"Prova de Coragem" é recriação do diretor sobre livro de Daniel Galera
O filme "Prova de Coragem", que chega aos cinemas nesta quinta (5), é a adaptação de “Mãos de Cavalo”, um dos romances mais importante de Daniel Galera – que, por sua vez, é um dos autores mais festejados de sua geração. Dez anos após seu lançamento, a obra ganha uma versão para o cinema pelas mãos do diretor Roberto Gervitz (“Jogo Subterrâneo” e “Feliz Ano Velho), também responsável pelo roteiro do longa.
A história apresenta Hermano, interpretado por Armando Babaioff, um médico de 35 anos que gosta de escalar montanha nas horas vagas e planeja uma expedição para a Terra do Fogo, no sul da América, a fim de atingir o cume de uma das montanhas mais altas e perigosas da região.
No entanto, a gravidez de Adri (Mariana Ximenes), sua mulher, uma artista em busca de algum espaço em seu meio, acaba por alterar drasticamente a vida do casal. O próprio Hermano não aceita bem a ideia de ser pai e, apesar da esposa estar exposta a riscos por conta da criança que carrega na barriga, destina seu tempo livre ao projeto de escalada – desde a infância testar os limites faz parte de sua personalidade, como descobrimos em flashbacks.
Um livro é sempre um ponto de partida. Galera é um escritor de talento, rigoroso, que pensa como um escritor deve pensar: literariamente. O cinema é outra linguagem e portanto a palavra 'adaptação' é algo que não se aplica, pois tratam-se de duas linguagens muito distintas entre si
Justamente por isso que o título de original de Galera, que se transformou em um romance com certo renome na literatura nacional contemporânea, não foi mantido. “'Mãos de Cavalo’', apesar de ser um belo título, refere-se ao apelido do personagem principal na adolescência – fase da vida que no livro ocupa um espaço bem maior do que no filme, que se passa mais na fase adulta do protagonista, além de ser um título que é bastante hermético, que pode sugerir algo muito distante do que está no filme. Considero 'Prova de Coragem' um título mais provocativo e sugestivo em relação às questões presentes no filme, além de ter uma leitura mais rápida para aqueles que não leram o livro, que é a maior parte do público”.
Adaptação
Gervitz conta que o maior desafio foi realizar o roteiro, já que o discurso principal de “Mãos de Cavalo” acontece na cabeça do protagonista, com a história sendo revelada por meio de um grande flashback que repassa a adolescência de Hermano.
O texto que criou para o filme privilegia a fase adulta do personagem, com o passado apenas pontuando o que acontece no presente. “No processo de criação a questão da paternidade masculina surgiu com força, vinda de algum lugar guardado no meu inconsciente. Também sentia falta no livro de um desenho mais complexo das personagens femininas, às quais me dediquei bastante na escritura, pois têm papel essencial na transformação de Hermano”, explica o diretor.
O próprio Galera comenta a maneira que Gervitz lidou com seu livro. “A gravidez da Adri, por exemplo, ganha outro lugar na história, se tornando eixo dos conflitos do casal protagonista na narrativa. A crise conjugal se torna um dos temas principais. Os papéis femininos se ampliam e se modificam no filme.
São várias diferenças. Mas a crise de identidade de Hermano ainda está ali, seus dilemas de responsabilidade, os acertos com o passado”, analisa.
O autor
Para o escritor Daniel Galera, a missão de uma adaptação não é agradar ao autor do livro. "Leitores do romance vão reparar as mudanças e talvez estranhar várias coisas. Mas vale a pena prestar atenção no que o filme traz de diferente. Ele tem ótimas atuações, mostra uma Porto Alegre bastante fiel aos cenários do romance e está cheio de detalhes ricos e nostálgicos, dos LPs do Engenheiros do Hawaii até as cenas gravadas na orla da praia do Lami”, explica.
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