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Novo "Star Wars" estreia em 2016 na China como uma "força estranha"

Anamaria Boschi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/12/2015 07h00

Com "Star Wars" prestes a estrear na China no início de 2016, o público chinês finalmente vai poder experimentar nos cinemas o fenômeno que abalou o mundo há quase 40 anos. Mas o que a franquia significa para a China?

Rob Cain, norte-americano que atua como consultor para grandes estúdios de Hollywood em financiamento e estratégia de mercado na China, estuda o mercado de lá há anos. Ele conta que, em sua primeira visita ao país em 1987, "Star Wars" era um marco cultural em todo o mundo, mas completamente desconhecido por lá. Na época, em grande parte dos países do Ocidente acreditava-se que as pessoas na China nunca iriam se tornar espectadores regulares, porque o cinema não era parte de sua cultura. A noção de que eles poderiam visitar um multiplex moderno e assistir a um filme "Star Wars" era inimaginável.

Quando "Star Wars: Uma Nova Esperança" estreou em 1977, a China estava saindo da Revolução Cultural, período sombrio da história daquele país. Mao Zedong, em um esforço para restabelecer seu controle sobre o governo chinês, iniciou em 1966 uma década marcada pela radicalização das teses maoístas e pela intensa perseguição política aos críticos do regime. Mao morreu em 1976 e o país começou lentamente a libertar-se, mas "Star Wars" permaneceu fora dos cinemas. Muita coisa mudou desde então.

Hoje a China tem mais de 30 mil telas de cinema. Mesmo que a grande maioria dos chineses ainda não esteja familiarizada com o universo "Star Wars", eles têm consciência de que há um certo prestígio associado à saga, o que deve atrair muitos curiosos. E ainda que o preço dos ingressos seja mais caro do que nos Estados Unidos, os jovens chineses conseguem usufruir de fenômenos culturais como esse comprando pacotes de entradas e dividindo entre amigos e colegas. Assim como no Brasil, é muito comum sites oferecerem descontos.

A empresa chinesa de internet Tencent anunciou um acordo para oferecer aos consumidores chineses a oportunidade de assistir aos seis longas anteriores da saga por meio de suas plataformas digitais. A empresa também criou um site especial para "Star Wars", oferecendo produtos oficiais, bonecos de personagens, cenas deletadas, vídeos e uma coleção de extras de cada um dos filmes originais. A Disney colocou 500 stormtroopers na Muralha e transformou um astro pop local, Lu Han, como embaixador cultural da série. Em comentários online, os chineses comentam mais sobre Lu do que sobre o filme.

A única franquia comparável na China é "Transformers", com uma grande base de fãs, porque a série de TV foi um dos programas mais populares exibidos na China durante os anos 1980 e 1990, e isso afetou muitas crianças. A venda de brinquedos da marca "Transformers" foi um dos primeiros casos de sucesso de uma empresa estrangeira na China. Dada a crescente demanda por produtos de consumo na China, "Star Wars" será crucial para a Disney expandir seu alcance nas bilheterias e no merchandising.

A mensagem do longa deve ajudar também no sucesso da saga de George Lucas. Na verdade, "Star Wars" tem muito em comum com filmes chineses de artes marciais. E a estreia em janeiro, durante a pausa de inverno nas escolas e universidades, foi escolhida com propósito. Não só os jovens chineses têm mais tempo para ver o filme, mas podem acompanhar a agitação em outras partes do mundo.

E apesar da duvidosa reputação da China em fabricar cópias de produtos originais, espera-se que haja um mercado para as mercadorias oficiais de "Star Wars" entre o grupo demográfico que vai assistir ao filme. Esse consumidor chinês, a classe média emergente, não quer mais produtos falsificados.

Tudo indica que a força finalmente despertou na China e não há dúvida de que "Star Wars" vai ser um grande sucesso por lá. A única questão é quão maior será esse sucesso.