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Gloria Pires relembra mulheres fortes no cinema e defende Lei Rouanet

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

21/04/2016 06h00

Maria Moura, Lota de Macedo, Dona Lindu. São muitas as mulheres fortes vividas por Gloria Pires na TV e no cinema, e a atriz agradece todo dia pelo ofício. "Meu trabalho é o melhor do mundo. Fico conhecendo essas mulheres incríveis, realmente inspiradoras”, diz, em entrevista ao UOL.

A partir desta quinta-feira (21), a atriz adiciona ao currículo mais uma personagem marcante, a psiquiatra Nise da Silveira, em “Nise – O Coração da Loucura”, do diretor Roberto Berliner.

Lutando contra procedimentos violentos com pacientes psiquiátricos, Nise descobriu que a arte servia de ponte de comunicação para quem vive aprisionado mentalmente. Um reflexo da própria condição da psiquiatra. Antes, ela havia passado 18 meses presa, durante o Estado Novo, por posse de livros marxistas.

“Isso foi o embrião para a maneira com que ela lidou com a lobotomia, toda a medicação, o eletrochoque”, pontua Glória. “Ela não é um símbolo só para as mulheres, é um símbolo para a humanidade”.

Da índia Put'Koi (em “Índia – A Filha do Sol”, sua estreia no cinema em 1981) a imigrante italiana Pierina (de “O Quatrilho”, filme que concorreu ao Oscar de filme estrangeiro em 1995), a atriz guarda um carinho especial por Lota de Macedo em “Flores Raras”.

Ela descobriu, na história da arquiteta responsável pelo Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, uma veia feminista. “Fui morar no aterro quando pequena, e de vez em quando saia algumas críticas a ela nos jornais. Fundamentalmente, porque era uma mulher, porque ela não tinha uma formação acadêmica e ela era criadora de um parque. As vaidades masculinas ficaram atingidas, e ela foi muito atacada por isso”, defende.

Gloria endossa as pautas feministas no audiovisual, mas admite que não sofre desse mal: “Eu não posso me queixar, tenho tido muita sorte.”

A atriz até hoje se questiona da recepção de uma outra personagem, a de Dona Lindu, mãe do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva em “Lula, o Filho do Brasil”. A cinebiografia lançada em 2009 não deslanchou nas bilheterias e foi maculado por críticas. 

“Nem mesmo o trabalho excepcional de Rui Ricardo Dias [que interpretou Lula] foi comentado. O trabalho daquele menino merecia todos os aplausos. O filme é correto, bonito. Foi, com certeza, prejudicado com outras questões que não tinha a ver com o filme em si”, reclama.

“Cultura é obrigação do governo”

Sem entrar em seara política, como de costume – embora tenha se posicionado contrária ao impeachment da presidente Dilma Rousseff –, ela enxerga que a Lei Rouanet é dever do governo. A ferramenta, imprescindível no audiovisual, tem sido alvo de críticas partidárias, como se seus beneficiários precisassem, como condição, defender o governo.

“Existem leis de financiamento no mundo todo. O que diferencia é o espaço que cada país dá a sua cultura. Todos os benefícios que a cultura recebe, que o povo recebe, é devido. Isso é obrigação do governo. A cultura faz parte de um povo, e cinema é cultura”, rebate.

Em entrevista ao UOL, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, diz que nunca houve conotação política na Lei Rouanet: "Os conservadores captam muito mais que as pessoas engajadas. Os mais militantes, emergentes, não são os maiores captadores."

Recentemente, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que eventos culturais com “potencial lucrativo” ou que “possam atrair investimento privado” de receber incentivos fiscais por meio da Lei Rouanet serão proibidos.