Era um homem franco, corajoso e contundente, diz Tony Ramos sobre Babenco
O velório do cineasta Hector Babenco, que morreu na quarta-feira (13), aos 70 anos, começou por volta das 9h desta sexta-feira (15), inicialmente reservado à família, na Cinemateca Brasileira, na região do Ibirapuera, zona sul de São Paulo. A viúva do cineasta, Bárbara Paz, foi uma das primeiras a chegar. Por pedido de Bárbara, a imprensa não pode acompanhar o velório.
Myra Arnaud Babenco, filha do cineasta com a galerista Raquel Arnaud, contou que o pai havia feito duas cirurgias recentemente e estava com a saúde fragilizada. "O coração dele não aguentou", disse, sobre a parada cardiorrespiratória que causou a morte do diretor.
A atriz Cris Nicolotti, que se tornou amiga e confidente de Bárbara quando interpretou sua mãe na novela "Viver a Vida" (2009-2010), relembrou a história do relacionamento dela com Babenco. "Eu fui uma ouvinte muita íntima dessa história de amor dela. Ela é uma mulher muito forte, ela lutou muito pelo Hector --ele tinha uma personalidade forte, não era uma florzinha de homem, era um homem muito duro. E era o amor da vida dela. Então, ela acaba de perder o parceiro, o companheiro, o diretor. Tinha também uma figura paterna para ela, por ela não ter pai e mãe. E era o homem que ela escolheu. Fica realmente um buraco que vai demorar um pouco para curar. É hora de dar colo para ela".
O ator Tony Ramos, o cineasta João Batista de Andrade, a novelista Maria Adelaide Amaral, a atriz Tuna Dwek, a senadora Marta (PMDB-SP), o cônsul da Argentina em São Paulo Diego Malpede, o ex-senador Eduardo Suplicy, o apresentador Serginho Groisman e a diretora de teatro e cinema Monique Gardemberg foram alguns dos que compareceram para prestar as últimas homenagens ao cineasta.
Tony Ramos destacou a franqueza e a coragem do cineasta. "A sinceridade de Hector, a franqueza absoluta, a determinação [são suas características marcantes]. Ele jamais mascarava o que ele sentia, ele dava indicações para o ator, mesmo a gente não dirigidos por ele, era produção dele. Ainda assim, ele vinha sempre com uma dica amável, bem-humorada. Mas era um homem contundente, um homem criativo, um homem como tem que ser, de palavra, corajoso, e tudo era dito na frente, isso que era importante nele. E ele merece todas as homenagens", disse o ator, que teve uma peça produzida por Babenco em 1993, "A Morte e a Donzela", que também tinha no elenco Xuxa Lopes, à época casada com o diretor. "Sempre tivemos uma boa e velha camaradagem, uma boa velha amizade", contou.
"Era um companheiro da maior importância para o país, não só para nós, uma categoria. A sua obra é para sempre e há que se entender que esse corpo está indo embora, mas essa alma e essa presença criativa forte está presente na sua obra, está presente o tempo inteiro", completou.
A atriz Tuna Dwek, que atuou no último filme de Babenco, "Meu Amigo Hindu", lembrou da experiência e também apontou a autenticidade do cineasta. "Parece uma coisa premonitória. Dentro do filme, o cineasta interpretado pelo Willem Dafoe [que luta contra um câncer] diz: 'eu só queria ter tempo de fazer mais um filme'. Ele é um pouco o alter-ego do Babenco. E ele tinha mais um filme para fazer, e não deu tempo", conta, lembrando que o cineasta tinha o projeto de um longa com o título "Cidade Maravilhosa", que não chegou a filmar. "Eu sempre falo que o Hector te via. Ele era uma pessoa genuína, autêntica. Se estava bem, estava bem, Se não estava bem, ele não ficava fazendo de conta. Era muito bom trabalhar com uma pessoa assim, porque você sabia onde estava pisando. Era um cara que adorava os atores, respeitava o nosso trabalho e dava muita liberdade de criação pra gente. Era um cinema muito libertário. E esse último filme é o único dele que tem um final feliz, muito solar. E ele tinha esse sol dentro dele. Tenho muita honra de ter tido o privilégio de trabalhar na última obra dele", completa.
O cineasta João Batista de Andrade, presidente da Fundação Memorial da América Latina, apontou que o cinema de Babenco tinha uma característica singular dentro do cinema brasileiro. "É uma perda grande, inesperada, embora ele estivesse doente há algum tempo. Mas ele estava bem, fez um filme bom, muito autoral, muito baseado nele mesmo. E o Babenco tem uma presença muito importante na história do cinema brasileiro. Argentino, eu o conheci logo que ele veio para o Brasil, com uma carga muito do cinema americano, de um cinema mais clássico. E isso criou uma carreira muito particular dele, atravessando os vários períodos do cinema brasileiro. E uma coisa importante: com sucesso. E que mostra que a temática social, das dificuldades do brasileiro, são temas que interessam ao público. Filmes como 'Pixote', 'Carandiru', 'Lúcio Flávio' tiveram um público enorme, e com temas fortes. Mas eu acho que essa formação dele, do cinema mais clássico, na tradição do cinema argentino, fez com que a carreira dele tivesse uma singularidade dentro do cinema brasileiro, que transita muito em vários formatos".
"O Babenco foi um grande realizador e as realizações dele são imortais", disse o diretor teatral José Possi Neto, amigo do cineasta. "E através dessas realizações, ele é imortal. E ele permitiu que várias pessoas se tornassem imortais através dessas imagens. Então ele vai continuar nos influenciando. É sempre triste dizer adeus, perder o convívio. Ele era muito provocador, uma pessoa muito importante na minha carreira. Um artista tenta transformar a vida numa festa, e ele fez da vida dele uma festa, com muita luta, então a gente tem que festejar a vida dele".
A atriz Rita Cadillac lembrou que se encontrou com o cineasta em abril e sentiu que estava se despedindo dele na ocasião. "Ele estava mais magro, estava andando um pouco mais lentamente, falando bem, mas bem mais abatido, cansado. Pode ser que eu tenha uma sensibilidade muito grande que eu senti que ele não estava bem". Ela disse que Babenco falava para ela que queria vir Rita Cadillac na próxima encarnação. "Ele já está a caminho para voltar como Rita e eu volto como Hector", brincou.
Cremação
O corpo de Babenco deixou a Cinemateca Brasileira sob forte aplauso dos presentes por volta das 15h30. Pouco antes, a ex-mulher do cineasta, a galerista Raquel Arnaud, teve uma variação de pressão e precisou de atendimento médico. Ela foi levada para uma ambulância, estacionada em frente à Cinemateca, onde foi medicada. O corpo seguiu para cremação no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra.
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