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"Star Wars": Robôs, naves, ETs e a Força não estão tão longe da realidade

Jorge Luiz Calife*

Especial para o UOL

14/12/2015 07h00

Quando o primeiro filme de "Star Wars" foi exibido nos cinemas, em 1977, seu criador, o cineasta George Lucas, apressou-se em dizer que o filme era fantasia, não ficção científica. Certamente a saga dos cavaleiros Jedi não é uma ficção “hard”, apoiada na astrofísica como o “2001: Uma Odisseia no Espaço” de Stanley Kubrick ou o “Interestelar” de Christopher Nolan. Mas também não é desprovida de ideias científicas e tecnológicas.

Para criar o universo de "Guerra nas Estrelas", Lucas juntou sim elementos de diversos gêneros, costurando tudo para criar sua galáxia muito, muito distante. Nos filmes da série há influências dos faroestes –com referências ao clássico "Rastros de Ódio", de John Ford, na cena em que Luke Skywalker encontra a fazenda de seus tios destruída, no filme de 1977--, dos filmes de samurais do Kurosawa, dos épicos de capa e espada e das produções inglesas e americanas sobre as batalhas aéreas da Segunda Guerra Mundial. E é claro que "Star Wars" deve muito aos quadrinhos do Flash Gordon.

Mas, mesmo com as negativas de seu criador, a ciência e a tecnologia também fazem parte deste universo e uma pesquisa sobre este aspecto de "Star Wars" renderia material para um livro inteiro. Que já foi escrito, é o ótimo “The Science of Star Wars” da astrofísica Jeanne Cavelos. Como não temos tanto espaço assim vamos dividir nossa discussão nos quatro elementos principais: Robôs, espaçonaves, alienígenas e a Força.

Robôs

A galáxia de "Star Wars" está cheia de robôs. Do pequeno R2-D2 e o dourado C-3PO ao exótico BB-8 de "O Despertar da Força", todos possuem uma característica comum. São inteligentes e autoconscientes. A personalidade dos robôs da saga indica um grau avançado de inteligência artificial. E esse é um assunto que divide os cientistas.

Alguns, como o físico Roger Penrose acreditam que jamais seremos capazes de criar um robô ou computador autoconsciente. Outros pesquisadores, como Ray Kurzweill acham que estamos a um passo da chamada “singularidade tecnológica” --o ponto em que a inteligência das máquinas vai superar a inteligência humana, fazendo com que os seres humanos se tornem tão obsoletos quanto os dinossauros. Felizmente para Luke, Han e Leia, os robôs de "Guerra nas Estrelas" seguem as leis do escritor Isaac Asimov e são incapazes de trair os seres humanos.

Espaçonaves

Uma das naves mais interessantes da série é o caça Tie, usado no "Episódio 7" pelo personagem Finn (John Boyega) para fugir das forças da Primeira Ordem (o novo Império). Tie vem de twin ion engine (motor iônico duplo). A propulsão iônica de espaçonaves era só um conceito em 1977, mas hoje é uma realidade.

A sonda espacial Dawn, da Nasa, atualmente orbitando o planetoide Ceres, usa motores iônicos como os Tie do filme. São motores muito eficientes, mas não produzem acelerações bruscas. E uma nave iônica não pode voar dentro da atmosfera dos planetas, como aparece em "Star Wars". A resistência do ar arrancaria os painéis solares.

Alienígenas

Os extraterrestres de "Star Wars" incluem criaturas bem interessantes, como a lesma gigante Jabba (foto) e os seres antropomórficos da cantina de Mos Eisley, onde encontramos Han Solo pela primeira vez. Esse é outro aspecto que divide os cientistas.

O biólogo Richard Dawkins acha que a evolução vai seguir linhas paralelas em outros planetas e os extraterrestres vão ter duas pernas, dois braços e visão binocular como os primatas da Terra. Já o astrofísico Neil deGrasse Tyson, apresentador do seriado "Cosmos", acredita que os alienígenas vão ser totalmente diferentes de nós. Em ambos os casos, "Star Wars" pode ter acertado. Só saberemos quando encontrarmos vida no espaço.

A Força

A energia responsável pelo poder dos Jedis (e dos Sith) era pura fantasia em 1977. No primeiro filme, Obi Wan Kenobi diz para Luke Skywalker que a Força “é a energia que mantém a galáxia unida” (explicação que muda um pouco na trilogia dos anos 2000, mas vamos ignorar essa parte).

São sábias palavras. Nos últimos 35 anos, as medições da velocidade de expansão do Universo, e da velocidade das estrelas dentro das galáxias sugerem que a matéria e a gravidade, que podemos perceber, correspondem a apenas 10% do Universo. Mantendo a galáxia unida existiria uma misteriosa matéria escura, invisível e imperceptível. Essa matéria estaria associada a uma energia negra que incluiria uma gravidade negativa ou força antigravitacional.

O Cern, o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares, colocou um instrumento a bordo da Estação Espacial Internacional para tentar captar indícios dessa matéria fantasmagórica, mas até hoje não teve resultado. O físico Kip Thorn, responsável pela trama do filme "Interestelar", acha que a energia escura poderia manter abertos os buracos de minhoca, permitindo que naves saltem entre galáxias e sistemas solares como faz a Millenium Falcon. Se os físicos estiverem certos, a força da matéria escura está conosco.

Assista ao trailer de "Star Wars: O Despertar da Força"

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* Jorge Luiz Calife é jornalista especializado em ciência e escritor de ficção científica "hard" --vertente mais fiel aos princípios científicos. Foi ele quem sugeriu a Arthur C. Clarke uma seqüência para o livro "2001: Uma Odisséia no Espaço", recebendo inclusive crédito em "2010: Uma Odisseia no Espaço 2". Calife também traduziu para o português obras como "Duna", de Frank Herbert, e "Eu, Robô", de Isaac Asimov.