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UOL pega carona com Caça Fantasmas em missão para achar fantasma nazista

Felipe Branco Cruz

Do UOL, em Monte Alegre do Sul (SP)

14/07/2016 06h00

Quando tinha seis anos, Rosa Maria Jaques, 67, pediu apavorada para a sua mãe retirar o quadro de Jesus Cristo do quarto. Enquanto estudava, conta ela, a imagem se movimentou em sua direção, balançou a cabeça, sorriu e piscou. Naquele dia, embora não soubesse, a vidente teve a sua primeira experiência paranormal, que só seria completamente entendida anos depois.

Foi só depois de sofrer muito preconceito e ouvir deboches de representantes de diversas religiões que Rosa disse ter descoberto a sua verdadeira vocação: caçar fantasmas. Autointitulada vidente, sensitiva e telepata, ela viaja o Brasil em busca de assombrações, sempre ao lado do marido, o publicitário João Tocchetto, 55. Eles se rotulam como os legítimos caça-fantasmas brasileiros e afirmam terem se inspirado nos personagens do filme homônimo de 1984.

A reportagem do UOL aproveitou que um novo filme dos “Caça-Fantasmas” (desta vez só com mulheres) estreia nesta quinta-feira (14), para visitar o QG do intrépido casal, em Monte Alegre do Sul, a 150 km de São Paulo. A visita coincidiu com mais uma missão dos caça-fantasmas brasileiros: a investigação de uma provável influência espiritual de um nazista que teria morado em um casarão abandonado na cidade vizinha de Serra Negra.

"Digo para essas pessoas [céticas]: 'depois que você morrer, a gente conversa melhor'"
Rosa Maria Jaques, caça-fantasma

Antes, fomos recepcionados pelo casal em sua casa, construída toda em madeira no alto de uma colina. Embora a construção seja uma das mais antigas do lugar, não encontramos por lá nenhum ectoplasma verde e dentuço, muito menos armas de raios de prótons ou armadilhas para prender espíritos. “Não se prende nem se afronta os fantasmas. Você precisa libertá-los deste mundo. Senão eles se retroalimentam”, explicou Rosa.

O casal Rosa Maria Jaques e João Tocchetto em frente a sua casa, em Monte Alegre do Sul (SP) - Rodrigo Ferreira/UOL - Rodrigo Ferreira/UOL
Rosa e João em frente de casa
Imagem: Rodrigo Ferreira/UOL
Ao invés disso, encontramos diversas geringonças compradas na Amazon - por aproximadamente R$ 20 mil - que são guardadas no porão da casa. São equipamentos como pistola termômetro, almofada térmica, gaussímetro (medidor de campo eletromagnético), ghost-meter (medidor de fantasmas) e câmeras de visão noturna que auxiliam o casal em busca pelo sobrenatural.

Sensibilidade feminina

Diferentemente do filme, o casal não viaja para os lugares a bordo de um Ecto1 (o clássico carro dos Caça-Fantasmas) e sim em uma Parati (2005) preta decorada com caveiras e crucifixos. Rosa, no entanto, aponta a presença de mulheres no elenco principal do novo filme como uma qualidade. “A maioria dos homens são criados para não chorar, para serem brutos e isso prejudica a sua sensibilidade”, explica. “A sensibilidade feminina permite às mulheres perceberem com mais facilidade a presença de assombrações”.

Se no filme a equipe cobra para caçar fantasmas, na vida real, o casal não cobra nada para espantar os tinhosos. A fonte de renda deles vem de consultorias especializadas para empresas, por R$ 600 a hora, que incluem palestras e previsões de negócios feitas por Rosa.

Os dois garantem que fazem um trabalho sério embora sofram preconceito. “Depois que decidimos assumir o nome de ‘Caça-Fantasmas Brasil’ o deboche diminuiu”, diz João, que parafraseou a música tema do filme. “Se tem alguma coisa estranha na vizinhança, para quem você liga?”.

Rosa não gosta das brincadeiras. “Quando alguém me critica, digo que não pedi a opinião”, esbraveja. “Digo para essas pessoas: ‘depois que você morrer, a gente conversa melhor’. Não somos ligados a nenhuma religião. Não fazemos julgamentos”, completa a investigadora paranormal.

Em ação

No casarão abandonado, onde os caça-fantasmas brasileiros foram cumprir mais uma missão, teria vivido o suposto nazista Gunther Schouppe, amigo do anjo da morte, Josef Mengele. O lugar é isolado do centro de Serra Negra e fica entrincheirado em um vale. A imponente construção, há anos abandonada, parece ter saído de um filme de Alfred Hitchock.

O casarão possui vários quartos e no topo há uma torre de observação de onde é possível ver todas as entradas da propriedade. Do lado de fora, há uma piscina de 12 metros de extensão por três de profundidade. Uma outra piscina aquecida, com as mesmas dimensões, também foi construída no subsolo. Ali embaixo, também há um vestiário que se transformou em um imenso ninho de morcegos. O clima ficou ainda mais sinistro quando os animais iniciaram uma revoada digna do filme do Batman no momento em que os investigares paranormais entraram lá.

Mas a apreensão começou antes mesmo de entrarmos na casa. Rosa sentiu uma forte pressão no coração. “Parece que estou indo para o inferno”, revelou. Munidos com diversas câmeras e os instrumentos de trabalho, os dois circularam pelo lugar em busca de emoções impregnadas no ambiente. “Não estamos encontrando nada”, disse Rosa, justificando que a visita estava sendo feita durante o dia. “O ideal é trabalharmos a noite, porque a vibração dos vivos atrapalha o contato com os mortos”.

Por volta da meia-noite, o casal voltou à mansão, mas novamente não encontrou nada. Rosa disse que sentiu o clima pesado e tenso do lugar, mas que por lá não havia nenhuma alma penada. “Nem sempre encontramos fantasmas”, lamentou.

Problemas com vivos

Rosa costuma dizer que tem medo dos vivos, não dos mortos. De fato, o maior problema que eles enfrentaram ocorreu em 2010, quando passaram oito dias presos em Brasília. Na ocasião, eles investigaram o assassinato de José Guilherme Villela, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, de sua mulher, Maria, e da doméstica Francisca Nascimento. Rosa disse para a polícia onde estava a chave do apartamento das vítimas e três pessoas foram presas. A polícia, no entanto, desconfiou que a prova tenha sido plantada no lugar. Os dois foram acusados de atrapalhar as investigações, mas depois foram considerados inocentes.

“Aquilo foi uma confusão danada”, lembrou João. “Na cadeia, Rosa deu consulta para todos os presidiários. Ela só se negou em ir até a ala dos presos de alta periculosidade, acusados de estupros e assassinatos. O clima era pesado demais”, completou o marido. De fato, tem muitos vivos por aí bem piores do que os mortos.