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Com olhar sensível, "Entre Idas e Vindas" busca ser autoral e popular

Ingrid Guimarães e Fábio Assunção em cena de "Entre Idas e Vindas" - Reprodução - Reprodução
Ingrid Guimarães e Fábio Assunção em cena de "Entre Idas e Vindas"
Imagem: Reprodução

Carlos Minuano

Colaboração para o UOL

20/07/2016 12h24

Depois de muita ação, pancadaria e tiros no longa “Alemão”, sucesso comercial sobre a vida barra-pesada na favela carioca, que levou quase um milhão aos cinemas em 2014, o diretor brasiliense José Eduardo Belmonte queria fazer um filme mais amoroso. Para isso, decidiu por o pé na estrada. O resultado está em “Entre Idas e Vindas”, que estreia nesta quinta (21). Com olhar sensível e elenco famoso, o “road movie” busca ser autoral e popular ao mesmo tempo.

Com Ingrid Guimarães, Fábio Assunção, que contracena com o filho, João (de 13 anos), e as atrizes Alice Braga, Caroline Abras e Rosanne Mulholland, o longa conta a história de pessoas comuns, e dos inevitáveis encontros e desencontros da vida. A ideia, segundo Belmonte foi homenagear gêneros que colaboraram em sua formação como cineasta, os filmes de estrada e as comédias italianas.

“São gêneros que não fogem de histórias mais dramáticas, e de se aprofundar nelas, mas sem deixar de fazer rir, e tudo isso de uma maneira acessível e comovente”. O elenco eclético e afinado ajudou um tanto na empreitada, garante o diretor. “Foi difícil, mas pegamos pessoas com experiências variadas, de outros tipos de filmes, que conseguiram uma harmonia muito grande no set”.

Com quatro mulheres no elenco principal, não é de se espantar que o filme tenha um olhar feminino sobre as relações, mas é também generoso, sobretudo em relação ao universo masculino. A estrada do filme une quatro amigas viajando em um motorhome. Logo no início da viagem, elas dão carona a pai e filho, que a bordo de um velho Lada, que não suportou a viagem, seguiam ao encontro da mãe do garoto, que há anos havia abandonado ambos. 

Nuances de personalidades vão se revelando ao longo da estrada, sobretudo dos personagens masculinos, que se revelam frágeis.

Ativista assumida do protagonismo da mulher, a atriz Alice Braga defende o caminho seguido pelo filme. “Achei muito bacana o personagem masculino ter a chance de também ser sensível. O mais legal no filme é que conseguimos contar histórias de pessoas comuns, isso extrapola a questão do gênero”, diz a atriz. “As pessoas são frágeis, independente do sexo que elas têm”, observa Fábio Assunção. “É uma bobagem achar que homem não pode ser sensível, se emocionar”, defende o ator.

Na realidade, a questão de gênero passa às margens da estrada do filme, o verdadeiro eixo dramático de “Entre Idas e Vindas” está na busca pelo encontro consigo mesmo, na tentativa de um acerto de contas com a vida. Do ponto de vista do diretor, o caminho do longa teve ainda outra procura. “Quero ser autoral e popular ao mesmo tempo”, revela Belmonte.

Filme em trânsito

“O movimento transforma”, diz Belmonte. A frase “clichê de redes sociais”, como define o diretor, encaixa-se perfeitamente na história de seu novo filme. “O confronto amadurece”, completa. Para Ingrid Guimarães foi exatamente o que aconteceu. “Sempre fiz filme de fora para dentro, neste caso ocorreu o oposto, foi de dentro para fora”.

É um filme "encantador", sobre nada e sobre tudo, analisa a atriz. “São histórias internas que vão se misturando, pequenos dramas que se tocam e se transformam, nada muito importante mas ao mesmo tempo de muita relevância, e com uma simplicidade que encanta”. Segundo Ingrid, fazer o filme em trânsito fez toda a diferença. Foram 14 dias de estrada, filmando em vários lugares, e sem voltar para a casa. “Qualquer viagem sempre mexe com a pessoa de alguma maneira, porque olhamos o mundo de longe e os problemas de perto.”

“É um filme sobre transformação”, concorda Assunção. “A viagem que o pai faz com o filho tem relação com uma perda, um desencontro com a mãe do garoto, depois a partir do carro quebrado e o encontro com as meninas começa uma fase de encontros, mas que logo se transforma também em desencontros”. Para o ator é essa a característica do “road movie”: o trânsito. “Nossa vida é assim, estamos sempre indo de um lado para outro, encontrando e se despedindo de pessoas, e isso transforma.”
      
Outra novidade do filme, aliás, ficou por conta do João, filho de Assunção, em um filme pela primeira vez, e junto com o pai. “Foi comovente ver o amor entre eles”, declara Belmonte. Mas, apesar dos elogios à desenvoltura do menino, por ora, o adolescente garante que foi só uma experiência. “Não sei se vou ser ator”, diz. Para Assunção, a boa performance do filho foi bastante motivada pela ajuda que recebeu do elenco feminino. “Elas agarraram ele logo que chegamos, eu acabei sobrando no começo”.