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A pior cantora de ópera do mundo: quem foi Florence Foster?

Mariane Zendron

Do UOL, em São Paulo

29/06/2016 11h11

A noite de 25 de outubro de 1944 foi histórica no Carnegie Hall, uma das casas de espetáculo de mais prestígio de Nova York. Uma multidão estava em busca de ingressos para a apresentação da soprano Florence Foster Jenkins. Estima-se que cerca de 2.000 pessoas ficaram para fora --o que é quase a lotação da casa, de 2.800 pessoas.

A fama da cantora de ópera já havia se espalhado por toda a cidade e não exatamente por seu talento, mas pela falta dele. Florence era considerada "a pior cantora de ópera do mundo". Também ficou conhecida como a diva do grito, quase uma MC Melody de sua época. Sua história chega agora aos cinemas em dose dupla: a adaptação francesa "Marguerite", que já está em cartaz, e "Florence: Quem é Essa Mulher?", que estreia em 8 de julho, essa última protagonizada por Meryl Streep e já cotado para o Oscar.

Florence Foster Jenkins, a "pior cantora do mundo" - Reprodução - Reprodução
Florence Foster Jenkins, a "pior cantora do mundo"
Imagem: Reprodução

O mais incrível da história é que Florence não tinha ideia de sua fama ao contrário. O marido dela, St. Clair Bayfield, a protegia de comentários maldosos e, com exceção da noite no Carnegie Hall, Florence só cantava para amigos em festas beneficentes. Como o casal era muito rico e financiava eventos de música, não foi difícil conseguir uma apresentação exclusiva no Carneggie Hall, mas o poder da cantora ia além do dinheiro. Ela era realmente amada pela falta de talento.

Meryl Streep conta que essa história é tão fascinante não por ser somente uma cantora com incrível talento para errar as notas. "Quando você ouve os áudios de Florence, é possível ouvir sua respiração, apesar de errada. O desejo, o amor pela música está lá. Não era só uma péssima cantora. Era uma péssima cantora com coração", disse a atriz em um vídeo promocional do filme.

A noite do Carnegie Hall não foi só histórica pela graça daquela mulher desafinada. Em outubro de 1944, a Segunda Guerra se encaminhava para um desfecho. Depois de tantas tragédias, a apresentação trouxe alegria para aquelas pessoas. Os aplausos e amor foram genuínos por boa parte da plateia.

O segredo foi mantido por seu marido até aquela noite histórica. No dia seguinte, todos os jornais denunciavam o motivo de tanto sucesso, e só aí Florence descobriu o que o público realmente achava dela. A cantora morreu dias depois de um ataque cardíaco, dizem que de tristeza pelas resenhas negativas que leu nos jornais.

Além da plateia presente no Carnegie Hall, ela também cativou alguns famosos, como Cole Porter, o tenor Enrico Caruso e até David Bowie, que era apaixonado por seu "entusiasmo". Darryl W. Bullock, autor da biografia de Florence, diz que ela foi, sobretudo, uma inspiração. "A história dela é a ideia de que qualquer um pode alcançar seus objetivos, desde que acreditem em si mesmos", disse o autor em entrevista à BBC.