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Hiper-realista, filme sobre José Aldo dispensou dublê e teve sangue real

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

16/06/2016 06h00

Quando decidiu fazer "Mais Forte que o Mundo", cinebiografia do lutador de MMA José Aldo que chega aos cinemas nesta quinta-feira (16), o diretor Afonso Poyart já tinha em mente a dinâmica para o filme. As cenas de luta precisavam ser reais, ou o mais próximo possível disso. Nada do balé plástico e coreografado de filmes como "Rocky" e "Touro Indomável". A porrada tinha de comer solta.

"Assist a vários filmes de luta antes, e sempre achei tudo muito coreografado. Eu queria que as lutas no filme parecessem um documentário de luta. Com coreografia mais 'suja', como se eu tivesse ligado a câmera no meio de uma luta do UFC. O que me orientou foi a obsessão pela realidade", diz ao UOL Poyart, que se inspirou nos filmes "Warrior - Combate Entre Irmãos" (2011) e "Operação Invasão" (2011).

Essa obsessão do cineasta pode ser vista em uma intensa cena logo no início do filme, quando um bar real é inteiramente destruído por José Aldo (José Loreto) em uma briga furiosa com dois provocadores. O ator dispensou o dublê --que apareceu apenas como figurante--, colecionando hematomas e pequenas lesões pelo corpo. Não seriam as últimas.

Em um dos momentos mais emotivos da trama, em que seu personagem confronta a mãe vítima de violência doméstica, ele surpreendeu a produção ao quebrar por conta própria, com um soco, um dos espelhos do cenário. A lesão na mão trouxe sangue real à tela. Em outra cena, o ator passou mal e chegou a vomitar no set.

Quero que qualquer lutador me veja e diga: ‘ele me convence. Ele seria um lutador da minha academia'.
José Loreto, que vive José Aldo no cinema

"Tomei soco, tomei chute, cotovelada. Tinha coreografia, mas também muito improviso. Estou dolorido até hoje", brinca o ator, um faixa preta de judô que aprendeu a lutar MMA treinando quatro horas por dia. De outubro do ano passado a maio deste ano, ele também teve de cortar álcool e carboidratos da dieta, como pão, massa e feijão. "Nunca tive problemas com peso e por ter diabetes tipo 1 há 16 anos, minha alimentação sempre foi saudável". 

Resultado da aventura hiper-realista: um pé torcido e apenas 2% de percentual de gordura corporal. "Eu quero que qualquer lutador me veja e diga: 'ele me convence. Ele seria um lutador da minha academia'", diz Loreto, que conheceu e pegou dicas com o próprio José Aldo, que se disse impressionado com o ator.

Se não reproduzem à perfeição as lutas reais, as cenas trazem movimentos que são marca registrada do lutador peso pena. A supervisão ficou a cargo do treinador Fabiano "Boxer", da academia gaúcha de MMA Boxer. "Durante um mês passamos também pela preparação de elenco com a Fátima Toledo, e era muito intenso. Ela tirou uma raiva genuína de dentro de mim, que eu nunca tinha colocado para fora", conta Loreto.

Cléo Pires, que interpreta Viviane, par romântico e parceira de Aldo em sua academia no Rio, também não saiu ilesa. "Eu tive menos machucados que o Loreto, mas tive dores musculares. Às vezes dava uma travada. Muito roxo".

"Isso porque a Cléo é resistente. Às vezes, nas cenas em que a gente tinha de lutar, eu a jogava no chão e dava um 'outigari' [golpe do judô], e a gente caía mesmo. Não tem como dar um golpe e ficar segurando. Aprender a cair é fundamental. E esse filme fala muito disso."