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Bill Murray: "Não sentir o espírito natalino é duro. Já passei por isso"

Bill Murray em "A Very Murray Christmas", especial natalino do Netflix - Reprodução
Bill Murray em "A Very Murray Christmas", especial natalino do Netflix Imagem: Reprodução

Carlos Helí de Almeida

Colaboração para o UOL, em Marrakech (Maroccos)

25/12/2015 07h00

Desde sua primeira performance como Nick the Lounge Singer, o cantor de aluguel criado para o programa de TV "Saturday Night Live", nos anos 1970, Bill Murray sempre encarou o canto como um mero artifício cômico. Com "A Very Murray Christmas", o especial natalino disponível a partir este mês no canal Netflix, e no qual o ator empresta a voz a diversos títulos do cancioneiro popular americano, ele parece ter encontrado um dom há muito negligenciado.

"Fiquei encantado com o quanto posso cantar bem", confessou Murray durante o 15º Festival de Marrakech, onde recebeu o troféu Estrela de Ouro especial pelo conjunto da carreira. "Recentemente, tive a chance de cantar com um grupo de músicos maravilhosos em Nova Orleans. Foi quando me bateu: 'Uau!'. De repente, essa voz saiu de dentro de mim. Sempre fui capaz de cantar, cheguei a interpretar um cantor muito ruim, mas descobri que consigo segurar notas, o que é uma nova alegria para mim".

"A Very Murray Christmas" paga tributo a um formato da TV americana que já não existe mais, no qual um personagem funciona como uma espécie de anfitrião de um grande show musical. O filme é dirigido por Sofia Coppola, com quem Murray trabalhou em "Encontros e Desencontros" (2003). "Sofia disse que gostaria de me ver cantando em alguma situação especial, como Chet Baker em um clube", contou o astro de sucessos como "Os Caça-Fantasmas" (1984).

A ideia de Sofia evoluiu para uma história em que uma nevasca impede que Murray, interpretando a si mesmo, consiga sair do luxuoso hotel Carlyle, em Nova York. O bar do estabelecimento vira o centro de confraternização dos funcionários, que passam a traduzir o espírito natalino com a ajuda de canções. O ponto alto do especial, que conta com participações especiais de Maya Rudolph, Jason Schwartzman, Rashida Jones, George Clooney e Miley Cyrus, entre outros é o elenco cantando "Fairytale of New York", dos Pogues.

"Odeio fazer esse tipo de cara, mas realmente gostei desse personagem. Se você gosta de Natal, vai adorar. Mesmo se você não gosta de Natal, vai gostar também. Vimos o filme em um teatro, junto com outras 600 pessoas, e elas enlouquecidas com ele", lembrou Murray. "Não sentir o espírito natalino é duro. Já passei por isso, e é o que estava pretendendo mostrar com esse especial. As músicas são interpretadas por cantores reais fantásticos. E as canções de Natal te levam a um outro mundo".

Outras cantorias

Murray também canta uma versão de "Smoke On The Water", da banda Deep Purple, em "Rock the Kasbah", comédia musical ambientada no Oriente Médio. No novo filme de diretor Barry Levinson ("Bom Dia, Vietnã", 1987), o ator de 65 anos interpreta Richie Lanz, um agente musical em fim de carreira, demitido pelo mais recente cliente durante uma visita de negócios a Cabul, no Afeganistão.

Richie vê a oportunidade de dar a volta por cima no talento de Salima Khan (Leeem Lubany), jovem muçulmana de voz impressionante que aspira ser a primeira mulher a competir no programa de TV "Afghan Star", uma versão local do "American Idol". Para ajudá-la a driblar os obstáculos e realizar seu grande sonho, Richie recorre à ajuda de uma prostituta (Kate Hudson), dois traficantes de armas (Danny McBride e Scott Caan) e um mercenário (Bruce Willis).

À luz dos recentes ataques terroristas em Paris, em novembro passado, Murray, no papel de convidado de honra em um país árabe, virou uma espécie de embaixador americano no Marrocos. "As pessoas acham que fizemos este filme para retocar a imagem americana. Ela pode ou não precisar de retoques, mas ela é muito diferente da que daquela quando eu era criança. Agora há uma confusão de percepção sobre o Afeganistão e o Iraque. O preocupante é que agora que somos vistos como agressores e não benfeitores".

De olho em 2016

O ano de 2016 promete ser particularmente agitado para o ator. Ele foi confirmado no elenco do novo projeto de Wes Anderson, com quem trabalhou em filmes como "O Fantástico Sr. Raposo" (2009) e "O Grande Hotel Budapeste" (2014). Trata-se de uma animação de inspiração japonesa, realizada com a técnica stop-motion, e no qual colocará a voz em um cão. Também dublou o urso Baloo no desenho animado "Mogli: O Menino Lobo", de Jon Favreau, com estreia no Brasil prevista para abril.

Mas é a nova versão de "Os Caça-Fantasmas", desta vez com elenco de protagonistas feminino, encabeçado por Melissa McCarthy e Kristen Wiig, que promete ser um dos lançamentos mais aguardados do ano. "Sempre fui relutante a ideia de um novo 'Caça-Fantasmas'", reconhece Murray, que faz uma participação especial no longa-metragem dirigido por Paul Feig. "Não queria fazer um outro filme da série, mas trabalhei com essas garotas. São todas muito engraçadas".

Murray vê "Os Caça-Fantasmas" como uma parábola sobre o medo. "No filme, o que chega para destruir Nova York é um marshmallow gigante. Quando você enfrenta seus medos, todos viram marshmallows gigantes", acredita.