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Após 20 anos, Goldblum volta a Independence Day: "É como ficar viajandão"

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, em Nova York (EUA)

22/06/2016 17h25

A conversa se repetia em um intervalo mais ou menos frequente de seis meses, quase sempre pelo telefone. O ator Jeff Goldblum, o às do M.I.T. David Levinson de "Independence Day", sempre arrumava um jeito de cobrar o amigo Roland Emmerich, diretor alemão radicado em Los Angeles: "Quando é que você vai criar coragem e fazer a sequência do filme?". O resultado pode ser visto a partir de quinta-feira (23) nos cinemas brasileiros. Quase 20 anos depois de o original estrear nos cinemas americanos, "Independence Day: Ressurgimento" dá prosseguimento à história da época invasão extraterrestre duas décadas depois da vitória dos terráqueos contra os invasores.

Protagonizado por Will Smith, Goldblum e Bill Pullman, o primeiro "Independence" quebrou recordes e se tornou, em sua época, a segunda maior bilheteria do cinema americano. O novo filme tem um orçamento bem mais robusto do que os US$ 75 milhões do original, estimado em US$ 200 milhões, com efeitos especiais de primeira linha, mas sem o salário polpudo de Will Smith, que recusou o convite de Emmerich para retomar a história do piloto Steven Hiller. Em "Ressurgimento" descobre-se que Hiller morreu em um acidente e a atenção do espectador se volta para novos personagens, encarnados por, entre outros, Liam Hemsworth, Charlotte Gainsbourg e Maika Monroe.

Jeff Goldblum - Divulgação - Divulgação
Jeff Goldblum em "Independence Day - O Ressurgimento"
Imagem: Divulgação

Goldblum conta que, quando começaram a filmar a sequência --um terceiro filme já está no forno-- no ano passado, no Novo México, os atores Goldblum, Pullman e Emmerich começaram a ter flashbacks do primeiro filme e a emoção foi inevitável. O ator de 63 anos, celebrizado pelo Seth de "A Mosca", de 1986, conta que, ao contrário de Smith, aceitou a missão de retornar ao universo criado por Emmerich em 1996 de bate-pronto. Ou, para ser mais exato, em conversa por telefone com o UOL, "assim que tive certeza de não estar caindo numa pegadinha do Roland".

UOL - Como foi o primeiro dia no set de "Ressurgimento"?

Jeff Goldblum - Estava impaciente, profundamente energizado e agradecido por poder fazer parte deste filme. Era meio assim: se tivesse sido apenas por minha vontade, isso já teria acontecido há tempos. Eu toco piano todos os dias, algo que amo. Mas atuar em um filme com uma história incrível, vivendo um personagem genial, é raro.

Mais raro ainda voltar a um personagem que o senhor viveu pela última vez há 20 anos...

Sem dúvida. Um personagem que, com o passar dos anos, cresceu em popularidade, ganhou ainda mais dimensão na cultura popular. As pessoas me perguntavam o que eu achava que havia acontecido com ele. Bem, agora, eu posso de fato responder. Tenho uma afeição genuína por ele. E não é que o Roland inventou de me convidar a Charlotte Gainsbourg para entrar na franquia?

O senhor é fã dela?

Devoto. Adoro os filmes que ela fez com o Lars Von Trier. Ela é maravilhosa. Ela dá shows em "Melancolia", "Ninfomaníaca" e "Anticristo". Estar com ela no set fez eu me sentir meio como se eu estivesse indo à lua todos os dias em que entrava no carro para ir ao trabalho, sabe? E minha mulher engravidou no meio das filmagens e foi naquela emoção toda que tive meu primeiro filho. E adivinha qual era o dia esperado para o nascimento dele?

4 de julho...

Bingo! (risos). E ele nasceu no dia 4.

Durante as filmagens o senhor teve, com o perdão do termo, flashbacks da produção original?

(Rindo muito) Oh, yeah, man! (rindo mais) Foi um déjà vu bem louco. Nunca havia voltado a um personagem, de corpo e alma, depois de tanto tempo. É como ficar viajandão em cena, porque há o jeito de ele falar, de ele pensar, e você vai lembrando de tudo aos poucos, mas de forma orgânica.

E onde vamos encontrar David, seu personagem, agora?

É preciso lembrar primeiro que, lá atrás, no original, ele foi levado a tomar parte em algo muito maior do que ele jamais imaginou protagonizar, foi um herói circunstancial. Depois de ajudar a salvar o mundo, ele foi, digamos assim, promovido, virou diretor do programa especial de Defesa Espacial, voltado para nos prepararmos para uma nova, e aparentemente inevitável, invasão. Ele é uma das mentes que aprende a lidar com a tecnologia alienígena, não apenas para reconstruir o planeta e enfrentar os problemas ambientais da Terra como para criar nossos novos armamentos.

No set, o senhor sentiu a diferença destas duas décadas no amadurecimento dos efeitos especiais, um dos pontos altos do primeiro filme, que venceu o Oscar da categoria?

Ah, sim. Este se aproxima mais dos filmes mais recentes do Roland, como "2012". A possibilidade de se pré-visualizar as sequências de ação, devido ao uso de C.G.I., ajuda muito tanto ao Roland, claro, mas a nós atores também, porque imagina com mais precisão. É divertidíssimo e você pode ver, de antemão, o embrião do espetáculo que só se concretizará mesmo na ilha de edição. Eu gostei muito.

O filme segue os eventos fictícios da primeira invasão, em 1996 e trata de um período de Entre-Guerras em que a humanidade não tem outra saída: se vê forçada a unir esforços à espera do ataque de um inimigo comum. O caráter apocalíptico, no entanto, remete o espectador ao mundo real, tanto pelos já mencionados problemas ambientais quanto à inevitabilidade do terrorismo?

Sim. No mundo da ficção deste universo imaginado por Roland não houve 11 de Setembro. O apocalipse é outro. Mas também procura mostrar como nós, humanos, lidamos com a questão da sobrevivência. Trata da capacidade que temos de nos destruir rapidamente, provavelmente mais facilmente do que nunca antes na história. E, por outro lado, todos nós sabemos, que a vida é rara e pode acabar a qualquer momento. Para todos nós. Viver uma vida boa deve ser nosso objetivo. O filme nos faz voltar a questões existenciais: se este fosse seu último dia, sua última hora, o que você faria, como você as viveria? No que a sua vida, a sua trajetória, ajudou o outro, o seu semelhante? Qual o nosso papel na galáxia, no universo? Importa? Quem somos, para onde vamos? (risos).

Já há um terceiro filme sendo gestado. O senhor gosta da ideia de estar no centro de uma nova franquia?

"Ressurgimento" tem uma conclusão muito clara, não é aquela coisa com final aberto, isso é importante dizer. É possível ver este filme e entender seu conceito sem ver o original, mas é claramente uma sequência e, sim, a história tem tudo para seguir adiante. Só espero que o terceiro capítulo seja concretizado em um intervalo de tempo mais curto desta vez (risos).

O senhor sentiu falta de Will Smith durante as filmagens?

Claro, eu o adoro. Em 1996 nos divertimos muito no set. Mas acho que a história, tal qual Roland e o estúdio imaginaram, estava ligada à apresentação de uma nova geração. E com um conflito específico pensado a partir da morte do personagem do Will. E mais não falo (risos). Mas sim, claro, Will sempre faz falta.