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Ator francês diz que está "fumando muito" por ansiedade pós-ataques

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

30/11/2015 15h56

A primeira reação do ator francês Louis Garrel ao se encontrar com jornalistas em São Paulo, na semana passada, foi emblemática: ele prontamente se desculpou por não conseguir tirar da boca um cigarro eletrônico. "Com as coisas que estão acontecendo [em Paris], todos estão fumando muito por causa da ansiedade", disse ele, em referência aos recentes ataques terroristas na capital francesa.

Garrel, que ficou conhecido por interpretar Theo no filme "Os Sonhadores" (2003), de Bernardo Bertolucci, desembarcou por aqui para divulgar seu primeiro longa-metragem como diretor, "Dois Amigos", que estreia na próxima quinta-feira (3). A comédia romântica gira em torno de um triângulo amoroso entre Mona (Golshifteh Farahani), uma vendedora de sanduíches; Clément (Vincent Macaigne), um tímido ator; e Abel (Garrel), amigo de Clément. Enquanto conflitos se desenrolam entre os dois amigos, Mona tenta manter escondido um segredo de seu passado.

Ainda que o foco estivesse no novo trabalho de Garrel, o assunto em torno do terrorismo não deu trégua. Para o ator de 32 anos, a sua geração --a mais atingida nos atentados, durante um show de rock-- nunca tinha presenciado de perto uma guerra ou sequer passado pelo serviço militar, que por lá já não é mais obrigatório.

"São várias perguntas sem resposta. Ficamos esperando quem pudesse explicar o que estava acontecendo, mas não acho que o cinema deveria se envolver nisso. É um assunto para filósofos, escritores, políticos. O papel da arte nesse debate é de tentar continuar fazendo arte. E encontrar a utilidade de fazer algo artístico", disse.

Protagonista iraniana

Os ataques em Paris também reacenderam os debates sobre tolerância --ou a falta dela-- e recepção de estrangeiros em outros países, um assunto familiar para Garrel. Tanto que a protagonista de "Dois Amigos", a iraniana Golshifteh Farahani, é ex-namorada do ator e chegou a ser banida de seu país, em 2012, por posar nua para uma revista francesa, uma atitude vai contra a conduta islâmica.

Já no filme, Farahani não tem sua nacionalidade mencionada. Garrel garantiu que não caracterizá-la como iraniana ou muçulmana foi proposital, mas por razões estritamente artísticas. "Como ela vem do Irã, sempre pediam para ela fazer o papel de estrangeira. Era importante que ela não tivesse a responsabilidade de ficar falando sobre o mundo muçulmano. Ela foi escolhida porque gosto do seu trabalho como atriz".

Garrel considera que fez um filme feminino ao colocar a personagem Farahani como uma mulher decidida, enquanto os dois rapazes estão sempre atrapalhados. "Gosto muito desse lado selvagem da mulher. Quis mostrar que elas têm mais os pés no chão, são mais seguras, e também o lado mais frágil dos homens, que geralmente não é mostrado".

Para o ator e agora diretor, a figura feminina é sempre bem representada no cinema francês e que, atualmente, há muito mais mulheres na direção. "O fato de haver mais diretoras hoje em dia faz com que os filmes sejam mais livres e corajosos".