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Destaque no cinema, Paulo Gustavo atribui sucesso ao público de teatro

Miguel Arcanjo Prado

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/12/2015 06h00

O ator e humorista Paulo Gustavo não tem do que se queixar de 2015, ano de muito trabalho e também muito sucesso. Mesmo fora da TV aberta, conseguiu abocanhar o grande público. Com 3,3 milhões de espectadores, seu filme "Vai que Cola", baseado no programa homônimo de sucesso no canal pago Multishow, é o segundo longa brasileiro mais visto de 2015, perdendo apenas para "Loucas pra Casar", protagonizado por Ingrid Guimarães e Tatá Werneck, duas estrelas da Globo.

Se a trajetória vai bem na TV e no cinema, no teatro não é diferente: Paulo lota salas em todo o Brasil com seus espetáculos "Hiperativo" e "220 Volts", em cartaz simultaneamente após o sucesso de "Minha Mãe É uma Peça", que estreou em 2006 e foi visto por mais de 3 milhões de pessoas. A internet também é palco do artista, meio no qual suas criações ganham sobrevida nas redes sociais, atingindo cada vez mais pessoas.

Formado em 2005 pela Casa de Artes Laranjeiras, o fluminense de 37 anos surgiu para o público como a personagem Dona Hermínia na peça "O Surto", de 2004. Logo, foi apontado como um dos novos talentos do humor brasileiro, sobretudo por sua capacidade de improviso. O trabalho de conquista do grande público foi feito aos poucos, em turnês pelo Brasil com seus espetáculos.

Tenho uma relação bem substanciosa com o público no teatro [por ter viajado o Brasil por nove anos com o espetáculo 'Minha Mãe É uma Peça']. Isso tudo me ajuda a me manter e ser um cara independente da TV, não só a aberta quanto da fechada também. Eu sou um cara independente da TV porque eu vivo do teatro, e o teatro me dá um retorno muito bom.
Paulo Gustavo, sobre o "segredo" de seu sucesso 

É a esta escalada degrau por degrau nos palcos que o ator atribui o público consolidado que lhe segue atualmente, em qualquer que seja o meio. Não por acaso, a estreia do ator como protagonista de cinema foi uma adaptação se seu espetáculo de maior sucesso, "Minha Mãe É uma Peça", e conseguiu o feito de ser o filme nacional mais visto de 2013, com 4,6 milhões de ingressos vendidos. O longa já tem uma sequência garantida, com filmagens previstas para 2016.

Em entrevista ao UOL, além de fazer um balanço do ano e falar sobre como reage às críticas que recebe, Paulo reforça o teatro como sua prioridade e declara: "Sou um cara independente da TV". Leia os principais trechos a seguir.

UOL - Você considera que 2015 foi o seu ano?
Paulo Gustavo -
O ano de 2015 foi superimportante para mim. É claro que a gente vê a crise, mas não vou ser hipócrita em dizer que meu teatro não está lotado. Está lotado. Mas também tem casa de show que vejo que não tem casa completa... No cinema, eu também esperava um pouco mais do [filme] "Vai que Cola". Eu achei que fosse ser a mesma bilheteria que "Minha Mãe é uma Peça", que fez, 4,6 milhões de espectadores. "Vai que Cola" foi de 3,3 milhões, bem menos. Acho que é reflexo da crise que a gente está passando. Eu vejo, eu sustento família, vou ao supermercado, faço as coisas e vivo a vida real. Tenho o pé no chão e vejo tudo isso.

Mas, embora estejamos vivendo tudo isso, acho que o ano de 2015 foi bem importante para mim. No Multishow, foi mais um ano especial com o programa "Vai que Cola", que foi mais sucesso do que no ano passado, graças a Deus. Eu fiz bastante o espetáculo "Hiperativo" e o "220 Volts". A gente viajou o Brasil todo.

Por que você faz questão de sempre viajar o Brasil com suas peças?
Isso é muito legal para mim, porque vivo do teatro. Minha relação com o público é bem sólida. Então, eu gosto sempre de estar viajando e fazer as coisas darem certo, estar sempre alimentando essa plantinha que é conquistar o público pelo Brasil todo. Ah, este ano a gente ainda conseguiu escrever o roteiro de "Minha Mãe É Uma Peça 2", que vamos filmar ano que vem. Por tudo isso, 2015 foi muito importante e tenho certeza que 2016 vai ser também.

Assista ao trailer do filme "Vai que Cola"

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Você consegue fazer sucesso estando fora da TV aberta. A que atribui este fenômeno?
A TV fechada tem conquistado um espaço muito legal, principalmente o "Vai que Cola", que tem uma projeção bem grande. Embora a TV paga não tenha a mesma projeção que a TV aberta, hoje em dia a internet tem muito espaço. Então, tudo que a gente faz no "Vai que Cola" cai na internet e triplica a audiência. A coisa vai se proliferando e muita gente assiste. A internet tem ajudado, e a TV paga tem crescido cada vez mais. Então, posso atribuir a isso o crescimento da minha carreira. E também por ter viajado o Brasil por nove anos com o espetáculo "Minha Mãe É uma Peça". Com o "Hiperativo", já estou viajando há seis anos. E agora, nos últimos dois anos, com "220 Volts".

Então, tenho uma relação bem substanciosa com o público no teatro. Isso tudo me ajuda a me manter e ser um cara independente da TV, não só a aberta quanto da fechada também. Eu sou um cara independente da TV porque eu vivo do teatro, e o teatro me dá um retorno muito bom. Eu sou muito lúcido e consciente disso. Faço a minha agenda toda em cima do teatro. Minha prioridade sempre é o teatro. É isso aí. Não sei muito explicar "qual é o fenômeno", se a gente soubesse o segredo do sucesso, contava para todos os amigos, né? Pra todo mundo fazer...

Você tem propostas para ir para a TV aberta? Aceitaria ir?
Olha, já tive várias propostas da TV aberta. Não é porque não queira ir. Realmente é porque minha agenda no teatro é muito pesada. Faço "Hiperativo" e "220 Volts" juntos há dois anos. Faço às vezes quarta e quinta "Hiperativo", sexta, sábado e domingo "220 Volts". Estou há dois anos nessa batida. E às terças gravo o "Vai que Cola". Realmente, não tenho tempo para fazer TV aberta. Estou muito satisfeito no Multishow.

Por quê?
É um canal que me dá muita liberdade artística. Eu crio meus programas, escrevo, dirijo junto, fico muito à vontade. Minha relação é muito próxima com todos lá dentro. Converso diretamente com o presidente, criamos juntos os projetos. Sou do canal há sete anos, estou feliz com a parceria. Claro que se um dia aparecer um projeto legal e não estiver fazendo teatro, o que acho difícil, e a minha agenda no Multishow estiver mais tranquila, nada me impede de fazer uma novela, fazer um programa, um seriado ou alguma participação em alguma coisa. Não tenho por que não fazer. Sou um cara muito tranquilo, muito aberto a tudo. Na hora que acontecer vai acontecer. Não fico me cobrando pra isso e está tudo certo.

Você acha que vale tudo no humor?
O limite é a educação, o bom senso, não vale faltar o respeito com o público. Não sou muito desse humor da baixaria e tudo mais, coisa que a gente vê bastante pela internet, mas é uma coisa que não me agrada. Sei que tem quem consome, mas meu estilo é outro. Eu acho que vale tudo quando se tem respeito e educação. Através do humor, dá pra falar de vários assuntos, tocar em vários pontos, questões, falar de preconceito... A própria Senhora dos Absurdos, que é o personagem mais crítico e ácido que eu tenho, fala de muitos assuntos sérios. Eu a uso através do humor, e as pessoas entendem a mensagem.

Você tem muitos fãs, mas também é alvo de críticas, sobretudo na internet. Isso te incomoda?
Eu não fico lendo muito crítica na internet. Eu sei que fazem e isso faz parte da nossa carreira, não só do artista. O advogado é criticado pelo chefe, você na sua redação também vai ter alguém que vai criticar, que vai dizer que não gosta do seu estilo. Isso faz parte da carreira de todo mundo. Eu não leio muito crítica de blog, essas coisas. De vez em quando me mandam, me fazem print. Meus fãs me mandam, indignados. Às vezes eu respondo e falo: gente, esquece isso, o que importa é nossa relação, a brincadeira que a gente faz no teatro, na TV e no cinema.

Crítica vai ter a vida toda. Se eu for ficar triste com alguma coisa que escreveram, eu vou ficar triste para o resto da vida. Porque enquanto eu for ator e estiver trabalhando e estiver fazendo sucesso e estiver me movimentando, vai ter gente se movimentando a favor ou contra. Isso é um efeito natural. Às vezes inventam coisas na internet, minha família dá um print e me manda, ou uma blogueira que falou alguma coisa... Olha, isso não passa nem um pouco pelo lugar de achar que sou superior e estou acima do bem e do mal, mas isso é uma coisa que não faz nem muita "cosquinha" na minha carreira.

Por quê?
Eu tenho uma carreira tão honesta com o público, uma coisa tão verdadeira, que eu acho que essas críticas e esses blogs que falam mal e tudo mais falam para esse "publicozinho" que os consome, mas o público de verdade é maior. No meu Instagram, quando paro para ler, tem sempre alguém falando: "Paulo, você viu que outro dia falaram não sei o quê?". Mas tem muito mais gente para falar bem do que para falar mal. Eu também acabo batendo o olho nos comentários maneiros. E prefiro ficar com eles. A energia negativa atrai energia negativa. Quando você é um cara positivo, você acaba atraindo coisas positivas em volta. Então, acho que é por aí.