início certos cientistas foram transformados em vilões. Victor e Igor são um pouco como eles, no reino da ficção.
Eles são dois personagens muito diferentes. É verdade que em “Dias de um Futuro Esquecido” o professor Xavier mostra seu lado cientista maluco, mas nada como o Victor. Xavier pensa essencialmente nos outros, é um humanista. Victor é focado em um único objetivo: criar vida do nada.
James McAvoy, fazendo um paralelo entre seu personagem em "X-Men" e Victor Frankenstein
O filme abre com a frase “esta é uma história que sabemos de cor”. No entanto, quando pensamos em “Frankenstein”, o que nos vem à cabeça é o monstro, e o filme vai por um caminho completamente diferente, não?
A ideia foi a de ficar no aspecto humano da história, deixar o monstro mesmo para o fim. Em vez de falarmos de novo da crise existencial do monstro, olhamos para dois personagens que são, naturalmente, mais próximos do público –Victor e Igor.
Mary Shelley apresenta, especialmente nos primeiros capítulos de seu clássico, um Victor Frankenstein bem... Huum...
Doido, né? (risos)
Pois é...
Eu nunca entendi bem a obsessão que ele tinha por criar a vida, por ser Deus, por dar vida a este monstro, e depois ele vai se tornando uma pessoa mais normal, na medida do possível. O filme é centrado na primeira parte do livro de Shelley. Ou seja, meu Victor é para lá de insano (risos).
Você certamente leu o livro na escola. Mas não parece ser um fã ardoroso da literatura de Shelley...
De fato. Adoro as ideias que ela propõe, mas “Frankenstein” jamais foi um livro de cabeceira para mim. Lendo, não acreditava de fato no que acontecia, era ficção científica demais para mim. Mas o roteiro do filme é todo centrado na relação de Igor e Victor, aí a coisa começou a me interessar de fato.
Você não pode tirar de Shelley, no entanto, o pioneirismo de ter criado na ficção o arquétipo do cientista maluco...
Sim, você tem toda razão. E aí eu me deleitei, foi uma delícia explorar este lado do Victor. E não é um cientista velhinho, com barba branca, óculos de aro e cabelo ouriçado. É um jovem. E as cenas de ação são muitas. Alguns diálogos entre Victor e Igor no roteiro se transformaram em quase lutas. São dois personagens mentalmente e fisicamente instáveis. Não precisava muita imaginação nossa para mesas serem viradas de pernas para o ar no set.
Daniel Radcliffe disse que você deu uma baita canseira nele nas cenas de ação. Valeu aí a experiência da franquia “X-Men”, além, é claro, de “O Procurado”?
Mas não foi sempre que eu deixei ele na lona (risos). E não machuquei Daniel ou o deixei com roxos, por favor. Mas nos primeiros dias foi mais complicado, ele penou um pouco. E a gente está praticamente em todas as cenas juntos. Ele é um ator extraordinário. É, ao mesmo tempo, uma pessoa engraçadíssima, que te faz rir a todo momento, e dedicado ao extremo ao trabalho, o que me surpreendeu no começo, pois ele é tão jovem. Eu não era tão sério assim quando tinha a idade dele (risos). Também fiquei bastante impressionado com a capacidade que ele tem para criar situações, ideias, que não estavam inicialmente expostas no roteiro, mas que complementam, melhoram o filme.
Charles Xavier também é um cientista. Há algum paralelo com Victor Frankenstein?
Eles são dois personagens muito diferentes. É verdade que em “Dias de um Futuro Esquecido” o professor Xavier mostra seu lado cientista maluco, mas nada como o Victor. Xavier pensa essencialmente nos outros, é um humanista. Victor é focado em um único objetivo: criar vida do nada.
O que você pode adiantar de “X-Men: Apocalipse”, que chega nos cinemas brasileiros em maio?
Que será, disparado, e em todos os sentidos, o mais grandioso título da franquia. A escala de tudo é global. A ameaça que se coloca ali é algo jamais visto anteriormente. Não são apenas os mutantes que correm o risco da extinção, mas toda a humanidade. Ih, já estou falando demais... Huuum... Para mim, para o professor Xavier, foi como se tivesse tido a chance de um novo começo. Ele está bem mais tranquilo e seguro de si. Espero que não seja editado, mas tem uma cena de luta minha com um outro personagem que é absolutamente sensacional. E quando terminamos de filmar, fiquei com a sensação de que o universo dos X-Men se modificou sensivelmente em relação ao que se viu anteriormente. A franquia vai mudar, vai ter uma cara completamente diferente depois deste filme.
Você vive o jovem Professor Xavier desde 2011. O que aprendeu com os “X-Men”?
Mais do que tudo, a dimensão destes personagens. Como eles têm a capacidade de de fato tocar pessoas tão diferentes nos quatro cantos do mundo. A impressionante capacidade destes super-heróis tratarem de problemas do nosso cotidiano de forma original. As minorias, os marginalizados, os perseguidos, os ignorados, os que estão dentro do armário, se identificam com o drama ali apresentado e isso é raro em qualquer trabalho artístico. Eu gostava de ler os gibis dos “X-Men” porque os achava legais. Somente depois de encarnar o Professor X fui perceber que o buraco, no caso destes heróis especificamente, é bem mais embaixo. É um trabalho bem especial.
Por conta do filme anterior da franquia, você esteve no Brasil. Tem boas recordações?
A ideia é a de que eu iria por uma semana, mas acabamos ficando apenas um par de dias, então preciso voltar. Fui a São Paulo e foi divertido, foi uma experiência legal, mas acabei não indo para o Rio. Uma pena, né?
Marque então uma volta logo! O que você gostaria de fazer depois de “Frankenstein”?
Já estou com alguns projetos engatilhados sobre os quais ainda não posso entrar em detalhes (entre eles, um suspense com Charlize Theron ainda sem título em português; o novo M. Night Shyamalan; e rumores de protagonizar novamente um filme na África, dirigido por Wim Wenders). Mas quero muito fazer em um futuro próximo, nesta ordem, um romance, uma comédia e uma comedia romântica. Não faço comédias desde o começo de minha carreira, e seria um senhor exercício para mim.
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