"Cinema é acumulativo", diz Luiz Villaça sobre dirigir mulher Denise Fraga
O cineasta Luiz Villaça já escreveu e dirigiu quatro longas, três deles estrelados pela mulher Denise Fraga. O mais recente, a comédia romântica “De Onde Eu te Vejo”, chega aos cinemas nesta quinta (7), com a história de um casal que se separa após 20 anos e acaba tendo de viver na mesma rua em São Paulo, em apartamentos que dão um de frente para o outro.
Espécie de “Janela Indiscreta" sem crime, a trama se desenrola no vai e vem da relação entre a arquiteta Ana (Denise) e jornalista Fábio (Domingos Montagner), que precisam lidar ainda com a saída de casa da filha adolescente (Manoela Aliperti), que vai cursar faculdade no interior. Em meio a crises no trabalho, ambos precisam superar as inevitáveis transformações, saindo a zona de conforto.
Um local que poderia bem ser o de Villaça, que pela sétima vez dirige Denise Fraga —considerando as séries de TV “3 Teresas”, “A Mulher do Prefeito”, “Norma” e o quadro “Retrato Falado”, do Fantástico. Mas tudo isso, nas palavras dele, nada tem a ver com relaxamento ou qualquer sorte de “nepotismo”.
"Cinema, para mim, é acumulativo. Se você tem parceiros que continuam te instigando, não há por que não repeti-los. Quando a relação acomoda, aí, sim, é melhor mudar. E isso ainda não aconteceu com a Denise", diz ao UOL o cineasta, que afirma não ver lado ruim em estar com a mulher.
“O único stress que pode ocorrer é unicamente por causa do trabalho. Às vezes acontece de a Denise não aceitar fazer uma cena de um jeito, ou eu achar que ela poderia fazer de outro. A gente tem intimidade de falar ‘não gostaria de fazer assim’. Mas isso é muito bom. É uma tensão visceral que faz tudo valer a pena.”
Fazendo coro ao marido, Denise Fraga diz que o comprometimento profissional independe do pessoal, mas que essa dinâmica também tem suas interseções e ironias, assim como em “De Onde Eu te Vejo". Na trama, ela vive uma arquiteta que abandona o sonho de transformar São Paulo para trabalhar como corretora, negociando imóveis que serão demolidos.
“Costumo dizer que, em um casamento de 20 anos como o nosso, você tem que ter criatividade para driblar crises, que vão e voltam. E é exatamente isso que o filme mostra: conseguir olhar para a sua vida e trabalhar a favor dela”, diz a atriz, em tom otimista. “Estou com 51 anos, dois filhos, e ainda sinto que o Luiz e eu estamos aprendendo a transformar as coisas. E é mesma coisa quando estamos filmando.”
Mudança no país
Segundo o diretor e elenco de “De Onde Eu te Vejo”, o grande mote do filme é a mudança, seja ela pessoal, profissional ou apenas metafórica. Todos os personagens, incluindo a jornalista interpretada por Marisa Orth, passam por fases de reconstrução. O que deixa a pergunta: nestes tempos turbulentos na política brasileira, em que vários artistas estão se posicionando sobre a crise, o que deveria ser de fato transformado no país?
“A gente devia trabalhar, primeiro, ‘limpando o quintal de casa’. Mudar nossas atitudes e nossas relações, que estão muito deterioradas. Para mim, esse é o problema mais grave da nossa sociedade. Se falta opção entre os governantes, é que a sociedade não está produzindo essa opção para a gente escolher. Acredito muito no compromisso do cidadão”, diz o ator Domingos Montagner.
A colega Denise Fraga vai na mesma linha, sugerindo o fim do ‘fla-flu’ político. “A gente está tendo muito imaturidade nesse momento. Não podemos ‘jogar o bebê fora com água da bacia’. Queria muito mudar esse extremismo louco que está acontecendo. Eu me sinto uma cidadã abandonada por pessoas envoltas em jogos políticos que não me interessam. Queria uma ‘junta médica’ para mudar o Brasil, não médicos separados”, entende.
“O que mais me incomoda é o nosso déficit de cultura e a educação. Enquanto não investirmos nisso, em professores, escolas, e na formação da cultura, a gente sempre terá problemas. Essa é a grande decepção que tenho tanto do governo do Fernando Henrique quanto dos de Lula e Dilma. Muito mais poderia ter sido feito. Inclusive, pegando esse gancho, o que mais a gente vê hoje é uma profunda falta de educação entre as pessoas”, conclui o diretor Luiz Vilaça.
Se você tem parceiros que continuam te instigando, não há por que não repeti-los. Quando a relação acomoda, aí, sim, é melhor mudar. E isso ainda não aconteceu.
O diretor Luiz Villaça sobre trabalhar com a mulher Denise Fraga
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