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Diretor de "Aquarius" diz não temer "facas afiadas" dos críticos em Cannes

Thiago Stivaletti

Colaboração para o UOL, do Rio

14/04/2016 11h02

Há 17 anos, Kléber Mendonça Filho frequenta o Festival de Cannes como crítico, vendo todos os filmes da Competição e mais uns tantos. Este ano, ele não vai conseguir ver todos os concorrentes à Palma de Ouro, pois vai trocar as exibições de imprensa pela sessão de gala e as entrevistas de "Aquarius", seu novo filme com Sônia Braga, que foi anunciado hoje na concorrida competição do festival.

Diretor de "O Som ao Redor", que estreou num festival de menor peso (Roterdã) mas fez uma carreira internacional excelente, Kléber sabe que a pressão da competição é maior porque gera imensas expectativas em críticos do mundo todo, que, na definição dele, chegam ao festival "com facas recentemente afiadas".

"Mas não posso me preocupar com isso. A primeira coisa é me sentir bem com o filme que fiz. Se apresentasse uma coisa de que não me orgulho, isso sim seria sofrido. E depois sei que em Cannes sempre temos críticas dos mais diversos tipos", disse, em entrevista ao UOL por telefone.

"Aquarius" não ficou pronto sem uma pequena crise no processo. Depois de quatro meses de montagem, vendo e revendo o material bruto diariamente, seis dias por semana - em dezembro, só parou para o Natal -, Kléber diz que não aguentava mais. "Eu já estava numa certa dormência. O filme foi perdendo o sentido para mim."

Foi quando ele recebeu um convite para participar do Júri do Festival de Curtas de Clermont-Ferrand, na França, e ficou 20 dias longe do filme. "Quando voltei, o Eduardo Serrano (montador) tinha mexido um pouco, não muita coisa. Eu vi e falei: 'tá bom, pô!'", relembra, rindo. "No fim, foi um processo menos complicado que 'O Som ao Redor'. 'Aquarius' se construiu mais rapidamente, de uma certa maneira."

Outra grande responsabilidade de Kléber será trazer de volta Sônia Braga aos holofotes - para o mundo, "Aquarius" será o retorno triunfal da Dona Flor do filme de 1976, dirigido por Bruno Barreto.

"É curioso. Desde o primeiro dia de filmagem, a Sônia traz esse arquivo com ela. Mas não tem nada de errado nisso, é uma coisa linda. A ideia de Sônia Braga é a própria ideia do cinema brasileiro. Sei que há muitos atores de quem a câmera gosta, mas como ela eu nunca vi. Com ela entendi o que é essa coisa de ser estrela."

Com a seleção do filme, ele e a mulher, a francesa Emilie Lesclaux, que também é produtora do filme, vão levar para Cannes também os filhos gêmeos de 2 anos de idade.

Além da Vitrine, que vai lançar o filme no Brasil, "Aquarius" terá distribuição internacional da SBS, coprodutora do filme na França. Segundo o diretor, o filme tem recebido propostas de distribuidoras de outros países nos últimos meses, mas tudo será fechado em Cannes, quando o filme finalmente nascer.